Andor: Episódio 4 - Crítica com Spoilers
Apresentando diversos personagens intrigantes, quarto episódio de Andor faz um fantástico trabalho de construção de mundo
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Qual é o propósito de derivados? Em teoria, eles servem para expandir o mundo e sua mitologia, nos apresentar novas facetas de histórias já conhecidas ou mesmo contos inteiramente diferentes. Quando, porém, algo como Obi-Wan Kenobi decide atrelar a aventura do herói ao resgate de uma jovem Princesa Leia, mais uma vez limitando as ações deste personagem à órbita da família Skywalker, o efeito é inverso. O universo parece menor. Limitado. Andoré a primeira produção de Star Wars desde a aquisição da Disney que justifica o retorno à galáxia criada por George Lucas não com referências, rostos conhecidos e abordagens repetitivas, mas sim ao mostrar algo realmente diferente.
Em seu quarto episódio — agora com direção de Susanna White e roteiro de Dan Gilroy, irmão do showrunner Tony Gilroy — Andor faz, como esperado, o trabalho de expandir seu escopo. Nomes e lugares memoráveis são vistos. Genevieve O'Reilly retorna como Mon Mothma, visitamos Coruscant novamente e Saw Gerrera (Forest Whitaker) é mencionado. Uma nave faz o pulo de hiper velocidade. É Star Wars. Felizmente, porém, nada é tratado como fanservice, mas sim como oportunidades de ir em direções inéditas. É refrescante e interessante, por exemplo, saber que Mothma tem problemas sem nenhuma relação com o Império ou com seu trabalho por trás das cenas para iniciar a rebelião. Seu casamento não vai bem, e quando o marido chama senadores opostos às suas ideias para o jantar, ela precisa garantir que, pelo menos, eles vão sentar do outro lado da mesa. Isso é desenvolver personagens.
A linha para chegar em Mon Mothma é traçada através de Luthen (Stellan Skarsgard). Depois de deixar Cassian (Diego Luna) em Ahdani para se juntar com um grupo de rebeldes, este misterioso homem veste uma roupa fina, coloca anéis e até uma peruca. Logo, descobrimos sua fachada. Ele é o dono de uma galeria de arte, com foco em artefatos de milhares de anos atrás, em Coruscant. O disfarce não só permite a Skarsgard adicionar uma impressionante variedade de gestos e expressões faciais à sua atuação, como ajuda a estabelecer nossa crença no mundo de Star Wars. Há história aqui. Arqueologia. As pessoas compram presentes para seus amados em lugares assim. Coruscant, uma das melhores partes das prequels, ganha cores e sons aqui, e depois de ver como o planeta foi rapidamente enriquecido a proposta de passar mais alguns episódios nesta capital galáctica, e vê-la pelos olhos de Gilroy e sua equipe, é encantadora.
É na gigantesca cidade-planeta onde vemos o Império entrar em ação. A humilhação sofrida pelo inspetor Karn (Kyle Soller) não só trouxe consequências para ele e para o Sgt. Kostek (Alex Ferns), como para toda a Pre-Mor. A corporação foi dispensada pelo governo fascista, que agora cuidará diretamente do assunto da rebelião. O avanço dessa trama trás dois destaques. Primeiro, Karn é escanteado e, ainda guardando emoções como frustração, vergonha e ódio dentro de si, volta para a casa da mãe, onde é recebido com um tapa e abraço. Um cheque de realidade. Depois, algumas figuras imperiais são apresentadas. Disputando pela jurisdição de investigar o roubo cometido por Cassian e o ataque às forças da Pre-Mor estão o tenente Blevin (Ben Bailey Smith) e Dedra Meero (Denise Gough), recém promovida e tentando ganhar o respeito do seu superior, o Major Partagaz (Anton Lesser, ótimo em Game of Thrones e ótimo aqui). Dedra já acredita numa rebelião organizada, mas seus colegas são orgulhosos demais para dar crédito à ideia. Quais as chances?
A apresentação do Império dentro dos filmes de Star Wars tende a pender mais para o lado dos Sith com alguns vislumbres do jogo de poder visto aqui (uma característica vista em Rogue One, claro). Andor parece interessado em desenvolver mais estes personagens e os sistemas nos quais habitam, e ao mesmo tempo promover a percepção de estarmos muito distantes do envolvimento de alguém como Darth Vader. Há muito caminho pela frente.
O mesmo pode ser dito para os rebeldes. Mais ainda do que em Rebels ou Rogue One, o movimento, aqui, é minúsculo, modesto e frágil. Vel Sartha (Faye Marsay) é a líder da pequena célula na qual Cassian - sob o nome Clem - entra a convite de Luthen. Além dela, só há mais cinco membros — Karis (Alex Lawther), Arvel (Ebon Moss-Bachrach), Taramyn (Gershwyn Eustache Jr.), Cinta (Varada Sethu) e o tenente Gorn (Sule Rimi), um agente duplo infiltrado no Império — e mal há comunicadores para a equipe toda. Seu plano é roubar o pagamento e recursos de uma guarnição inimiga, e só há três dias para cumpri-lo de maneira “segura.” Isto é, com chances de sucesso.
Os novos membros do elenco são, todos, ótimos. Mais uma prova do talento nato de Nina Gold para escolher atores. Nenhum deles confia em Cassian ainda, mas eles apresentam o plano, no qual um festival trianual do planeta Ahdani será usado como rota de fuga, com a nave dos rebeldes indo para o espaço logo após uma espécie de chuva de cristais explosivos conhecida por deixar os céus brilhantes para quem está em solo, e perigosos para quem está no ar. Novamente, o olhar para construção de mundo e mitologia da série se mostra impar.
Andor é dividida em arcos de três episódios. Neste, veremos o princípio da rebelião numa ousada missão de roubo e o Império começando a perceber a existência dessa perigosa oposição. São riscos maiores para a série, que está ampliando seu escopo e rapidamente introduzindo vários novos jogadores para o tabuleiro. Por enquanto, Bix (Adria Arjona) e Maarva (Fiona Shaw) ficaram para trás, assim como os flashbacks da infância de Cassian. Agora, a guerra começa.