The Mandalorian une diversas linhas narrativas em episódio conveniente e repleto de ação - Crítica com Spoilers
"O Pirata" traça uma conexão entre vários núcleos da terceira temporada, tudo enquanto coloca os mandalorianos para lutar
Crítica
O texto abaixo contém spoilers de "O Pirata," quinto episódio da terceira temporada de The Mandalorian. Repitam comigo: MANDOOOOOO!!!
Os primeiros 10 minutos de "O Pirata," quinto episódio da terceira temporada de The Mandalorian, sugerem que teríamos mais um capítulo com Din Djarin (Pedro Pascal) no banco de reservas. A chegada do Rei Pirata Gorian Shard (Nonso Anozie) em Navarro, tomando a capital gerida por Greef Karga (Carl Weathers), força o planeta independente a pedir ajuda à Nova República, e assim reencontramos o piloto de X-Wing Carson Teva (Paul Sun-Hyung Lee), retornando à série e indo em busca dos Mandalorianos para pedir sua ajuda já que os burocratas do governo — com um empurrãozinho da ex-Imperial/Ainda-Imperial Elia Kane (Katy M. O'Brian) — se recusam a oferecer auxílio para um mundo fora de seus sistemas.
Por um tempo, parecia que Teva e Karga seriam os protagonistas do capítulo. Rapidamente, porém, isso muda. Através de uma das várias revelações convenientes do roteiro desta semana (O R5 usado por Din em Mandalore era o dróide de navegação de Teva), o piloto da Nova República encontra o esconderijo dos mandalorianos e conta sobre o ataque pirata, levando Din a pedir ajuda a seus irmãos e irmãs com a promessa de não só elevar seus nomes ao de heróis, como também garantir um espaço de terra onde eles poderão viver livres, sem se esconder. Com a inesperada ajuda de Paz Vizsla (Tait Fletcher), o grupo liderado pela Armeira (Emily Swallow) concorda e vai à guerra.
Assim, entramos no terceiro capítulo seguido da temporada com Din dividindo o holofote. Dessa vez, contudo, há uma razão mais clara para o foco reduzido no protagonista. Num episódio repleto de ação, The Mandalorian faz um grande esforço para conectar suas diversas linhas narrativas. Gorian Shard e Navarro, aparentemente, são parte de um plano dos remanescentes imperiais aqui representados por Ella Kane (a conexão entre os piratas e o Império nunca é explicada, mas Teva parece ter certeza?), e com a chegada dos mandalorianos, todas* as pontas narrativas se unem.
*Bom, quase todas. Há a sempre presente conexão com Star Wars Rebels, Ezra Bridger, Thrawn e Ahsoka. Aqui, isso surge novamente com a estreia live-action de Zeb, membro do núcleo rebelde que protagoniza a série animada. Ele é, mais uma vez, dublado pelo fantástico Steve Blum.
Nem todas as conexões são bem feitas. Ella Kane parece aparecer onde é mais conveniente para a série, e, como já falei, as certezas de Teva sobre a conexão entre a aparição de Gorian Shard (algo, até então, motivado pelo seu passado com Greef) e o desaparecimento de Moff Gideon (Giancarlo Esposito), confirmado num epílogo que revela seu transporte-prisão à deriva no espaço, aparentemente atacado por mandalorianos, pouco faz sentido. Assim como o uso de R5 como deux ex machina, estes saltos são fruto de uma temporada curta que trouxe mais perspectivas do que nunca. Tivemos que gastar tempo em Coruscant, com o passado de Grogu e com Bo-Katan (Katee Sackhoff), a mais bem desenvolvida dos coadjuvantes, e agora Jon Favreau precisa cortar esquinas para se ajudar.
Uma vez que as peças estejam nos seus devidos lugares, "O Pirata" oferece uma das meias-horas mais repletas de ação na série até hoje. Com Mando e Bo-Katan batalhando Goran Shard e seus lacaios no ar, e Paz Vizsla liderando os esquadrões na terra para limpar as ruas de Navarro. Peter Ramsey, de Aranhaverso, dirige o capítulo com mão firme, destacando-se especialmente no combate aéreo e em algumas cenas mais quietas — a descoberta do transporte de Gideon ganha ares de medo e a conversa final entre Bo-Katan e Armeira tem uma tensão palpável. A Armeira, aliás, também entra na luta, que nunca pareceu muito em risco de ser perdida (afinal, mandalorianos) e termina dando aos exilados de Mandalore o respeito do povo local, além de um grande espaço onde sua cultura pode, mais uma vez, florescer.
A Armeira não parece satisfeita com isso. Após a vitória, ela chama Bo-Katan para uma conversa que, à primeira vista, parece confirmar a suspeita de muitos fãs que um conflito entre as duas é inevitável (crédito, repito, para a direção de Ramsey). A surpresa vem, porém, quando a Armeira libera Bo-Katan da obrigação de usar seu capacete para que ela possa continuar "caminhando nos dois mundos", e traga mandalorianos menos legalistas para Navarro com o intuito de fortalecer o grupo para, em breve, tomarem Mandalore de volta.
A Armeira tem sido, até então, a mais rígida seguidora da Doutrina vista em The Mandalorian. Enquanto a aparição do Mitossauro no começo da temporada e a nova vitória dos mandalorianos pareçam, de fato, comunicar o começo de uma nova era, sua mudança de coração não foi bem trabalhada na série até então. Se, por um lado, a atuação de Sackhoff e a boa escrita nos convenceram do ressurgimento da fé de Bo-Katan no Caminho, a Armeira nunca pareceu considerar abrir exceções em nome de um bem maior. Ela, vale lembrar, não viu o Mitossauro, e está apenas confiando no testemunho da ex-usuária do Darksaber.
De qualquer forma, a terceira temporada de The Mandalorian mais uma vez parece transformar a série em The Mandalorians, focando menos nas aventuras do cowboy solitário na fronteira da galáxia e mais no épico de um povo guerreiro em busca de um lar. Ainda há, penso, pouca discussão em relação à natureza dos mandalorianos. O quanto vale seguir esse Caminho? O quanto da Doutrina realmente faz bem? Não houve discussão filosófica entre Bo-Katan e Armeira, e as interações de Din com os Jedi também não parecem ter surtido efeito. Seja como for, ainda é divertido ver os mandalorianos juntos e um retorno à Mandalore, completo com a aparição plena do Mitossauro, soa promissor.