A Casa do Dragão retorna para 2ª com mais confiança, mas pouca ousadia - Primeiras Impressões
Novo ano da prequel de Game of Thrones não consegue, para o bem e para o mal, escapar de seu legado
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Depois de assistir aos primeiros episódios da segunda temporada de A Casa do Dragão, será difícil largar a impressão de que a temporada passada foi, durante boa parte, um prólogo estendido. Claro, houve grandes momentos no ano de estreia da série, mas o retorno, marcado para o domingo (16) na HBO e Max, vem com a intenção clara de ser o prato principal. A entrada na tal dança dos dragões dá forma e ritmo ao prequel de Game of Thrones, que volta com mais confiança e certo do que é.
E o que ela é? Basicamente, um “greatest hits” de Game of Thrones onde personagens funcionam dentro de arquétipos conhecidos (esse é um tipo de Joffrey, aquele é um tipo de Mindinho, assim vai), cenas como reuniões dos conselhos parecem destinadas a lembrar de versões melhores desses momentos, onde as figuras ali presentes eram mais interessantes e o diálogo era mais afiado, e onde a progressão da história tinha um senso de urgência ou importância — aqui substituído pela sempre presente sensação de um grande fanservice.
Mas fanservice também pode divertir, e nos seus melhores momentos, A Casa do Dragão é uma versão competente de sua série melhor. Aqui e ali, somos presenteados com uma artimanha política, uma traição, uma batalha e, claro, um voo de dragão bem realizado pela equipe chefiada por Ryan Condal, agora o único showrunner (Miguel Sapochnik não volta) e criador ao lado do próprio George R. R. Martin. Seguindo a ideia do disco, os novos episódios têm faixas — como a própria sequência de abertura — que parecem estar ali apenas pela obrigação de piscar para a audiência e dizer “reconhece isso?”, mas aqui e ali, como na conclusão do episódio de estreia, os arrepios retornam.
Uma vez estabelecido como algo que não será a próxima Game of Thrones, mas que será como Game of Thrones em conteúdo, A Casa do Dragão ao menos sabe aproveitar a definição dessa identidade para entregar entretenimento genuíno, muito graças ao ótimo elenco. Como um todo, a trupe encabeçada por Emma D’Arcy como Rhaenrya Targaryen e Olivia Cooke como Alicent Hightower, preenche as lacunas deixadas pelo roteiro no desenvolvimento dessas figuras, sempre enriquecendo o que está em tela com atuações de emoção crua e olhares intensos. Na nova temporada, nomes como Matthew Needham, no papel de Larys Strong, e Tom Glynn-Carney, o Rei Aegon, também brilham, mas quase sempre entregando, novamente, um trabalho feito para refletir outro rosto conhecido da franquia.
Quem consegue se libertar dessas amarras é Matt Smith e Ewan Mitchell, que interpretam Daemon e Aemond Targaryen. Além de serem semelhantes no seu desejo por sangue e posto como agentes do caos, respectivamente, nos times de Rhaenyra e Alicent, os dois são os mais bem-sucedidos na hora de temperar os personagens com um gosto próprio, particularmente devido ao cuidado de ambos com a fisicalidade e discurso. Não à toa, eles protagonizam, ou ao menos influenciam, os melhores e mais impactantes acontecimentos das horas iniciais.
Esses acontecimentos, aliás, são imediatamente mais intrigantes do que as cansativas disputas com coadjuvantes subdesenvolvidos como o nada memorável Engorda Caranguejo. Mais do que um mérito da escrita, isso é um benefício inerente ao momento da saga de Martin que é, agora, adaptado pela série. Há coisas mais significativas em tela, felizmente encenadas ou na luz do dia ou com um cuidado maior com o contraste (dessa vez, é possível enxergar as cenas noturnas), e mesmo que Condal não consiga aproveitar isso para gerar em nós um forte laço emocional, A Casa do Dragão ainda engaja pela estética e pela escala.
São vitórias herdadas, mas que trazem um lado negativo. Para o bem e para o mal, A Casa do Dragão não consegue escapar do legado profético de Game of Thrones. A conexão com Thrones injeta uma dose necessária de interesse no prequel, e abre espaço para easter eggs e referências, mas isso também se torna um lembrete constante de que há algo melhor disponível no mesmo catálogo de streaming. É poético, até. Não conseguir se livrar do peso do destino é uma maldição digna de uma série que se apoia tanto em profecias e previsões já cumpridas na série original.