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The Surfer leva Nicolas Cage a níveis quase sem precedentes de autodepreciação
Com estreia no Festival de Cannes, suspense australiano coloca o ator contra uma gangue de surfistas
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Crítica
A essa altura do campeonato, todo filme com Nicolas Cage, especialmente aqueles que se propõem unicamente ao cinema B (ou C, em alguns casos) onde o ator virou presença quase constante, é sobre Nicolas Cage. Seus personagens refletem as disposições do astro para humilhação, autodepreciação, humor e estranheza. Os filmes, por sua vez, sempre tratam esses protagonistas como ícones a serem moldados, reconfigurados, resgatados e imortalizados. Não é diferente com The Surfer, longa que levou Cage ao Festival de Cannes 2024.
A diferença é que The Surfer, diferente dos esforços recentes de Cage, conta com uma boa direção por parte do australiano Lorcan Finnegan e um elenco coadjuvante competente. O perigo de tentar fazer um desses filmes “tão-ruins-que-são-bons” é terminar fazendo algo que é só ruim, como vemos em filmes recentes do ator como Willy's Wonderland. Finnegan não está interessado nisso — o que não significa que The Surfer seja algo profundamente bom. O cineasta merece, contudo, crédito por entender a necessidade de construir bem o parque de diversões no qual Cage pode entrar e fazer o que só ele consegue.
Desta vez, Cage é um homem conhecido apenas como “O Surfista.” Após anos longe, ele retorna para sua cidade natal na Austrália em busca de levar o filho para a praia local, onde as ondas são perfeitas e onde ele espera comprar a casa que era de seu pai. Chegando lá, ele é ameaçado pelos Bay Boys, uma gangue de homens que com certeza assistem a Joe Rogan liderados por Scally (Julian McMahon), uma espécie de guru que está mais para coach de Instagram. Eles não deixam ninguém de fora surfar ali, e por mais que O Surfista tenha nascido lá, agora ele é um estrangeiro.
Após ser envergonhado diante do filho, O Surfista decide ficar lá até conseguir comprar a casa — uma oferta maior foi feita e ele precisa arrecadar mais dinheiro — e reconquistar sua honra. Por que ele precisa ficar dentro de seu carro, no estacionamento da praia, o dia todo e até dormir lá, enquanto tenta falar com seu corretor para conseguir um financiamento maior? Caro leitor, eu não sei. Por que ele fica mais dias e mais noites? Por que ele fica chocado depois que estranhos, claramente amigos dos Bay Boys, roubam sua prancha, carteira, celular e até o carro quando ele confia neles? Eu também não sei. Até certo ponto, não importa. É Nicolas Cage.
Tudo isso não passa de pretexto para deixar Cage fazer as caras e bocas pelas quais ficou conhecido, e para o crédito de Finnegan, ele sabe exatamente quais composições usar para capturar essas imagens, enquadramentos que nascem predestinados aos memes. De zooms lentos até longas tomadas com o rosto de Cage em close, sua direção é surpreendentemente afiada na hora de encenar a descida d’O Surfista à loucura, um processo que leva Cage a níveis quase sem precedentes de ridicularização. Uma determinada cena com um rato vai entrar imediatamente em seu hall da fama.
É claro que depois de um determinado tempo, fica óbvio como The Surfer não tem mais nada a fazer a não ser imaginar a próxima piada humilhante, e por mais que Cage não perca nunca sua energia, o filme eventualmente entra numa espécie de marasmo. The Surfer nunca deixa de engajar, mas ele também tem dificuldade em imaginar algo mais interessante para o personagem de Cage. Ainda que a mitologia construída ao redor da praia seja mais rica do que o necessário, a repetição do roteiro de Thomas Martin significa que os padrões se tornam facilmente reconhecidos e, por tabela, menos engraçados e surpreendentes.
Toda a técnica, porém, está muito além daquilo que vemos nos típicos “filmes de Nicolas Cage”, e quando The Surfer dá espaço para seu astro se entregar, ou contracenar com alguém totalmente diferente como McMahon, é difícil não ficar entretido. Há um teto para a capacidade de Finnegan de potencializar o material, mas ele cria um dos melhores ambientes nos quais Cage pode ser Cage. The Surfer não é exatamente um filme bom, mas é um bom filme de Nicolas Cage.
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