
Between the Temples: Jason Schwartzman navega fé e luto em ótima comédia melancólica
Dirigido por Nathan Silver, filme foi um dos melhores do Festival de Sundance 2024.

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Em sua carreira, Jason Schwartzman já interpretou alguns personagens cujo humor seco parecia revelar feridas profundas. Mais recentemente em Asteroid City, uma das várias colaborações do ator com Wes Anderson, vimos uma versão disso semelhante ao que ele faz em Between the Temples, seu ótimo novo trabalho que estreou no Festival de Sundance.
A diferença é que no filme, dirigido por Nathan Silver, Schwartzman combina sua já provada mistura de comédia atrapalhada com luto quieto com um exame da fé judaica, assim como das dinâmicas dessa comunidade, para construir uma divertida mas muitas vezes melancólica história sobre como momentos de perda nos levam a analisar nosso passado para então decidir algo sobre nosso futuro.
Um ano após perder sua esposa Ruth, Ben também perdeu sua voz. Ele é cantor numa sinagoga nova-iorquina, onde lidera a congregação na hora do louvor e também ensina crianças na preparação para seus bar e bat-mizvás. Normalmente, seus alunos não são mais velhos do que pré-adolescentes, por isso quando Carla Kessler (Carol Kane), que já é avó, entra em sua sala de aula dizendo que quer finalmente passar pela cerimônia, a surpresa é grande. Ela fica ainda maior quando ele lembra que Carla foi sua professora de música na infância.
Também lidando com a perda de um cônjuge, Carla não só se torna uma boa amiga que inicia em Ben o despertar de uma nova apreciação pela vida, como também o faz redescobrir o significado de seus símbolos de fé. É um ótimo processo para ele, mas não tanto para sua família. A mãe (Caroline Aaron) e sua esposa (Dolly De Leon), junto com o rabino (Robert Smigel) querem juntá-lo com Gabby, a filha do mestre da sinagoga.
Das várias maneiras criativas com as quais Silver comunica suas ideias — incluindo uma hilária montagem na qual Ben e Carla bebem chá de cogumelos e vão parar numa viagem que borra as linhas entre passado e presente — talvez nenhuma represente tão bem o interesse de Between the Temples em encontrar um novo caminho para seu protagonista quanto o fato de que Gabby é interpretada por Madeline Weinstein. A atriz, que é magnética e apaixonante toda vez que entra em cena, também interpreta (em fotos, basicamente) Ruth, a falecida esposa de Ben.
São toques como esse que Silver aplica para informar o estado emocional do personagem, cuja depressão parece ter colocado em check todos os seus fundamentos. Schwartzman, excelente no tipo de piada mórbida comum em Between the Temples, é o ator perfeito para o papel, e entrega uma atuação que por um lado confirma suas forças como arista, e por outro o desafia a carregar o centro do longa com seus gestos equilibrados entre o absurdo e o íntimo.
Tanto é, que não é exagero dizer que a relação entre ele e Carla funciona em grande parte pela química entre ele e Kane, outra pessoa rotineiramente associada à linha tênue entre comédia e tragédia. Enquanto exala a tristeza de sua personagem pelos olhos, ela insere com sua risada fácil e voz marcante uma dose de esperança na vida de Ben em todas as suas interações.
É um prazer assistir ao desabrochar do relacionamento deles, mas Between the Temples tropeça um pouco quando Silver transforma Carla num outro interesse romântico para Ben. Como ideia, não é uma proposta inconcebível, mas isso simplifica demais a situação fascinante e complicada do protagonista. Gabby, como a escalação de Weinstein deixa claro, representa seu passado. Carla, outra figura de tempos anteriores, passa a ser seu futuro. Escolhê-la, romanticamente, é dar os passos pra frente.
Sem dúvidas, essa estrutura confere a Between the Temples uma ótima maneira de encenar o crescimento de Ben, mas a tensão da transformação de sua relação com Carla num romance não é explorada para além de algumas piadas (engraçadas) no jantar climático do filme, um verdadeiro espetáculo de desconforto. Particularmente devido à dinâmica materna de suas primeiras conversas, isso merecia ser mais explorado.
Ainda assim, Silver navega com muita naturalidade entre o incômodo e o lúdico, e ao banhar seu filme com a fotografia pigmentada do fantástico Sean Price Williams (em suas lentes, toda imagem ganha anos de história e nos transporta para outro mundo), sempre encontra a humanidade por trás do riso inerente às situações frequentemente esquisitas de Between the Temples, contando com Schwartzman e Kane como ponte entre o ridículo e verdadeiro.
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