Strange Way of Life afunda Pedro Pascal e Ethan Hawke em peça publicitária - Crítica do Chippu
Sem química entre Pedro Pascal e Ethan Hawke, curta de Pedro Almodóvar em Cannes parece só um comercial
Crítica
Um dos primeiros créditos de abertura de Strange Way of Life, o curta-metragem de Pedro Almodóvar com Ethan Hawke e Pedro Pascal, destaca o filme como uma produção da Yves Saint Laurent. Sim, aquela Saint Laurent. A caríssima e luxuosa casa de moda francesa que, há poucas semanas, anunciou seu braço cinematográfico para produzir projetos de cineastas cuja estética já poderia, de certa forma, ser associado à marca: Wong Kar-Wai, Abel Ferrara e, claro, Almodóvar. Não é justo julgar a iniciativa com apenas um lançamento, mas se todos os seus títulos forem como este, a natureza dessa comercial coleção não ficará muito escondida.
Vestidos como os cowboys mais estilosos do velho oeste (vou te dar uma chance para adivinhar de onde vieram os looks), Hawke e Pascal interpretam, respectivamente, Jake e Silva, dois pistoleiros um dia unidos como criminosos e amantes, e agora separados pela lei. Jake é xerife de uma pequena cidade recentemente abalada por um assassinato, enquanto Silva cavalga como mercenário e por coincidência (ou não) chega ao local logo após a morte. Os dois se reencontram 25 anos após seu tempo de vinho e amor, e depois de uma noite revivendo essa dinâmica, se percebem em rota de colisão.
A histórica descrita acima se desdobra em breves 30 minutos. Almodóvar retrata os momentos com um visual profundamente limpo, usando as lentes do diretor de fotografia José Luis Alcaine para fazer seus personagens parecem recortes, saltando do cenário como se tivessem sido fotografados com a luz perfeita para um frame congelado, uma publicidade ou um outdoor. Concebido pelo diretor chileno como uma resposta a O Segredo de Brokeback Mountain, Strange Way of Life enfim coloca nas mãos de seu comandante os recursos e estrelas de cinema necessários para que realize seu duradouro desejo de entrar com tudo em Hollywood.
Em sua estreia no Festival de Cannes, o curta gerou polêmicas não pelo conteúdo sexual (não há nada demais, e com Hawke e Pascal, não há nada mesmo), e sim pelo fato de ter uma única sessão cuja lotação foi grande o suficiente para manter centenas de pessoas, incluindo críticos de prestígio e até a presidente da Academia (AMPAS) do Oscar de fora, mesmo que eles tivessem lugares reservados. O festival foi forçado a adicionar mais exibições, mas todo esse barulho, descobrimos, foi por nada.
O interesse gigantesco tem motivo. Hawke é uma presença constante no cinema norte-americano há décadas, e Pascal é o ator do momento, chegando em Strange Way of Life meras semanas após concluir temporadas de ambos The Last of Us e The Mandalorian. Os atores, porém, são desperdiçados pela forma como Almodóvar traduz seu típico melodrama para o formato de curta-metragem. O tropeço é bizarro, especialmente porque seus outros shorts foram bem-recebidos, mas dessa vez, essa abordagem novelesca parece uma muleta para o diretor fazer grandes movimentos emocionais o mais rápido possível. Cortando esquinas para gerar paixão e conflito, ele faz pouco uso Hawke e Pascal, que não desenvolvem química, e corre em direção à conclusão.
Há, de fato, imagens marcantes. Sem um bom contexto narrativo, porém, a encenação ganha ares de peça publicitária. Seja para promover seus figurinos, para transformar seu elenco em garotos-propaganda ou para oferecer a Almodóvar a oportunidade de usar o curta para, quem sabe, financiar uma versão longa-metragem, Strange Way of Life é, na verdade, sobre algo nada estranho: um conceito sendo vendido.
2/5