Você deveria assistir: Estação Onze, o HBO Max, é a série que você precisa nessa pandemia

Você deveria assistir: Estação Onze, o HBO Max, é a série que você precisa nessa pandemia

Melhor original do HBO Max até aqui, ela serve como refúgio em tempos dolorosos

Guilherme Jacobs
21 de janeiro de 2022 - 6 min leitura
Crítica

Se você é como eu, os últimos dois anos tiraram boa parte do seu apetite para histórias mais pesadas. Ver tanta morte, sofrimento e doença no dia-a-dia me fez querer uma certa distância de narrativas com temas semelhantes, particularmente quando o assunto é pandemia e mundos pós-apocalípticos. Entretenimento, mais do que nunca, precisava ser um ambiente de cura, de alegria, de segurança. Foi uma surpresa, então, ver Estação Onze - minissérie original do HBO Max - providenciar isso tudo exatamente através do tipo de premissa que eu queria evitar, se tornando uma das minhas séries favoritas.


Uma adaptação do celebrado romance de Emily St. John Mandel criada por Patrick Somerville (The Leftovers) com nomes titânicos da televisão em sua equipe, incluindo Hiro Murai (Atlanta), na direção, a série examina a vida após uma pandemia. Sua narrativa vai de décadas antes do apocalipse até 20 anos após o dia no qual um vírus da gripe eliminou 95% da população mundial, acompanhando os mesmos personagens em situações variadas durante todo esse vasto período de tempo. Brilhantemente estruturado, o roteiro - de cada episódio e do arco como um todo - é construído com cuidado, posicionando capítulos e acontecimentos em ordens à primeira vista sem sentido, mas essenciais para compreender emocionalmente os protagonistas da jornada.

Descobrir como, quando e onde isso exatamente será feito é uma das grandes surpresas de Estação Onze, então não devemos entrar em detalhes demais, mas podemos destacar alguns nomes. Kirsten é nossa protagonista. Uma jovem apaixonada por teatro e Shakespeare, ela experimenta a pandemia e seus primeiros anos como criança através da atuação fenomenal de Matilda Lawler, a grande revelação do elenco. Profunda em suas emoções e madura nos olhares, a atriz faz um trabalho impecável como a versão mais nova da personagem, que por conta de um simples ato de gentileza termina passando meses e meses ao lado de Jeevan (Himesh Patel), um crítico de arte com irmãos ricos e bem-sucedidos. Ele oferece deixá-la em casa no dia da gripe, e depois se torna o pai adotivo da menina. A caminhada dos dois é o núcleo emocional da série.


20 anos depois, Jeevan não está mais lado de Kirsten, interpretada como adulta por Mackenzie Davies, uma das atrizes mais singulares, físicas e emotivas de sua geração. Ela, agora, é parte da Sinfonia Itinerante, uma trupe viajando pela área dos Grandes Lagos dos EUA interpretando Hamlet e outras peças de Shakespeare para dar aos sobreviventes um vislumbre de arte, de emoção, de romance e drama.


Aí está a chave para a beleza de Estação Onze. Sim, há mortes (de bilhões!), perdas e lutas na vida desses personagens. Miranda (Danielle Deadwyler) se vê presa do outro lado do mundo, Clark (David Wilmot) precisa se tornar o líder de uma comunidade num aeroporto isolado, onde o jovem Tyler (Julian Obradors) lê obcecadamente uma história em quadrinho chamada Estação Onze. Curiosamente, uma das outras cinco cópias está com Kirsten. 20 anos depois, o perigoso Profeta (Daniel Zovatto) também parece ter conhecimento da HQ. Mas, apesar de não ignorar as dores dessas pessoas, Estação Onze - a série - está muito mais preocupada com a celebração da vida, das conexões humanas forjadas nos mais sombrios momento, na beleza da arte e seu potencial para curar relacionamentos, cicatrizes emocionais e traumas.


Seja nas belíssimas composições da fotografia, na impecável trilha sonora de Dan Romer (sério, escuta isso) ou nas inúmeras ocasiões nas quais Somerville e seu time de roteiristas preferem encarar cenas com bondade e graça, Estação Onze é impressionantemente carinhosa. Você se sente seguro enquanto a assiste. Mesmo ciente do sofrimento inevitável numa narrativa desse tipo, em momento algum a série parece querer nos machucar. Alguns episódios trarão lembranças duras do isolamento, do terror crescente por conta de um vírus ao nosso redor, mas logo algo balanceará o tom. Como ferramenta narrativa, essa misericórdia se torna surpreendente, desafiando clichês distópicos e providenciando momentos de genuína emoção ao nos agarrar pelo coração com reviravoltas incríveis. Onde outras séries nos chocariam com morte, essa nos abraça com nascimentos.


Por isso, eu precisava de Estação Onze. Como muitos, perdi família e conhecidos desde o início da pandemia da COVID-19. E como muitos espectadores da Sinfonia Itinerante ou leitores da HQ de Estação Onze, eu reconheço na arte uma chance de encontrar abrigo. Assim como Shakespeare, "The First Noel", músicas de A Tribe Called Quest e outras expressões artísticas serviram de refúgio para Kirsten, Jeevan e Tyler, Estação Onze foi para mim. Eu me senti em boas mãos. Em meio às lágrimas do belíssimo último episódio, eu me senti curado.


"Você deveria assistir" é a coluna do Chippu sobre séries disponíveis em serviços de streamings com o propósito de destacar produções, velhas e novas, dignas de sua atenção. Pérolas escondidas, dicas alternativas e sugestões que podem estar ofuscadas pelos títulos mais óbvios.

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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