Andor termina primeira temporada com uma das melhores horas de Star Wars já feitas - Crítica com Spoilers

Andor termina primeira temporada com uma das melhores horas de Star Wars já feitas - Crítica com Spoilers

"Rix Road," último episódio da primeira temporada de Andor, vai diretamente à essência do que é Star Wars

Guilherme Jacobs
23 de novembro de 2022 - 9 min leitura
Notícias

O manifesto escrito por Nemik (Alex Lawther) foi, desde a conclusão de Aldahni, profetizado por espectadores da série como o instrumento que um dia iria radicalizar Cassian (Diego Luna) e de uma vez por todas colocá-lo como inimigo do Império. Um Rebelde. Tony Gilroy, porém, tinha outra ideia. O showrunner de Andor usa o documento em “Rix Road”, o último episódio da primeira temporada da série de Star Wars, não como o empurrão final para o protagonista, mas sim como o ponto de exclamação. Junto com o discurso da falecida Maarva (Fiona Shaw, digna de indicações que infelizmente não virão), eles pontuam toda a mensagem deste ano debutante, amarrando o pacote com um lacinho de esperança e revolta.

Nemik está correto. A “ordem” instituída pelo Império é antinatural, uma tentativa vã e egocêntrica de regular a vida na galáxia, requer esforço constante. É preciso manter-se vigia de maneira incessante, apagando cada faísca imediatamente após elas surgirem, pois qualquer foguinho pode incendiar toda a floresta, e só cinzas restarão. Por isso, Dedra (Denise Gough), Syril (Kyle Soller), Partagaz (Anton Lesser), Blevin (Ben Bailey Smith) e todos os outros agentes imperiais se desesperam tanto para conter qualquer vislumbre de insurreição, e por isso coisas como Narkina-5, Alhadhni e, agora, Ferrix, são tão desastrosas para o Imperador.

Por isso, eles têm tanto medo de figuras como Nemik e Maarva.

Esses medos se materializam com este fantástico episódio final. Andor termina sua excelente primeira temporada onde ela começou, de volta a Ferrix, unindo praticamente todas as figuras importantes e linhas narrativas (com exceção da Mon Mothma de Genevieve O’Reilly, consequentemente presente nas cenas mais deslocadas do capítulo, ainda que a atriz seja excelente) na cidade durante a cerimônia fúnebre de Maarva, quando suas cinzas, misturadas com concreto, formam um tijolo, eternizando suas contribuições para a comunidade ao literalmente transformá-la em parte da fábrica dos prédios locais.

Em sua morte, Maarva — interpretada pela fantástica Fiona Shaw com um discurso emocionante e impactante o suficiente para nos comover mesmo através de um holograma — faz mais do que isso. Ela é um tijolo na construção da rebelião local. É como Nemik fala em seu manifesto. Seria um exagero descrever cada cidadão de Ferrix como um membro da aliança, mas eles são rebeldes. Eles já se alistaram na causa, quer saibam, quer não. É o filho construindo uma bomba caseira para vingar o pai. O cidadão sem nome cujos olhos revelam a fúria contra a injustiça. Eles chegaram ao limite.

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Cada um se torna uma pedra arremessada em direção ao delicado vitral de Dedra e seus Stormtroopers. A supervisora da BSI vai para Ferrix na esperança de capturar Cassian e descobrir a identidade de Luthen (Stellan Skarsgard), ciente da necessidade de capturá-lo vivo enquanto seus colegas preferem comemorar vitórias como a sobre Anto Kreegyr, cuja célula rebelde foi totalmente morta no sacrifício calculado permitido por Luthen. Syril também está lá, procurando alguma oportunidade para ajudar Dedra e ganhar pontos com Dedra. E, numa irônica reversão, Luthen, Vel (Faye Marsay) e Cinta (Varada Sethu) se fazem presentes, mas com o objetivo de matá-lo. O Império quer Cassian vivo, e os rebeldes buscam matá-lo.

