Twisters: Daisy Edgar-Jones e Glen Powell elevam espetáculo de tornados no interior dos EUA
Blockbuster de Lee Isaac Chung é uma divertida montanha-russa feita para o cinemão
Crítica
A simplicidade do Twister de 1996 vinha logo no título. Supostamente concebido depois que a ILM avisou à Amblin Entertainment de Steven Spielberg sobre seus efeitos especiais de tornados e furacões, garantindo ao projeto a luz verde antes mesmo da escrita do roteiro (que está longe de ser um grande texto), o filme de Jan de Bont parecia trivial demais para virar uma nova franquia em Hollywood. Mas, claro, Hollywood transforma tudo em franquia. Só que, para seu crédito, Twisters tampouco dispensa o simples, inclusive no título.
Curiosamente dirigido por Lee Isaac Chung em seu primeiro longa-metragem desde o pequeno e íntimo Minari, a continuação dispensa até mesmo conexões com o original e oferece uma experiência semelhante ao anterior, priorizando o espetáculo direto. Inicialmente, foi reportado que Daisy Edgar-Jones faria a filha dos personagens de Bill Paxton e Helen Hunt, mas não é o caso. Sua tímida mas brilhante Kate, que protagoniza Twisters ao lado do caótico youtuber “laçador de tornados” Tyler (naturalmente interpretado por Glen Powell) é só uma jovem que, depois de perder o namorado e seus amigos para um tornado na sequência de abertura, é convencida pelo outro sobrevivente, Javi (Anthony Ramos), a voltar para Oklahoma por uma semana para, claro, voltar a encarar os ventos.
O grupo que Kate perde inclui estrelas da atualidade como Kiernan Shipka, Daryl McCormack, e outros personagens que cruzam seu caminho são vividos por nomes como Brandon Perea, Katy M. O'Brian e David Corenswet, o próximo Superman, hilário como completo mal-caráter. Menciono esse ótimo elenco para citar que a estratégia de Chung no filme é basicamente a do original: Twisters tem uma premissa básica e uma execução eficaz, contando com jovens atores competentes para adicionar carisma e personalidade a personagens que, no papel, não têm grandes quantidades dessas coisas. A exceção é Tyler, cujo passado desafia a primeira impressão de babacão caipira e dá a Powell a chance de viver, novamente, uma espécie de poeta atlético.
O ator de Top Gun: Maverick, que aqui continua a se candidatar ao próximo Tom Cruise, é o principal efeito especial de um filme com todo tipo de tornado possível, mas nossa entrada nessa história quase tão frenética quanto o longa de 1996 vem através de Kate. Preciso admitir que, assim como na escolha de Chung para diretor, suspeitei que a londrina Egar-Jones não era a pessoa ideal para ancorar uma aventura pelo interior dos EUA, mas o roteiro de Mark L. Smith (com base numa história de Joseph Kosinski) basicamente a transforma numa mulher deslocada. Ela retorna ao seu estado natal depois de cinco anos morando no cimento de Nova York, e a falta de naturalidade da atriz no ambiente rural se transforma, subitamente, na ferramenta ideal para Twisters manter-nos com olhos tão arregalados quanto os da própria Kate enquanto assiste a formação de uma tempestade.
E essas tormentas justificam o deslumbramento. Chung cresceu no Arkansas e, como sugeriu seu autobiográfico Minari, passou muito tempo nas paisagens agrícolas frequentemente devastadas pelos tornados que Kate, com uma solução química e muita coragem, pretende neutralizar. O trabalho do cineasta no seu indie indicado ao Oscar pode não ter revelado a mão de um diretor de blockbuster — e de fato ele sofre para gerar a energia de um pipocão de desastre norte-americanos dos anos 1990 — mas o crescimento em fazendas e pequenas cidades deu a Chung o olhar certo para não só encenar a vida cotidiana dessas sociedades, como também a dor de vê-las engolidas por forças poderosas e extraordinárias da natureza.
O primeiro Twister não ignora o poder destrutivo dos tornados, mas Twisters está bem mais interessado em dar às empolgantes perseguições protagonizadas por Kate, Tyler e seus amigos um sentido ambientalista. A pesquisa, aqui, tem o propósito de salvar vidas, e a humanidade da direção de Chung, compensando pela superficialidade de um roteiro que não vai além das típicas motivações de trauma, é importante para gerar essa consciência.
Como consequência, por mais previsíveis que às vezes sejam, as cenas de ação ganham uma camada extra de importância, o que — assim como a fotografia em 35mm de Dan Mindel, expandindo os horizontes por onde correm as caminhonetes dos protagonistas — ajuda a compensar a falta do tangível, vítima da quantidade de CGI. Não faltavam elementos digitais no filme de 1996, e é claro que a qualidade deles cresceu muito nesses quase 30 anos, mas de Bont ainda soube manter os efeitos práticos perceptíveis para unir os corpos dos atores e o cenário que era destruído ao seu redor. Aqui, particularmente numa sequência envolvendo uma refinaria, não é incomum sentir que o sal dessa terra é artificial demais.
A questão, claro, é que com o charme natural de Powell e a flexibilidade de Edgar-Jones, com um rosto bonito e talentoso em cada coadjuvante (incluindo a fantástica Maura Tierney em valiosos minutos do terceiro ato), e com o cuidado de Chung em observar a semana de Kate em Oklahoma, Twisters só precisa encontrar surpresas, obstáculos e feitos grandiosos o suficiente para preencher seus céus nublados. Dito e feito. Twisters é uma montanha-russa de ação com as atrações certas para deixar a experiência sempre divertida.