A Casa do Dragão faz retorno promissor com 'Um Filho Por Um Filho'
Primeiro capítulo da segunda temporada mostra as consequências do finale passado
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“O texto abaixo contém spoilers de ‘Um Filho Por Um Filho’, primeiro episódio da segunda temporada de A Casa do Dragão.”
A primeira temporada de A Casa do Dragão teve seus méritos, mas depois de assistir a “Um Filho Por Um Filho,” a estreia do segundo ano da prequel de Game of Thrones, é difícil não dar crédito à sensação de que os primeiros 10 episódios da série eram um grande prólogo. Além de imediatamente estabelecer um ritmo mais bem-vindo, há uma confiança na narrativa; como se Ryan Condal, agora o único showrunner, estivesse esperando ansiosamente a hora de entrar dança dos dragões, porque essa é a verdadeira história que o interessava. O momento chegou, finalmente.
Dragões, aliás, não dançam nesse primeiro episódio, mas se o lado de Game of Thrones que mais lhe interessa são as manobras políticas, motivadas tanto pelas vantagens militares quanto pelas paixões descontroladas dos personagens, há bastante para apreciar em “Um Filho Por Um Filho.” Ainda é cedo demais para dizer se essa série, em algum momento, vai deixar de parecer tão iterativa — a cena de Aegon (Tom Glynn-Carney) ouvindo a petição de plebeus vai rapidamente trazer à mente outros jovens desqualificados para o Trono de Ferro — mas, ao menos pelos minutos dessa semana, essa é uma boa versão de um álbum composto por “Greatest Hits.”
A primeira faixa é nossa ida ao Norte e à Muralha — e com um flashback, a Winterfell. São todos estreantes nesse derivado, assim como Cregan Stark (Tom Taylor), que abre a segunda temporada contando para Jace Targaryen (Harry Collett) o propósito da barreira que guarda o reino do inverno e, nas palavras dele, da morte. É uma cena feita para que todo espectador familiar com Game of Thrones reproduza aquele meme de Leonardo DiCaprio, reconhecendo cada centímetro da textura profética do discurso de Cregan, que promete alguns soldados mais velhos para a causa da mãe de Jace logo antes deste receber um corvo com más notícias: seu irmão morreu.
Esta é, afinal, a morte que encerra a primeira temporada e que animará o confronto entre os Pretos e Verdes, os grupos respectivamente liderados por Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy) e Alicent Hightower (Olivia Cooke), esta segunda pelo menos espiritualmente. Na prática, o domínio de Alicent é desafiado por todos lados. Seu pai Otto (Rhys Ifans) não parece confiar em seu julgamento. Seu filho, o rei Aegon, está mais interessado em seus impulsos. Para completar a bagunça, figuras como Larys Strong (Matthew Needham) arquitetam seus próprios planos. O bom e velho jogo dos tronos rende alguns momentos bem-sucedidos para a série, mais pela atuação dos moradores de King’s Landing do que pelo texto, nunca tão afiado quanto deveria. São figuras como Glynn–Carney, competente no seu remix de Joffrey, e Needham, no seu remix de Mindinho, elogios que refletem o melhor e pior aspecto dessa série: ela não consegue escapar de seu legado.
É uma maldição digna desses personagens, tão presos pelas expectativas que ambas ficção e audiência impõem sobre eles, mas o que Condal e sua turma encontram nesse início de temporada é o espaço para se divertir dentro disso. Longe de longos episódios focados em, digamos, Engorda Caranguejo e outros coadjuvantes subdesenvolvidos pelo roteiro, pulamos de cabeça no vai e vem que levará os Targaryen de conquistadores para exilados, um banho de sangue protagonizado pelos dois personagens mais sanguinários da série: Aemond (Ewan Mitchell) e Daemon (Matt Smith). Talvez pela natureza imprevisível inerente aos seus papéis, os dois são os atores mais livres das amarras do destino, atuando livres de reflexos mais conhecidos e como forças magnéticas. Suas cenas são, de longe, as mais interessantes, e suas ações as mais consequentes.
Se Aemond foi quem deu o último passo em direção à guerra usando Vhagar para matar Luke no fim da temporada passada, é Daemon quem prepara o primeiro golpe, com uma assistência valiosa de Mysaria (Sonoya Mizuno), retornando para a presença de seu antigo amante, por enquanto, apenas para uma troca de favores. Quando Rhaenyra, pouco utilizada no episódio, retorna de seu período de luto, sua primeira demanda é a cabeça de Aemond, e Daemon está mais do que feliz em ajudar sua amada.
Ele o faz contratando dois espiões em King’s Landing — um deles visto logo no começo do episódio — com a intenção de transformar “Um Filho Por Um Filho” em algo além do título. A dupla não encontra Aemond, mas termina se deparando com Helaena Targaryen (Phia Saban, marcante em seu pouco tempo de dela), irmã e esposa de Aegon, e mãe de dois gêmeos; um menino e uma menina. É um momento que dá novo significado ao medo da jovem de “ratos” na capital, uma declaração que inicialmente parecia apontar apenas para a deterioração de seu estado mental, mas que vira, como quase tudo em Game of Thrones, uma profecia.
O twist, claro, é que o filho sacrificado em troca de Luke é o pequenino Jaehaerys, herdeiro de Aegon e Helaena, e neto de Alicent. Ao longo desse episódio, Alicent se mostra relutante em abraçar a violência completa, tentando até justificar o erro de Aemond em matar Luke e conter o desejo de seu pai pela guerra. É difícil imaginá-la continuando assim depois de ver o neto morto, especialmente porque ninguém em King’s Landing vai se importar de saber que os assassinos não tinham o menino como alvo, inicialmente.
Em outras palavras, não deve demorar muito para a violência sair dos corredores de palácios para as batalhas aéreas. Ou, ao menos, assim espero. Se A Casa do Dragão vai se assumir como uma grande coleção das partes mais populares de Game of Thrones, tudo bem. É melhor do que viver numa crise de identidade. O começo dessa temporada é familiar e seguro, mas também oferece uma direção clara para o futuro. Já era hora.