Em Suzume, Makoto Shinkai parece determinado a mudar os elementos que compõem sua assinatura como cineasta. Muito embora ele tenha despontado para o mainstream apenas em 2016, sua carreira conta com mais de vinte anos em longas que unem histórias de amor impossíveis e personagens cativantes com cenários que transitam entre o mundano e o fantástico.

Suzume tem tudo isso e mais um pouco, mas rearranjado de uma maneira que talvez seja difícil reconhecer o estilo que consagrou o diretor japonês. Nesta história, a jovem que dá nome ao filme (voz original de Nanoka Hara e dublagem de Mayara Stefane) tem um encontro fatídico a caminho da escola com Souta (Hokuto Matsumura/Fábio Lucindo), que leva à descoberta de um mundo sobrenatural escondido em portas ao redor do Japão.

No entanto, estas portas também estão acompanhadas de selos que prendem uma criatura gigante que pode causar enormes estragos a cidades caso seja libertada. Um destes selos é inadvertidamente rompido por Suzume, que de repente se vê em uma corrida através do país para evitar uma catástrofe.

Pela natureza do roteiro e uma predominância maior de cenas de ação, Suzume é um pouco mais caótico do que se espera dos filmes de Shinkai, com a garota literalmente pegando a estrada de maneira atabalhoada e descobrindo o que precisa fazer ao longo do caminho. Ao mesmo tempo, ela vai fazendo amizades com desconhecidos em situações inusitadas que trazem comparações inevitáveis aos filmes do Studio Ghibli — talvez, seja a primeira vez que é possível, de fato, equiparar um dos filmes do cineasta aos clássicos do lendário estúdio de animação.

Entretanto, predomina mais uma vez a grande força de suas histórias: a de construir empatia entre espectador e personagens de maneira quase instantânea, o que é levado à prova tendo em vista o elenco inusitado da animação — sem entrar em contexto, boa parte da trama é puxada pela garota, um gato e uma cadeira.

O maior foco na ação também dá a chance de Shinkai a mostrar seu estilo de animação sob uma nova luz (às vezes, quase literalmente), já que os elementos de sombra e escuridão são um grande contraste aos cenários idílicos e o céu azulado que é marca registrada de suas obras.

Um dos principais expoentes do anime para o cinema na atualidade, o diretor também faz valer sua fama e traz uma das animações mais bem executadas da indústria, na qual até mesmo coisas aparentemente simples como a chegada de um temporal ou o nascer de um dia tomam proporções grandiosas.

Suzume ainda detém muitos dos traços que se esperam de uma obra de Shinkai desde o lançamento de Your Name e, embora as expectativas sobre uma obra que se equipare a seu filme mais famoso sejam inevitáveis, o resultado é algo diferente: um cineasta que está tentando buscar caminhos diferentes, mesmo que continue a escolher sempre os mesmos pontos de partida.

3.5/5