O título desse artigo quase foi "Andrew Garfield merecia mais." Mas é difícil dizer isso ao falar de um ator de 38 anos cuja carreira já inclui atuações para mestres como Martin Scorsese e David Fincher, além de vozes recentes e em ascensão como David Robert Mithcell, Gia Coppola e Lin-Manuel Miranda. Ainda sim, porém, é difícil não ter essa sensação depois de vê-lo roubar a cena com sua aparição surpreendente e emocionante em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa. Ele merece mais.

Particularmente, seu Homem-Aranha merecia mais.

A sacada mais inteligente sobre Sem Volta Para Casa veio do nosso fundador Thiago Romariz. Conversando comigo, ele apontou como o novo filme serve para concluir o arco inacabado do Peter Parker de Garfield, deixado para trás com O Espetacular Homem-Aranha e O Espetacular Homem-Aranha 2, mas sem um término de trilogia como Tobey Maguire ou Tom Holland. Seu luto pela morte de Gwen Stacy (Emma Stone) jamais foi processado, seu personagem ficou preso no tempo - com pensamentos sombrios, socos mais fortes e irresponsáveis e sem tempo ou disposição para procurar uma nova namorada.

Nas três vezes nas quais vi Sem Volta Para Casa, há dois momentos nos quais as salas perdem totalmente o controle: a entrada de Tobey Maguire e quando Garfield salva MJ (Zendaya) do mesmo destino de sua Gwen, poupando Holland da mesma escuridão na qual ele viveu por anos e finalmente se redimindo pelo erro com sua namorada. Esse é um dos exemplos do argumento acima. Sabendo da dificuldade do próprio Garfield em superar o término com Stone, seu choro de ao salvar a garota ganha um Sem Volta Para Casa o ajudou a seguir o arco narrativo de um eventual O Espetacular Homem-Aranha 3, filme que, apesar das petições, não deve acontecer.

Por não ter a carga nostálgica da trilogia de Sam Raimi ou o peso do MCU por trás, seu Peter Parker entrou em Sem Volta Para Casa sem a mesma quantidade de fãs dos outros dois. Isso não é surpresa. Diferente de Garfield, seus filmes não foram espetaculares. O romance real entre o ator e Stone banha as cenas entre Peter e Gwen de uma química simplesmente inexistente nas outras encarnações cinematográficas do herói, tirando total proveito da experiência com romances do diretor Marc Webb, mas as tentativas da Sony Pictures e do roteirista de construírem uma franquia em volta dele tornaram suas histórias confusas, lotadas de vilões e personagens, e com conexões forçadas. O tratamento do pai de Peter, por exemplo, é inexplicável.

Mas é possível argumentar que nenhum Peter sai de Sem Volta Para Casa sendo tão celebrado. Sim, Holland é o grande destaque e seguirá como centro de atenção, mas Garfield é o MVP. O filme simplesmente não funcionaria da mesma forma. Entre o já mencionado resgate de MJ, a confissão de "amar" os outros Peters, a admissão de se achar inferior e a excelente atuação de Garfield, carregando cada momento - seja de humor ou choro - com ainda mais energia (boa sorte aos outros Peters tentando transmitir as mesmas expressões faciais de Andrew), Garfield mostra o quanto ainda tinha para dar como o Amigo da Vizinhança.

Então, é. O Homem-Aranha de Andrew Garfield merecia mais. Provavelmente não veremos um O Espetacular Homem-Aranha 3, sua variante não deve retornar ao MCU, e o ator provavelmente está mais interessado em continuar a expandir seu currículo do que um retorno ao uniforme colante. Felizmente, tivemos Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa e, dessa vez, Peter 3 salvou a garota.