Gilroy, aqui também na função de roteirista e repetindo a parceria com o diretor Benjamin Caron, constrói uma verdadeira sinfonia de tensão crescente, rapidamente posicionando cada peça no tabuleiro de Ferrix e estabelecendo possíveis pontos de conflito para cada uma. Ali está Syril do lado de Luthen, mas ignorante da presença do inimigo. Cassian está tentando salvar Bix (Adria Arjona) enquanto é caçado por Dedra, que obtém informações do seu paradeiro de traidores. Cinta e Vel circulam tudo.

No centro, porém, está o povo de Ferrix. Talvez a maior qualidade de Andor nessa primeira temporada tenha sido sua insistência sábia em manter os civis no foco das lentes, e como aconteceu com o povo tribal de Aldahni ou os prisioneiros de Narkina-5, agora é a vez de figuras coadjuvantes como Brasso (Joplin Sibtain), o jovem Wilmon (Muhannad Bhaier), as filhas de Ferrix e até B2EMO (Dave Chapman) iniciarem a revolta. Da potente e provocadora imagem de um garoto vivido por um ator do oriente médio construindo uma bomba como um ato heróico, à brilhante combinação do design de produção de Luke Hull, da trilha sonora de Nicholas Britell e dos figurinos de Michael Wilkinson durante a belíssima sequência de funeral, até à presença surpreendentemente emocionante do dróide no meio de tudo, colorindo os céus com o holograma de Maarva.

Abastecidos pelos gritos de luta da falecida idosa, e fartos da presença imperial, o povo parte para uma batalha elaborada por Caron como um verdadeiro protesto contra polícia, com fumaça encobrindo a visão e pessoas tentando quebrar uma linha de escudos antimotim, e usa a bomba de Wilmon como última peça para derrubar a estrutura fascista (paralelamente, a tentativa de um Stormtrooper de interromper a bigorna na torre não vai tão bem). Neste caos, Dedra quase é massacrada pela multidão furiosa, mas se salva graças ao oportunista Syril, Luthen parece revigorado pelo discurso de Maarva e deixa o local junto com Vel e Cinta, que matam alguns inimigos e precisam limpar sua presença, e Cassian consegue resgatar Bix aproveitando a confusão como cobertura e até derrubando um soldado de elite no processo. São minutos de prender a respiração. Sabemos que todos exceto Cassian correm risco de vida, e mesmo as mortes de personagens não conhecidos se provam devastadoras justamente pela forma como Gilroy e seus colaboradores nos fazem investir emocionalmente no sucesso do povo de Ferrix.

Este violento protesto dificilmente pode ser considerado um sucesso absoluto. Quando os Stormtroopers recebem a autorização de atirar, o massacre se prova grandioso, mas o clima ainda é vitorioso. É, porque sabemos como isso é prejudicial para o castelo de cartas fascistas capaz de cambalear diante de qualquer tremor. Não existem pequenas vitórias quando se trata da liberdade. Ver os imperiais em desespero, ver Bix, B2EMO e Brasso fugindo em segurança, e especialmente ver o sorriso de Luthen, uma demonstração de alegria que seu exterior misterioso não é capaz de conter, quando Cassian pede para ser recrutado, tudo isso cria essa sensação. Ferrix foi uma conquista.

Não à toa, Gilroy insere sua primeira e única cena pós-créditos de toda a temporada de Andor nesse finale. Vemos as peças fabricadas por Cassian, Kino (Andy Serkis) e companhia em Narkina-5 sendo usadas para construir a temível Estrela da Morte, a caríssima e poderosa arma do Imperador para limpar essas pequenas e letais rebeliões pela galáxia antes que elas possam se tornar contagiosas. Mas sabemos o futuro. Vimos Rogue One, vimos Uma Nova Esperança. Até essa gigantesca base e seus lasers antiplanetários se provam vulneráveis à teoria de Nemik. Basta um tiro no lugar certo, e tudo desmorona.

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