The Mandalorian vai a Coruscant em capítulo que parece resposta a Andor - Crítica com Spoilers
Série de Star Wars traz personagens das temporadas passada de volta e mostra que a Nova República não é lá essas coisas
Crítica
O texto abaixo contém spoilers de "O Convertido," terceiro episódio da terceira temporada de The Mandalorian. Repitam comigo: MANDOOOOOOOOOOO!
"O Convertido," terceiro episódio da terceira temporada de The Mandalorian, certamente foi escrito e filmado antes do lançamento de Andor no segundo semestre de 2022. É, contudo, muito difícil assisti-lo e não pensar que, até certo ponto, esta é a resposta de Jon Favreau e seus colaboradores à obra-prima de Tony Gilroy. Afinal, estamos de volta em Coruscant, e nem tudo mudou.
A ida a Coruscant vem depois de uma fantástica sequência de combate aéreo quando Din Djarin (Pedro Pascal) e Bo-Katan (Katee Sackhoff) deixam Mandalore (ele, redimido, e ela, quieta sobre o mitossauro), ouvem Grogu tentando falar "Como deve ser" e são perseguidos por interceptadores TIE de algum ex-general do Império furioso com as peças roubadas pela remanescente do clã Kryze. É uma grande desculpa para inserir uma cena de ação num capítulo outrora mais pé no chão e focado em civis, mas a execução da direção de Lee Isaac Chung é boa o suficiente para ignorarmos essa certeza e simplesmente apreciarmos a velocidade, clareza e dinamismo de como os mandalorianos, novamente, exibem sua proeza pilotando naves e derrubando caças inimigos.
Eventualmente, eles saltam no hiperespaço e nós os deixamos de lado um pouco para voltar à capital da galáxia, onde reencontramos o Dr. Penn Pershing (Omid Abtahi), antes o cientista responsável por estudar Grogu e criar clones capazes de usar a Força (o que provavelmente, eventualmente, leva à criação de Snoke e à ressurreição de Palpatine), ele agora faz parte de um programa de anistia para ex-oficiais do Império, que aos poucos trabalham para reingressar na sociedade, agora gerida pela benéfica, mas não tão diferente, Nova República
Andor vem à mente justamente porque o roteiro de Favreau e Noah Kloor está interessado em mostrar o cotidiano de pessoas comuns dentro do sistema governamental da vez, e claro, as ideias do fascismo estão distantes, mas especialmente num lugar como Coruscant, pouco parece ter mudado, e os ricos nem sabem o nome do atual governo, pouco se importando com questões ideológicas. As mudanças, aponta a antiga oficial de comunicações Elia Kane (Katy M. O'Brian), com quem Dr. Pershing cruzou caminho na nave do aparentemente foragido Moff Gideon, eles só trocaram as bandeiras.
Kane está ali para seduzir e enganar Pershing, que eventualmente a leva até um cemitério de naves imperiais onde pega todos os itens necessários para continuar sua pesquisa sobre clonagem avançada, e é capturado por outros infiltrados dentro da Nova República para ter sua memória apagada. Como, porém, ele chega lá, é mais interessante.
Por um lado, as atuações de Abtahi e O'Brian são essenciais, e o roteiro oferece aos dois várias oportunidades de diálogo que humanizam figuras tipicamente vistas como vilões caricatos em Star Wars. Algo que, você sabe, Andor fez muito bem. O patamar do texto não é o mesmo, mas o efeito é suficiente para enxergamos o mundo através de seus olhos, e este mundo não é muito convidativo. O trabalho chato e repetitivo de Syril em Andor vem à mente quando vemos Pershing preso num cubículo, e apesar do ar benéfico, a Nova República retirou os nomes de todos os membros do Império num esforço de vê-los como algo inferior. Pershing agora é L52. Kane é G68.
Star Wars já deixou claro algumas vezes como as Repúblicas, enquanto certamente melhores que o Império em questões morais, não são um paraíso pacífico, e a burocracia permite o crescimento de práticas como a de transformar pessoas em números e letras. Dentro dessa construção de mundo, entendemos porque Pershing decidiu quebrar as regras e voltar à pesquisa proibida, e mesmo se a traição de Kane e suas segundas intenções sejam telegrafadas pelo roteiro, a conclusão ainda gera uma pontada de dor.
Coruscant foi a carne desse hambúrguer de episódio, e se a metade de baixo do pão no começo foi recheada de ação com Mando e Bo, a segunda metade é pura intriga. Os dois voltam ao esconderijo de mandalorianos e, após uma recepção tensa, são declarados como redimidos por terem se banhado nas Águas Vivas de Mandalore. Uma vez que provam para a Armeira (Emily Swallow), terem cumprido o feito, ambos são recebidos de braços abertos por quase todos os Filhos do Olho (Paz Vizsla ainda guarda rancor). Só há uma questão. Bo-Katan nunca quis isso.
Ou pelo menos, não até acontecer. Bo-Katan pode ter sido membro da Death Watch que com os anos de tornou os Filhos do Olho, mas ela não caminhava na doutrina há anos. Assim, porém, como sua reação ao ouvir Din honrar seu pai no episódio anterior, ser tocada por outros mandalorianos enquanto "como deve ser" ecoa pela caverna parece afetá-la. Estaria, sua fé, sendo recuperada? E se sim, voltar ao legalismo é uma boa ideia?
O tempo dirá. Por hora, só podemos especular sobre isso, e sobre como o núcleo de Pershing (isso se ele voltar a aparecer) e Kane cruzará com o de Mando e Bo. Por hora, porém, uma pergunta. Após o término do capítulo, quem se converteu? Dr. Pershing, ou Bo-Katan?