The Mandalorian encerra temporada com finale cheio de ação e irregularidades - Crítica com Spoilers
Apesar de alguns planos memoráveis dos mandalorianos em ação, "O Retorno" deixa a desejar em questões narrativas e emocionais
Crítica
O texto abaixo contém spoilers de "O Retorno," finale da terceira temporada de The Mandalorian. Digam comigo: MANDOOOO!!!!
No episódio anterior, The Mandalorian nos lembrou por que alcançou esse status de popularidade para começo de conversa. O roteiro fez uso eficaz de várias pontas deixadas ao longo da temporada e concluiu o arco emocional de alguns personagens só para virar tudo de cabeça pra baixo com a volta de Moff Gideon (Giancarlo Esposito) e sua tentativa de apropriação cultural. Foi surpreendente, mas merecido. Um exemplo de como a série faz Star Wars bem, aliando a simplicidade a protagonistas cativantes e caprichando nos momentos de grandiosidade.
Por isso, "O Retorno," finale de uma terceira temporada divertida, mas frequentemente irregular, deixa tanto a desejar. Este capítulo está construindo em cima de todo o momento da semana passada, e de certa forma, não precisava fazer muito para ser um sucesso. Jon Favreau e Rick Famuiywa estavam na boca do gol. Era só colocar na rede.
O chute acontece, e a bola até cruza a linha, mas não sem ricochetear e ficar perdida primeiro. "O Retorno," um dos capítulos mais curtos da temporada até aqui, é repleto de cenas de tensão e combates, e assim como estes são, em várias instâncias, seus melhores feitos, eles também trazem com si erros que, dentro do histórico de performance de The Mandalorian, são bizarros. Essa série, como um todo, sempre soube entregar boas lutas. Sua ação foi feita com clareza e boa execução, melhorando o que outrora poderia ser limitado pela rigidez visual dos mandalorianos e suas armaduras com criatividade na coreografia e precisão na direção. Neste episódio, isso parece variar de corte pra corte.
Esse vai e vem acontece num texto pão com manteiga, onde após serem forçados a recuar diante de Gideon, os mandalorianos liderados por Bo-Katan Kryze (Katee Sackhoff) conseguem escapar da base e desfrutam de uma pequena pausa, descobrindo nova vida orgânica no solo de Mandalore, até partirem de volta para o combate quando, avisados por Axe Wolves (Simon Kassianides), a frota que estava em órbita parte para o reforço, deixando apenas o cruzador como isca para os TIE Fighters. Enquanto isso, Din (Pedro Pascal) é rapidamente resgatado por Grogu e decide não esperar ajuda. Eles vão partir para cima do seu algoz e resolver isso de uma vez por todas.
O roteiro é apressado, favorecendo as sequências de ação ao invés de trabalhar quaisquer questões emocionais ainda remanescentes. Há pouco, por exemplo, dito sobre estar de volta em Mandalore uma vez que a missão se cumpre. E antes disso, jamais se cria uma atmosfera de suspense digna de uma conclusão de ano. Pense, por exemplo, em como os dróides de elite usados por Gideon no finale da temporada anterior pareciam garantir a morte dos heróis, dando um ar messiânico a aparição de Luke Skywalker. Semelhantemente, o êxtase daquela vitória foi temperado com tristeza pelo adeus de Din e Grogu, desfeito abruptamente numa série derivada.
Dessa vez, contudo, temos um grande dar de ombros. Din é resgatado por Grogu, que milagrosamente navegou a base de Gideon sem ser visto e encontrou seu pai antes que ele pudesse sofrer algo. Gideon, por sua vez, diz que cuidará deles pessoalmente e não sai do lugar enquanto a dupla destrói seus clones e todo o seu projeto. Os caças imperiais lançados para destruir a frota jamais pensam em retornar para a superfície, e quando Woves garante a vitória derrubando o cruzador no chão, a Grande Forja, que ficava logo ali do lado, sai ilesa.
Que fique claro, pouco me importo com esses errinhos se eles existirem dentro de acertos maiores, mas as qualidades de "O Retorno" parecem se limitar a planos marcantes como o de Woves atravessando a atmosfera sozinho ou a união de Bo-Katan e a Armeira (Emily Swallow) liderando um enxame de mandalorianos quando o contra-ataque começa com os jetpacks a todo vapor. Se Famuiywa, como fez em "Os Espiões", trabalhasse bem a elevação de tensão oferecida por momentos como esses, e nos oferecesse um grande fechamento com, digamos, Grogu usando a Força para segurar as chamas da explosão final — após um embate pouco inspirado contra Gideon que tem como seu único mérito a união de Grogu, Din e Bo na luta — a falta de lógica seria facilmente perdoada.
O problema é que isso não acontece. Talvez parte do problema venha do quão frequente é, agora, o uso de Grogu. Não que Din um dia estivesse realmente à beira da morte na série, mas o Baby Yoda não pode nem ser machucado da mesma forma que um adulto. Essa é a única explicação para a aparente amnésia sofrida pela guarda praetoriana quando estes estão diante da criança mas parecem ter deixado para trás toda a habilidade usada para matar Paz Vizla no episódio anterior. O dano maior, porém, vai além do plot armor de Grogu ou meros saltos de lógica. The Mandalorian não fez bem o encerramento de seu arco de temporada.
Sim, voltamos para Mandalore. Para que, porém, precisamos passar tanto tempo com Dr. Pershing e Elia Kane? Para que a pesquisa de clones com a Força precisava tanto ser mencionada? E o mitossauro, vai ficar lá? Bo-Katan voltou a liderar seu planeta, mas o que se discutiu sobre seus conflitos de fé? Na verdade, o que se discutiu sobre Bo-Katan ao fim de tudo? Qual é sua personalidade? Qual sua opinião sobre as diferentes visões de mundo dos mandalorianos? Por que a Armeira deixou seu legalismo para trás de uma hora pra outro em nome da Lady Kryze? Favreau e companhia escolheram elevar o campo narrativo nessa terceira temporada, mas parecem ter mordido mais do que conseguem mastigar.
The Mandalorian é uma série curta. Suas temporadas contém oito capítulos entre 30 e 50 minutos. Isso era uma das principais forças da produção, deixando "gordura" de lado mesmo quando havia um episódio inteiramente contido, uma simples aventura da semana, e um curto avanço na mitologia mais ampla de Star Wars. Essas aventuras da semana continham boa ação, personagens carismáticos e uma recompensa emocional clara. Nesta temporada, Favreau e sua turma inverteram a ordem e colocaram o lore em primeiro lugar, avançando-o com as histórias de cada capítulo.
A decisão, eu mantenho, foi acertada. Entrar mais nas questões de Mandalore era o próximo passo lógico nessa narrativa. Mas ao tomá-lo, os criadores da série precisam investir nele, e não tentar equilibrá-lo com tantas outras coisas que, agora, parecem não ter tido propósito. Tanto é que, após adotar oficialmente Grogu como seu filho e ganhar uma bela cabana para relaxar, Din Djarin recebe o comando de sair pela galáxia e se aventurar. É como se Favreau, desesperado para contar a história que realmente lhe interessa, tivesse feito essa temporada por obrigação. Agora, ele pode voltar a sua zona de conforto.
Continuo discordando de quem acha que essa temporada foi um fracasso total, mas após esse finale tão desequilibrado, admito estar feliz com a proposta de voltar ao básico. Talvez o grande "Retorno" do Capítulo 24 de The Mandalorian não seja o de Mandalore como uma força na galáxia, mas sim o do formato clássico de um mandaloriano e seu bebê Yoda explorando a Orla Exterior.