Andor é o derivado mais ousado, maduro e profundo de Star Wars - Crítica do Chippu

Andor é o derivado mais ousado, maduro e profundo de Star Wars - Crítica do Chippu

Criada por Tony Gilroy e com Diego Luna, série tem tons espetaculares de suspense de espionagem

Guilherme Jacobs
20 de setembro de 2022 - 6 min leitura
Notícias

Em junho, escrevi aqui sobre a necessidade de Star Wars de deixar seu passado para trás se quiser sobreviver, e listei alguns aspectos já cansativos da galáxia muito, muito distante. Histórias sobre os rebeldes. Período entre os Ep. III e IV. Tatooine. Andor, série criada por Tony Gilroy como prequel do prequel Rogue One, preenche dois desses três requisitos (o planeta deserto, felizmente, não dá as caras) e, portanto, tinha tudo para ser mais um sintoma dos problemas da Lucasfilm.


É muito bom estar errado.


Gilroy, um veterano de histórias de espionagem como a saga Bourne e roteirista do espetacular Michael Clayton, reúne uma equipe de elite como seu irmão, Dan Gilroy (O Abutre) e os diretores Toby Haynes e Susanna White para criar algo mais parecido com um romance de John le Carré. Tal como “A Garota do Tambor”, o protagonista — neste caso Cassian Andor (Diego Luna) — não começa um espião — neste caso um rebelde — mas sim um civil. Aos poucos, a tensão cresce, os riscos aumentam e o palco se torna mais ambicioso. É uma construção de mundo e trama excepcional, pouco dependente em referências ou fanservice como muletas, aliada por fotografia, trilha sonora e linguagem visual mais parecida com Slow Horses ou O Espião Que Sabia Demais do que, digamos, Obi-Wan Kenobi.


Andor nos mostra uma galáxia palpável. Há textura nas cenas. Cheiro. Com exceção de uma menção ao “Império”, os três episódios iniciais não tem nenhum easter egg ou referência a Star Wars. Essas pessoas existem. Elas não estão aqui para nos lembrar dos Jedi ou Sith, não são caçadores de recompensa ousados ou gladiadores Mandalorianos.


Se a proposta de um spinoff é expandir o mundo, então Andor cumpre essa função mais do que qualquer outra produção da Lucasfilm desde a aquisição da Disney. Vemos, aqui, imagens e ideias inéditas, mas não do tipo “outro design de Sabre de Luz.” Há lojas, galerias de arte, empregos e ambientes criados com cuidado através de um fabuloso design de produção cujo olhar detalhista traz os planetas à vida, sugere a existência de história, de habitantes com rotinas e cotidianos únicos. Somos apresentados a corporações trabalhando a serviço do Império e vemos a dinâmica de trabalho lá, as conversas de empregados, o desdém pelo discurso fascista, a insatisfação com o salário. A narrativa, nos primeiros três capítulos, acontece mais assim. Na direção, no visual.


Enquanto outros derivados de Star Wars parecem sempre trazer a história de volta aos Skywalkers ou personagens famosos, consequentemente reduzindo o tamanho do universo, Andor cumpre a promessa de realmente explorar a criação de George Lucas, mostrar novas facetas e detalhes. Mesmo se passando num período de tempo familiar e focando na já conhecida rebelião, seu tom mais adulto e sério e a forma minuciosa com a qual esta narrativa procura tratar suas figuras e cenários, Andor sugere uma galáxia riquíssima em mitologia, relacionamentos e atividades. Há vida em cada cena.


O roteiro é excelente desde o princípio, nos puxando pelos personagens antes de começar a revelar a trama mais complexa no quarto capítulo (a história de Andor é dividida em quatro blocos de três episódios). Investimos nessas pessoas não por suas conexões com Skywalkers ou Kenobis, mas sim pelo trabalho fabuloso de personagem feito por Gilroy e pelo elenco, incluindo Arja Ardona, Kyle Soller, Fiona Shaw, James McArdle, Stellan Skarsgard, Denise Gough, Anton Lesser e Faye Marsay. Andor os trata como criações tridimensionais, com problemas, desejos e qualidades totalmente à parte do enredo principal. Há tensões em casamentos, empregos rotineiros e até intimidade sexual. Essa é a história mais madura de Star Wars.


Não espere tons heroicos romantizando a jornada. Aqui, o foco está no que Star Wars normalmente varre para debaixo do tapete. Há bordéis, assassinatos, feridas sangrentas e traições. O melodrama (muitas vezes bem-vindo) dos filmes e séries da saga está ausente, dando lugar à maturidade no visual, na trilha sonora, atuações e especialmente no roteiro.


Ela não é, porém, vaidosamente sombria. Nada aqui é edgy. Andor não tenta transformar Star Wars em Cavaleiro das Trevas. Há mais sobriedade, afinal este é o período mais deprimente desta saga. O governo é fascista, devemos lembrar. A escuridão aqui serve para enfatizar o surgimento da luz, algo pontuado por Gilroy numa arrepiante e inesquecível sequência de ação no fim do terceiro capítulo, quando vemos os vislumbres da resistência.


Em Andor, por conta da atmosfera mais densa, a esperança não virá pelo simples acender de um sabre ou mencionar de um nome. Aqui, é preciso conquistá-la. Aos trancos e barrancos, pelo derramar de suor e sangue, por dor e sofrimento. Quando ela vier, então, seu poder será maior do que nunca.

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