Andor: Episódio 1 - Crítica com Spoilers

Andor: Episódio 1 - Crítica com Spoilers

Primeiro episódio se destaca ao mostrar interesse na "sujeira" em Star Wars

Guilherme Jacobs
21 de setembro de 2022 - 8 min leitura
Notícias

Quando a Disney adquiriu os direitos de Star Wars e ficou claro que a galáxia muito, muito distante receberia derivados no cinema e televisão explorando o riquíssimo mundo criado por George Lucas, a proposta de se aprofundar neste universo — algo até então feito em livros e quadrinhos — era tentadora. Mas, com exceção de The Mandalorian, boa parte desses spinoffs têm caminhado por trilhas familiares e há muito completamente minadas. Nesse sentido, Andor — por si só um prequel de Rogue One, outro derivado — deveria parecer cansativo e repetitivo. Não faltam histórias sobre o surgimento da rebelião no período entre os Episódios 1 e 3. O supracitado filme de 2016, Star Wars Rebels, Han Solo, e assim vai. Mas, de imediato, o primeiro episódio da nova série da Lucasfilm no Disney+ mostra como a execução de ponta é capaz de ultrapassar uma premissa aparentemente fraca.


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Andor: Episódio 3 - Crítica com Spoilers


Desde a primeira cena, na qual Cassian (Diego Luna) entra num bordel para procurar por sua irmã, que estava trabalhando como profissional de sexo lá, vemos como a proposta de Andor será única. Primeiro, o showrunner e roteirista Tony Gilroy não tem medo de reconhecer a existência de ambientes como esse no universo Star Wars, especialmente durante o tempo do Império, tocando em temas mais sensíveis e sombrios ignorados até mesmo por tramas sobre mafiosos e criminosos como Boba Fett. Segundo, a direção de Toby Haynes, junto com todo o design de produção, fazem o momento saltar aos olhos. Cada canto do bar, cada luz, cada objeto possui uma textura, uma sensação tátil. Aquele lugar existe. Enquanto tantos lançamentos da Lucasfilm e Marvel no Disney+ parecem falhar no mais básico dever de construir imagens cativantes e usar a linguagem cinematográfica para contar uma história, nos convencendo de que este mundo existe, Andor instantaneamente se revela como superior a outros seriados recentes desta mesma galáxia.


E ainda nem comentei sobre Cassian assassinando o empregado de uma corporação privada a serviço do império só para não deixar testemunhas, acabando com a vida de um homem que estava de joelhos implorando por misericórdia depois de ver o “herói” matar seu colega.


Este primeiro episódio é leve em termos de enredo, mas riquíssimo em narrativa ambiental e construção de mundo. Enquanto Cassian retorna de sua missão secreta para o planeta onde mora e trabalho, vemos o dia a dia dos trabalhadores de níveis mais baixos de Star Wars, e onde tantos outros filmes e séries desta franquia falharam, Andor se mostra competente. Nas ruas populadas, roupas sujas e prateleiras empoeiradas, somos transportados para uma fatia desta galáxia onde a luz dos Jedi está longe, acompanhando a vida de “pessoas normais.” Há empregos, lojas, rotinas. Bix (Adria Arjona), por exemplo, deixa uma impressão inicial de uma personagem profunda. Na atuação de Arjona — uma das atrizes mais eletrizantes do momento depois de Irma Vep, e de cara inesquecível aqui — e no texto, entendemos a existência de relacionamentos, dinâmicas e situações únicas. Ela não é unidimensional. Quando ela vai atrás de uma peça específica e vemos outra oficina, o local tem um ar diferente de seu próprio ambiente de trabalho. Mais sujo e desorganizado. Ela, entendemos, não é de bagunças. Talvez só no amor.


A fotografia de Adriano Goldman é ingrediente essencial em transformar esses cenários em locais vivos, embelezando diversas tomadas com camadas por onde nossos olhos podem passear. Por trás dos personagens. À sua frente. À sua volta. Existe vida. Tudo parece ser real. Simultaneamente, Andor tem uma sensação tátil — você consegue sentir o aspecto áspero dos muros, o óleo das naves — e um escopo enorme, sugerindo a presença de relacionamentos, habitantes e vidas únicas nos planetas que visitamos.


Um desses planeta é a casa da Pre-Mor, uma corporação de vigilância (e talvez mais) trabalhando para o Império. Lá conhecemos Syril Karn (Kyle Soller), um funcionário extremamente dedicado (talvez até demais, sugere seu chefe) e determinado a descobrir a identidade do homem que assassinou dois empregados na noite anterior. A referência ao Império na sua primeira aparição, aliás, é a única que nos lembra da grande narrativa de Star Wars. Estamos, de fato, em outro bairro.


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Novamente, figurinos, estações de trabalho e conversas paralelas nos contam muito mais história do que o enredo em si. Karn decide desobedecer a ordem de seu superior e investigar a morte dos dois homens, mortos ao sair bêbados de um bordel, circunstâncias intoleráveis para funcionários da Pre-Mor e, portanto, melhor escondidas do que relatadas oficialmente, especialmente antes de reuniões com forças imperiais. Soller já é um candidato a melhor ator deste ótimo elenco, emanando a obsessão perigosa capaz de ajudar homens a conquistar seus objetivos, mas não sem sujar as mãos primeiro. Luna, por outro lado, esconde tristeza e escuridão por trás de seus olhos, se portando como alguém cansado de lutar. É uma interpretação diferente da vista em Rogue One. Aqui, ele ainda não tem paixão.


Essa paixão parece ter sido perdida com os anos. Em flashbacks para sua juventude no seu planeta natal — executados em um idioma criado para a série e sem legendas, mas perfeitamente compreensíveis graças à direção, visuais e atuação — vemos um Cassian mais inocente e alegre. Ele faz parte de uma espécie de tribo nativa. Junto com seu grupo, as crianças vão investigar uma nave derrubada.


Por hora, porém, essa atitude sombria combina com a série. A atuação de Luna e toda a vibe de Andor condizem com o momento no qual essa história existe, antes de haver Esperança na galáxia, longe de Sabres ou Skywalkers. Quando Rogue One estava saindo, havia declarações saindo da Lucasfilm indicando uma disposição a mostrar os sacrifícios morais e pessoais necessários para o sucesso da rebelião, mas terminamos com um filme sobre heróis e mártires. Aquelas foram mortes românticas. Andor, por sua vez, inicia disposto a nos mostrar tudo que Star Wars prefere varrer pra baixo do tapete. A sujeira.

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