Andrea Riseborough no Oscar: Entenda a campanha mais polêmica, viral e possivelmente ilegal do ano
Através de tweets e ajuda de outros atores, atriz Andrea Riseborough conseguiu uma indicação ao Oscar por To Leslie. Como aconteceu?
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Se você estava no Twitter durante o anúncio dos indicados ao Oscar, deve ter notado que a maior reação não foi à ausência de James Cameron em direção, ou à surpreendente indicação de Paul Mescal por Aftersun, mas sim a presença de Andrea Riseborough na disputa por Melhor Atriz pelo filme To Leslie. Para quem acompanha casualmente a corrida pelos prêmios, o nome de Riseborough ali pode ter significado pouco, mas seguidores atentos viram a sua nomeação como uma possível mudança sísmica em como acontecem as campanhas para Oscar e afins. Por que? Vamos por partes.
Quem é Andrea Riseborough?
Nascido na Inglaterra em 1981, Riseborough é formada na academia real de arte dramática do Reino Unido, e após alguns anos no teatro começou a aparecer em produções maiores. Entre seus principais papéis estão Oblivion, ao lado de Tom Cruise, Birdman, pelo qual ela venceu o SAG Award de Melhor Elenco junto de seus colegas, e em filmes de gênero que hoje são hits cult, como Mandy - Sede de Vingança, com Nicolas Cage, e o espetáculo perturbador Possessor, de Brandon Cronenberg. Ah, e ela está em um dos episódios mais perturbadores de Black Mirror — "Crocodile." Agora, ela é a estrela de To Leslie.
O que é To Leslie?
Primeiro, levante a mão se você já ouviu falar de To Leslie. Agora, imagine todos os outros leitores desse texto ao seu lado e só um ou outro, os mais online, com os braços levantados. Okay, olhos pra frente da classe novamente.
Com exceção de uma indicação no Spirit Awards, uma espécie de "Oscar indie", To Leslie e Riseborough não eram, até a última terça (24), palavras recorrentes na temporada de premiação. Dirigido por Michael Morris, o filme estreou no SXSW do ano passado, e conta com Riseborough no papel de Leslie, uma mãe solteira no Texas que ganha a loteria mas começa torrar o dinheiro rapidamente. Marc Maron (Coringa), Owen Teague (Kingdom of the Planet of the Apes), Allison Janney (The West Wing) e Andre Royo (The Wire) completam o elenco.
Novamente, para alguém mais distante do cenário, não ouvir falar de To Leslie pode não significar nada demais. Talvez você também tenha ouvido de Aftersun até o primeiro parágrafo desse texto. Mas até dentro da comunidade cinéfila, o filme era pouquíssimo conhecido até aproximadamente duas semanas atrás, quando uma das mais inusitadas, eficazes e agora polêmicas campanhas da história do Oscar começou, e eventualmente garantiu a indicação. Falando isso...
Como foi a campanha de Andrea Riseborough para o Oscar?
A campanha de Riseborough começou a ser notada quando, por exemplo, ao receber seu prêmio no Critics Choice Awards por TÁR, Cate Blanchett mencionou, aparentemente do nada, o nome da atriz de To Leslie. Não só isso, mas Blanchett, de longe a favorita para levar o Oscar de Melhor Atriz, fez questão de realçar Riseborough como uma das grandes atuações não indicadas pelo Critics Choice Awards (ou, na real, por qualquer prêmio além do Spirit).
Isso foi só o começo. Pouco tempos tempos, vimos nomes conhecidos como Edward Norton tuitando sobre Riseborough e To Leslie, figuras famosas como Amy Adams realizando exibições do filme para votantes da Academia, e Charlize Theron fez o mesmo.. Gwenyth Paltrow colocou no seu Instagram. Howard Stern mencionou no seu podcast. JenniferAninston foi às redes sociais. E, agora, Riseborough está no Oscar.
Foi graças a Matt Belloni, entre outros, que descobrimos os bastidores. Segundo o ex-editor-chefe do Hollywood Reporter e um dos fundadores do newsletter Puck, a esposa do diretor de To Leslie, Mary McCormack, foi a grande arquiteta do movimento ao lado de Jason Weinberg, agente de Riseborough. Casada com Morris desde 2003, ela é tão bem conectada na indústria quanto o cineasta, seja por amizades pessoais ou contatos de agência, e ao invés de gastar milhões garantindo propagandas, realizando eventos ou gerando atenção, McCormack e seus, digamos, conspiradores, simplesmente acionaram seus conhecidos através de emails e mensagens pedindo para assistirem ao filme. Se eles gostassem, então poderiam divulgá-lo. É justo dizer que Norton, Adams e companhia fizeram bem mais do que isso.
A campanha de Andrea Riseborough para o Oscar foi ilegal?
Agora, após alguns dias de choque, memes, surpresas e, com certeza, outros gerentes de campanhas muito frustrados (em especial, os das não indicadas Viola Davis e Danielle Deadwyler), a Academia está avaliando a validade da indicação de Riseborough.
Novamente de acordo com Belloni, a Academia pretende analisar a questão na sua reunião na próxima terça-feira (31). É contra as regras do Oscar contatar membros da Academia diretamente para promover um filme ou atuação, e há inúmeras normas para o que pode ser enviado, para que tipo de email é permitido, e até para quanta comida e bebida pode ser servida em eventos. Lobbying, em teoria, é proibido. Claro que os mais veteranos dentro desse jogo sabem operar dentro disso e testam os limites do que é legal dentro da Campanha, mas talvez pelo burburinho gerado pela indicação de Riseborough, esse caso em específico receberá mais atenção.
Belloni cita um email enviado por McCormack pedindo para que uma pessoa em especial, se possível, postasse sobre To Leslie todo dia até 17 de janeiro. Literalmente, todo dia. Há mais questões para serem avaliadas, mas por enquanto, Andrea Riseborough vai disputar o Oscar.