What If: Capitã Carter e Kahhori brilham em 2ª temporada que não é estranha o suficiente
Nova temporada da série animada chega ao Disney+ sem muita empolgação
Crítica
A segunda temporada de What If...?, disponível a partir de hoje (22) no Disney+ com nove episódios lançados diariamente e imaginando histórias alternativas para personagens da Marvel, vai ser um bom teste para a audiência perceber o que, exatamente, eles querem. Como qualquer produção da Marvel Studios no momento, é impossível não ponderar como essa nova leva seria recebida em outros tempos.
Menciono isso por que os capítulos — que nos levam de 1602 até mais uma ameaça que pode encerrar o multiverso, adicionam uma divertida brincadeira natalina com Duro de Matar na Torre dos Vingadores e, assim como a primeira temporada, contam com uma história de enorme destaque e carga emocional — são perfeitamente divertidos e perfeitamente encaixados dentro do grande projeto; o formato de série animada é o ideal, e a criatividade das ideias deixa tudo interessante o suficiente para merecer nosso investimento de 30 minutos.
Eles só não vão mudar a opinião de ninguém sobre o estado atual da Marvel, e para os mais cansados depois do pior ano do estúdio até hoje, esse presente de Natal cairá tão bem quanto um par de meias. Mas como um personagem diz em certo episódio, meias podem ser bons presentes, e com a expectativa certa, a segunda temporada de What If...? pode ser um agradável passatempo.
A proposta segue a mesma. Personagens e histórias dos filmes e séries da Marvel são misturados, reconfigurados e reinterpretados... até certo ponto. Em What If, você perderá a conta de quantos momentos são encenados de maneira familiar, mas diferente: uma cena de um longa-metragem acontece, com outro herói e outro vilão, e uma premissa é virada ao avesso, mas tudo ali é muito familiar, especialmente a animação.
What If mantém sempre a mesma estética, uma reprodução competente mas limitada do que vemos no cinema. É um visual tão básico para uma série cuja proposta é justamente quebrar as regras, e especialmente ao lado de Star Wars Visions no catálogo do Disney+, é impossível não imaginar como seria ver estúdios e estilos variados aplicados aqui.
A nova coleção de histórias, sempre narrada pelo Vigia de Jeffrey Wright, varia do pouco inspirada (como o capítulo onde um jovem Peter Quill ataca a Terra a mando de seu pai) ao divertido mas esquecível (como o episódio inicial que combina cyberpunk com Nebulosa, e o já mencionado Duro de Matar, com Happy Hogan no lugar de John McCLane) até os genuinamente fascinantes, como o único roteiro inteiramente original da série, onde uma personagem inédita em qualquer mídia Marvel, recebe a chance de remodelar o mundo.
Sempre que possível trazendo as vozes originas (Karen Gillen, Jon Favreau, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Tom Hiddleston e Hayley Atwell voltam aos seus papéis, independente da variação deles), What If, a série, captura o espírito de criança abrindo a caixa de brinquedos presente no quadrinho homônimo, e alguns dos melhores momentos deste novo ano envolvem a continuidade de uma ideia, tema ou herói de um conto para o outro, em especial com a trajetória da Capitã Carter de Atwell, sempre fora de tempo e sempre impedida de desfrutar do amor por Steve Rogers.
Além dela, o Doutor Estranho Supremo está de volta, apesar de não protagonizar algo tão excelente quanto sua introdução, o grande destaque da temporada passada. Dessa vez, a joia é Kahhori. Com a voz de Amber Midthunder (O Predador: A Caçada), ela se vê numa história que usa um elemento do cânone Marvel, o Tessaract, para falar de colonialismo, com a invasão dos espanhóis em sua terra, e espiritualismo, com o tal cubo criando uma nova versão da eternidade para onde sua tribo quer ir.
A escalação de Midthunder já sugere a intenção de usar Kahhori no live-action, mas se a personagem graduar da animação para a carne-e-osso, não será só pela estrela nos bastidores. Sua história é fascinante, e redefine o que heroísmo pode ser mesmo dentro de um mundo com Vingadores e Guardiões. Como seu enredo não adapta nada pré-existente, Kahhori dá aos criadores a liberdade para realmente deixar a imaginação brilhar. Com ela, What If pode ser estranha, livre e empolgante. Essa série precisa de mais disso.