Yellowjackets está mais brutal e mais irregular em segunda temporada repleta de mistérios - Crítica do Chippu

Yellowjackets está mais brutal e mais irregular em segunda temporada repleta de mistérios - Crítica do Chippu

Ainda repleta de atrizes eletrizantes, série tem dificuldades para manter qualidade do roteiro em segundo ano sangrento

Guilherme Jacobs
24 de março de 2023 - 7 min leitura
Crítica

Eu tenho boas e más notícias. Você gostou como os flashbacks da primeira temporada de Yellowjackets colocaram personagens interessantes, vividas por atrizes promissoras, num ambiente rico em potencial narrativo e repleto de mistérios cativantes? A segunda temporada deixa a estadia das jogadoras de futebol numa brutal floresta ainda mais fascinante, com dinâmicas e perguntas instantaneamente intrigantes.

Shauna (Sophie Nélisse) está prestes a ter um filho, Travis (Kevin Alves) e Natalie (Sophie Thatcher) continuam num belo vai-não-vai romântico, Van (Liv Hewson) começará a lidar com os episódios de aparente múltiplas personalidades de Taissa (Jasmin Savoy Brown), Misty (Samantha Hanratty) segue aprontando e Lottie (Courtney Eaton), claro, está começando a desenvolver uma conexão com... algo. Além disso tudo, o grupo está lidando com a trágica morte de Jackie (Ella Purnell).

O nível de execução de cada núcleo varia, claro. O texto no caso de Van/Taissa ou Shauna é, muitas vezes, repetitivo e demora a ir pra frente, enquanto, por outro lado, tudo envolvendo Lottie e o casal Travis e Natalie gera faíscas de imediato, especialmente quando combinados com a qualidade de seus atores (Eaton recebe muito mais para fazer nessa temporada, e se prova uma intérprete fascinante), e o drama gerado pela série é acentuado quando essas tramas paralelas se cruzam e juntam, um dos grandes benefícios de ter tantas figuras preso num ambiente limitado. Cada atriz (e os poucos atores) ali presentes recebe várias oportunidades de construir em cima do que sua/seu colega de cena traz à tona, e nomes como Thatcher, Brown e Hanratty justificam a grande atenção que já recebem em suas carreiras ainda nascentes.

Mas, como eu falei, há más notícias. Praticamente toda linha narrativa das versões adultas das Yellowjackets se mostra um grande re-do da temporada anterior, insistindo nos mesmos dilemas no que parece ser uma tentativa dos showrunners de Ashley Lyle e Bart Nickerson prolongar os mistérios do presente.

Semelhante ao passado, ainda há diferentes níveis de erros e acertos. A trama mais interessante coloca Natalie adulta (Juliette Lewis) ao lado/contra a ressurgida Lottie (Simone Kessell), e é um verdadeiro deleite assistir à Misty de Christina Ricci, com todos os seus tiques e manias, ao lado do genuinamente hilário Walter de Elijah Wood. Os dois formam uma parceira investigativa e é difícil não desejar uma série focada inteiramente na dupla.

A fantástica Melanie Lynskey impede a trama da Shauna adulta, na qual ela despistar as suspeitas da polícia em relação ao assassinato de Adam (Peter Gadiot), de se tornar maçante. Os roteiristas encontram dinâmicas divertidas entre ela, o marido Jeff (Warren Kole) e especialmente sua filha, Callie (Sarah Desjardins). Os três, porém, permanecem estáticos. Os acontecimentos da temporada anterior, e do episódios que recebemos desta, pouco oferecem em termos de impacto para estes personagens, com a exceção de uma pausa no ódio entre mãe e filha.

Se ainda há o que se aproveitar ali, a continuidade dos desafios de Taissa (Tawny Cypress) com seus problemas psicológicos é encenada com uma mera troca de ambiente, retirando-a do cenário doméstico com sua esposa e filha para um eventual reencontro com Van (Lauren Ambrose), mas pouco oferecendo em termos de agência ou novidade.

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Posso estar na minoria em relação a isso, mas não vejo esses sintomas como inéditos. A primeira temporada já sugeria um controle maior de Lyle e Nickerson quanto aos acontecimentos na floresta. O ritmo com os quais mistérios e possíveis soluções eram apresentadas, a intensidade das sequências e as inteligentes maneiras de criar um ecossistema entre as jovens tornavam os flashbacks magnéticos mesmo quando parecíamos distantes de respostas sobre a natureza do que está mexendo com elas lá.

Semelhantemente, alguns dramas adultos como o de Taissa por vezes pareciam estar andando em círculos enquanto o roteiro esperava a autorização de dar passos pra frentes. Assim como as qualidades do texto no passado foram realçadas com este segundo ano, seus defeitos estão mais evidentes.

O balanço, contudo, segue positivo. Tanto pela explosividade do elenco quanto pelas charadas levantadas quando Yellowjackets dá passos em direção ao sobrenatural mais do que compensam os momentos nos quais o enchimento de linguiça se torna visível. Sobre este segundo ponto, vale um destaque. A ideia de que há uma força na mata, não meramente um surto coletivo das garotas, parece inegável, e enquanto continuamos distante de um entendimento completo da natureza dessa presença, e até que ponto ela está interferindo no comportamento de personagens como Lottie e Taissa, cada episódio traz, se não revelações, pistas e indícios para despertar o apetite.

É preciso ter paciência e não salivar demais, porém. Lyle e Nickerson, acima de tudo, sabem controlar a velocidade com a qual o passado Yellowjackets se abre, e eventualmente (com um sexto episódio genuinamente fantástico) este mesmo controle se aplica ao presente. Neste capítulo, que inicia a segunda metade da temporada, o genuinamente surpreendente caminho para o qual eles levam Lottie, cujo tratamento é agradável e imprevisível, passa a afetar todas as sobreviventes, e e um certo paralelo se forma entre as duas linhas do tempo.

Acima de tudo, porém, Yellowjackets continua divertida. Seu retorno, sem dúvidas, é mais brutal e sangrento, mas ele nunca é maldoso. A forma como a cultura, arte e músicas (são tantos hits bem escolhidos) dos anos 1990 permeia tudo dá uma nova camada ao visual, som e direção de episódios, gerando uma eletricidade palpável. Yellowjackets, novamente, é como uma boa música de rock da época, repleta de energia e possibilidades. Aliado às atrizes, aos segredos, essa estética se torna uma picada irresistível.

A segunda temporada de Yellowjackets recebe novos episódios toda sexta-feira no Paramount+, onde a primeira temporada também está disponível

Nota da Crítica
Guilherme Jacobs

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