
Todos Nós Desconhecidos é um retrato emocionante de traumas e relacionamentos
Produção estrelada por Andrew Scott e Paul Mescal está em cartaz nos cinemas

Crítica
Logo no começo de Todos Nós Desconhecidos, Harry (Paul Mescal) toca a campainha de Adam (Andrew Scott) após uma troca de olhares com o vizinho. Ele está com uma garrafa de bebida alcoólica na mão, da qual ele já tomou vários goles, enquanto Adam passou o dia deitado no sofá após desistir de escrever algo em seu computador. Nenhum dos dois está bem.
Desde essa cena, já dá pra perceber que Todos Nós Desconhecidos não vai ser um filme leve. Ao longo das próximas quase duas horas, embarcamos especialmente na consciência de Adam enquanto ele revisita sua infância para entender como ela influenciou em todos os seus relacionamentos, ou melhor, na falta deles, no futuro.
É uma jornada extremamente introspectiva amparada por ótimos diálogos e atuações que deixam o resultado sensível e tocante. Apesar da resistência no primeiro encontro, Adam e Harry voltam a se juntar alguns dias depois e criam um relacionamento honesto e vulnerável.
Há a parte carnal, colocada de forma delicada ali, mas o namoro dos dois se desenvolve especialmente conforme eles vão sendo cada vez mais verdadeiros um com o outro. Quando você percebe, está tão investido no relacionamento quanto eles.
Andrew Scott e Paul Mescal já são considerados dois dos melhores atores da atualidade, mas, aqui, eles se destacam pela química e sensibilidade que colocam em cada personagem, desenvolvendo não só o relacionamento deles, mas também a personalidade própria de cada um.
Todos Nós Desconhecidos realmente se destaca, no entanto, quando foca na relação de Adam com a família. Enquanto intercala o começo de seu novo namoro, o protagonista volta para a casa onde nasceu e tem diálogos profundos com os pais (Claire Foy e Jamie Bell, que também estão incríveis) sobre sua infância, sexualidade e traumas. E é um trabalho de roteiro impecável do também diretor Andrew Haigh (Looking) – baseado no livro de Taichi Yamada – o quanto cada revelação feita pela família explica um novo detalhe sobre as descobertas dele no amor.
As conversas de Adam com a mãe sobre sua sexualidade e a com o pai sobre o bullying que sofria na escola são de tirar lágrimas de qualquer um. Assim como o desfecho do filme que, mesmo previsível – pelo menos pra mim – e ligeiramente brega, ainda expõe de forma brutal todos os sentimentos que o filme pretende ressaltar ao mesmo tempo, com uma trilha sonora que amarra tudo com um laço bem brilhante. A nossa dica? Leve um lencinho para o cinema!

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