The Idol faz Euphoria parecer programa de família com primeiros dois episódios explosivos - Primeiras Impressões

The Idol faz Euphoria parecer programa de família com primeiros dois episódios explosivos - Primeiras Impressões

A nova série de Sam Levinson para a HBO estreia em junho

Guilherme Jacobs
23 de maio de 2023 - 6 min leitura
Crítica

Segundo Tedros, o personagem de Abel “The Weeknd” Tesfaye em The Idol — minissérie criada pelo cantor ao lado de Sam Levinson (Euphoria) e Reza Fahim para a HBO — a música pop é o grande cavalo de Tróia dos nossos tempos. A forma perfeita de passar qualquer mensagem para uma audiência massiva. Desde que eles estejam curtindo e dançando, você pode cantar sobre qualquer coisa ou abordar qualquer assunto, nada será polêmico demais quando se há sucesso e dinheiro. Ouvindo isso, Jocelyn (Lily-Rose Depp), uma popstar se recuperando de uma crise psicológica e tentando emplacar um novo álbum, se sente reenergizada.

Nas conversas entre os dois, as referências são ótimas. Prince é mencionado mais de uma vez. O nome de Donna Summer também é levantado. O diálogo acima serve como uma missão para The Idol, como se Tesfaye, Levinson e Fahim estivessem afirmando ter algo importante a falar com essa produção extremamente sexualizada e grandiosa. A ideia exposta pelo trio em sua coletiva no Festival de Cannes é a de denunciar os tratamentos misóginos e abusivos da indústria musical com jovens talentosas, mas a execução parece apenas glorificar tudo isso.

Assim como Jocelyn usa a inspiração de Tedros para cantar que um homem precisa ter uma conta bancária cheia para transar com ela, The Idol não diz, nos primeiros dois episódios exibidos pela HBO em Cannes nada além do que está na superfície. Se essa série é um cavalo de Tróia, alguém esqueceu de colocar algo dentro.

O exterior é brilhante e chamativo. Mais uma vez gravando em película, Levinson traz toda sua sensibilidade visual e, aliado aos recursos de Tesfaye, faz The Idol saltar da tela com composições dinâmicas e planos complexos. Em especial no uso de luz, a direção transforma clubes noturnos, quartos luxuosos e mansões milionárias em parques de diversão para sua câmera encontrar as atrações, que por sua vez vêm na forma de um elenco badaladíssimo.

Junto de Depp e Tesfaye, Hank Azaria, Rachel Sennott, Da'Vine Joy Randolph, Hari Nef, Eli Roth, Dan Levy, Moses Sumney, Suzanna Son, Troye Sivan e Jane Adams fazem personagens recorrentes. Jennie Kim, estrela da música sul-coreana, também tem um papel, mas é uma presença maior no marketing do que nesses episódios iniciais. Como um todo, o grupo trabalha em sintonia no caos e vaidade de The Idol, mas neste começo, poucos registram como mais que uma caricatura. Azaria é fantástico, permeando pequenas gotas de humanidade num homem outrora impiedoso, e Adams se diverte como a mais cretina executiva imaginável. A maior decepção é Sennott; Uma das mais dinâmicas atrizes jovens do momento, ela parece uma paródia de seus outros trabalhos, como Morte Morte Morte e Shiva Baby.


Apesar dos coadjuvantes badalados, Depp é, literal e figurativamente falando, a dona do show. O tratamento de sua personagem vai além do questionável, mas em sua sensualidade e presença, a atriz oferece a The Idol um centro de gravidade. Ao seu lado, as limitações de Tesfaye como ator só não ficam mais gritantes porque Depp é capaz de tirar dele algo interessante. Com feições marcantes e um olhar penetrante, ela tem tudo para ser a próxima estrela da televisão.

Essa é uma das razões pelo qual o tratamento de Jocelyn e de Depp se tornam tão frustrantes. A defesa já está pronta. A nudez, a visão masculina, a tara por ser asfixiada e os figurinos reveladores são o ponto. The Idol se propõe a mostrar isso tudo como ruim, exceto quando se propõe a mostrar isso como empoderamento. Jocelyn ou faz porque é manipulada pelas forças ao seu redor, ou porque quer. A série nunca se decide.

Dentro dessa ausência, Depp preenche a personagem com vulnerabilidade e humanidade, mas o texto não lhe ajuda. Nas primeiras duas horas de The Idol, a quantidade de cenas dela se masturbando só não superam a quantidade de cenas em que a morte de sua mãe é levantada como justificativa para todo e qualquer comportamento da garota. Ela é reduzida a seu trauma e seu corpo. Há potencial dramático nisso, claro, mas a julgar pela direção de Levinson e Tesfaye, eles não estão interessados em explorá-lo, preferindo colocá-la empinando a bunda mais uma vez enquanto a enquadram para enfatizar sua beleza.

É um começo decepcionante. Levinson nem sempre acerta (vide Malcom & Marie), mas já mostrou capacidade de encontrar dilemas honestos e verdadeiros em seus personagens. Nos dois especiais entre as temporadas de Euphoria, particularmente no estrelado pela Rue de Zendaya, seu texto enfim alcança o dinamismo de sua direção. Com The Idol, porém, ele dará munição a seus principais críticos, fortalecendo a narrativa que seus trabalhos não oferecem muito além da capa.

Há tempo para The Idol se recuperar. Não é incomum no trabalho de Levinson incluir o material mais chocante e polêmico no começo para gerar discussão e polêmica. Resta assistir ao resto da série para ver se um exército sairá deste cavalo, ou se dessa vez, Troia escapará ilesa. Uma coisa é certa: The Idol será provocativa de um jeito ou de outro. A HBO tem seu próximo hit em mãos.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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