Star Wars Visions vai reacender sua paixão por esse mundo com Volume 2 ainda melhor - Crítica do Chippu

Star Wars Visions vai reacender sua paixão por esse mundo com Volume 2 ainda melhor - Crítica do Chippu

Com nove curtas feitos pelos melhores estúdios de animação do mundo, série animada se supera na segunda temporada

Guilherme Jacobs
3 de maio de 2023 - 9 min leitura
Crítica

Há uma urgência e um alívio no segundo volume de Star Wars Visions. A série de antologia que fez sucesso em 2020 com nove curtas-metragens de diferentes estúdios japoneses retorna nesta quinta-feira, 4 de maio, ao Disney+, dessa vez trazendo episódios feitos por casas de animação do mundo todo. A urgência vem da percepção clara de que muitos dos animadores, diretores e roteiristas envolvidos no processo têm essas histórias guardadas há anos. Eles só estavam esperando a chance de contá-las. O alívio vem justamente porque essa chance chegou.

O primeiro volume de Visions foi, de certa forma, uma resposta de Star Wars ao país cuja cultura e cinema inspiraram George Lucas a criar a galáxia muito, muito distante; a herança de samurais e Akira Kurosawa enfim representada por artistas da terra do sol nascente. Ela foi, também, um grande playground. Aqui, havia liberdade e espaço para criar aventuras e visuais que não teriam lugar dentro do projeto da Lucasfilm. Com sua segunda temporada — novamente composta por nove curtas inspirados na mitologia de Star Wars mas fora do cânone — essa característica lúdica e até certo ponto experimental se torna ainda mais presente.

Entre CGI, desenhos feitos à mão e stop-motion, entre vozes negras, asiáticas e todo tipo de sotaque (se puder, assista legendado, a dublagem merece), há histórias sobre aprendizes de Sith, sobre futuros Jedi, sobre mineradores de cristais kyber e várias vítimas do regime imperial. Há, também, uma paixão brilhando com a luz de mil sabres por esse mundo.

Star Wars tem, como qualquer outra marca, uma legião de fãs chatos (especialmente na internet), mas a franquia também conquistou as mentes de milhares de pessoas agora envolvidas no mundo do entretenimento que, quando crianças, se fascinaram pelo que viram na telona e passaram a imaginar suas próprias histórias, heróis e planetas. É daí que vem a urgência supramencionada — um desejo nutrido desde a infância de finalmente ter acesso a esses brinquedos. Os melhores episódios, independente da identidade visual ou de terem um tom mais cômico ou sombrio, parecem sonhos realizados. Rabiscos feitos num papel que finalmente ganharam a vida.

Dos melhores episódios ("Screecher's Reach", "A Canção de Aau" e "Jornada à Cabeça Sombria" são incríveis) aos menos interessantes (só "O Poço" me deixou decepcionado), Star Wars Visions nos apresenta vistas povoadas por ideias e personagens cujo pequeno tempo em tela (a maioria dos capítulos tem 15 minutos) nos deixa simultaneamente apaixonados e com sede demais. É fácil terminar um dos curtas ansiando por uma continuação, por uma série só daquilo. Desde que terminei "Screecher's Reach," me pergunto para onde Daal, a protagonista dessa fabulosa animação de folclore irlandês do Cartoon Saloon, foi quando os créditos rolaram. Ela se arrependeu? Ou a vida lá fora foi tudo que ela imaginou?

A experiência do segundo volume de Star Wars Visions é uma de romance. A declaração de amor de cada estúdio para Star Wars gera em nós uma emoção semelhante. Fui movido à lágrimas mais de uma vez na base desse sentimento. Abaixo, falo um pouco de como cada episódio fez (ou em raros casos, não fez) isso:

"Sith" - El Guiri Studios (Espanha): Com ares pincelados, esse curta sobre uma ex-aprendiz de Sith resistindo às tentações de seu antigo mestre se destaca muito pela maneira como imagina a Força se manifestando através da arte, encenando a batalha entre luz e escuridão nas pinturas que a jovem faz após deixar o Lado Sombrio para trás. A trama é básica, mas os visuais quase impressionistas são o verdadeiro destaque do episódio

"Screecher's Reach" - Cartoon Saloon (Irlanda): O melhor episódio do Volume 2 de Visions bebe do folclore irlandês, do terror e de animações 2D para contar uma história clássica de amadurecimento e de deixar sua casa para trás (um tema recorrente na temporada). Além dos belíssimos traços que trazem à vida personagens instantaneamente cativantes, o capítulo conta com uma reviravolta cuja surpresa só é superada pela emoção que gera. Ainda estou pensando na última imagem.

"Nas Estrelas" - Punkrobot (Chile): O primeiro de três curtas stop-motion desse volume é mais um dos episódios de Visions que busca imaginar como um planeta em especial reage à ocupação do Império. Nesse caso, duas irmãs, as últimas sobreviventes de uma tribo local, tentam destruir a fábrica dos invasores para voltarem a ter água potável. A animação supera a história aqui, mas a construção de mundo que une essas duas forças merece atenção.

"Eu Sou Sua Mãe" - Aardman (Reino Unido): O episódio mais aguardado do volume. Aardman, o estúdio de Fuga das Galinhas, entrega todo o charme e humor de seu trabalho em stop-motion no único episódio da temporada que tem um personagem dos filmes. Ele, porém, não é foco. Nossas heroínas são uma dupla de mãe e filha que participa de uma corrida de nave e causa muitas risadas no processo.

"Jornada à Cabeça Sombria" - Studio Mir. (Coreia do Sul): Com estética e história clássicas de anime, esse curta estaria em casa no primeiro volume. Sorte da segunda temporada, que encontra um de seus melhores episódios (e o melhor vilão) na aventura de um jovem padawan e uma jovem engenheira para destruir uma estátua aparentemente amaldiçoada num planeta misterioso. Lá, eles se envolvem na luta mais empolgante da série.

"A Dançarina Espiã" - Studio La Cachette (França): Inspirado por histórias da ocupação nazista na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, esse episódio demora para engatar, mas eventualmente combina uma animação fluída e expressiva com uma história de espionagem que se torna cada vez mais pessoal, até concluir com uma revelação tanto esperançosa quanto devastadora, que traz com si uma ideia pouco vista em Star Wars.

"Os Ladrões de Galak" - 88 Pictures (Índia): Com uma história simples e personagens que não estão entre os mais memoráveis da temporada, "Os Ladrões de Galak" brilha no seu uso da cultura indiana (em especial na época do colonialismo inglês) para ditar o design de personagens e desenvolvimento narrativo. Assim como "A Dançarina Espiã", ele precisa de uns minutos para se aquecer.

"O Poço" - D'art Shtajio (Japão) e Lucasfilm (EUA): O único episódio ruim da temporada sofre com uma animação rígida, dublagem fraca e uma história que não aproveita bem a premissa. Um grupo de pessoas é escravizado para cavar minas de cristais kyber para o Império. Além de oferecer essa ideia, que traz com si o potencial para um conto poderoso, o episódio não faz muita coisa. Felizmente, o próximo é melhor...

"A Canção de Aau" - Triggerfish (África do Sul): Eu não conhecia o trabalho de stop-motion da Triggerfish, mas após "A Canção de Aau," eu estou ansioso para assistir a mais coisas do estúdio. Em termos de visual e animação, esse é o ápice de Star Wars Visions Volume 2. Com cores vibrantes e personagens criativos, acompanhamos a descoberta de Aau, que trabalha com seu pai minerando kyber para os Jedi purificarem, que sua bela voz tem o poder para fazer mais do que deleitar ouvidos locais.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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