Por que os filmes da DC Comics estão fracassando?
Com quatro flops seguidos na bilheteria, DC Comics se prepara para um reboot que pode chegar tarde demais para salvá-la
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Parece ter virado uma tradição. A cada três ou quatro meses, um novo filme da DC Comics chega aos cinemas com a promessa de que "agora vai!" Foi Dwayne Johnson prometendo reestruturar toda a hierarquia do universo (inclusive por trás das câmeras) e falhando em Adão Negro, foi The Flash, o suposto melhor filme de herói em anos, e Besouro Azul, uma simpática mas básica volta ao feijão com arroz que, mesmo se conectando com o público latino, não fez barulho. E Shazam! Fúria dos Deuses... bom, ninguém realmente botou essa fé nele, né?
Desde outubro de 2022, quatro filmes live-action da DC entraram em cartaz, e nenhum deles alcançou suas expectativas de bilheteria (a animação também não foi muito bem), com mais de um deles encerrando seu tempo em cartaz no prejuízo e dependendo dos resultados em VOD e streaming para, quem sabe, pagar os boletos a tempo. No processo, a marca está apanhando. Em meio aos disse-me-disse dos bastidores, às polêmicas cansativas de fanbases órfãs de um diretor cujo sucesso nunca foi tão grande quanto parece, e às decepções financeiras, a divisão de heróis da Warner Bros. Discovery prepara-se para um reboot nas mãos de James Gunn e Peter Safran; mas esse recomeço pode chegar tarde demais para salvá-la.
Por que isso está acontecendo? Não acho que seja um problema apenas de qualidade. Desses quatro últimos blockbusters, só Adão Negro, pra mim, é uma bagunça completa. Certamente não acho que os outros três são ótimos, mas se há sete anos ser "bom o suficiente" era suficiente para que um longa de HQ encontrasse sua audiência, hoje não é mais. O tempo passou, os padrões subiram, e uma simples história de origem ou um filme decente não escapa mais só porque é baseado em quadrinho.
Filmes da DC nunca foram garantia de sucesso
Passeie pelo Twitter, e você verá uma série de debates emocionados sobre o que está acontecendo, e qual é a razão disso tudo. A maioria deles vem dos fiéis à visão de Zack Snyder e ao seu universo compartilhado, um mundo no qual os dois maiores sucessos vieram em projetos onde seu envolvimento foi mínimo, e cujos próprios filmes arrancaram números sólidos, mas nunca incríveis, na bilheteria. O Homem de Aço foi bem o suficiente para dar início ao DCEU, mas quando Batman vs. Superman não fez US$ 1 bilhão, a Warner começou a se preocupar. Então, veio a bagunça de Liga da Justiça, e quando Snyder finalmente retornou com seu corte messiânico, este não superou Mortal Kombat no HBO Max.
Mas não pense, caro leitor, que Snyder era o problema. A herança de sua abordagem não ajuda, mas se ele fosse a única causa, os lançamentos recentes da DC não estariam na posição que estão. Entendo o argumento que esse é o mesmo universo criado por Snyder, e os filmes seguem sua estética muitas vezes cansativa e tom indulgente, mas Adão Negro e Besouro Azul têm muito mais a ver com seus diretores e atores do que com o cineasta que iniciou o DCEU.
Na verdade, ao longo dos anos, a marca DC nunca se tornou sinônimo de sucesso consecutivo com o grande público nos cinemas. A exceção à regra, claro, é Batman. Tirando os filmes de Joel Schumacher, o Homem Morcego alcançou um patamar de popularidade rivalizado apenas pela maior joia da Marvel, Homem-Aranha, e se tornou uma aposta tão segura que até mesmo projetos de seus vilões viram hits, como vimos com Coringa e, eu argumentaria, com o primeiro Esquadrão Suicida, cujo marketing se apoiou muito no Coringa e Arlequina.
Remova Gotham da equação, e a coisa fica muito mais incerta. Os primeiros dois Superman de Christopher Reeve foram fenômenos, e o DCEU teve dois feitos impressionantes em Mulher-Maravilha e Aquaman, o improvável dono da maior bilheteria de qualquer filme da DC. Se você discordar de mim sobre a associação do Esquadrão Suicida de 2016 com o Batman, tudo bem. Inclua aqui. A quantidade de fracassos nas propriedades não relacionadas a Batman continuam muitas.
Superman IV,Superman - O Retorno, Supergirl, Mulher-Gato*, Lanterna Verde, Jonah Hex, e tudo de Adão Negro pra cá. Alguns deram mais prejuízo, outros foram mais bem-avaliados, mas nenhum se firmou. Flash teve dois Batmans e mesmo assim não atraiu as pessoas. Vez por outra você tem um ponto fora da curva como Constantine de Keanu Reeves, mas até aí temos algo mais apoiado na ideia do sobrenatural do que quadrinhos.
*Teoricamente uma vilã do Batman, mas sejamos honestos. Não tem nada da Mulher-Gato no filme.
Claro, há exemplos positivos. A maioria deles envolve o Batman, alguns envolvem o Superman. Mas a ideia de que a DC está falhando porque com a saída de Zack Snyder os "fãs da DC" pararam de ir ao cinema ignora o simples fato de que "fãs da DC" nunca garantiram sucesso algum.
O problema vai além da DC, e inclui a Marvel
Na verdade, fãs de quadrinhos não parecem mais o suficiente para fazer filmes de herói se tornarem gigantes de bilheteria, ponto final.
Essas adaptações desfrutaram uma sequência sem precedentes de aprovação desde 2002-2005, quando Sam Raimi e Christopher Nolan começaram as trilogias de Homem-Aranha e Batman, até 2019, quando o MCU terminou a Saga do Infinito com Vingadores: Ultimato e alcançou o auge monetário deste gênero. Naturalmente, se espera que isso continue. Mas não é o que está acontecendo.
Excluindo uma produção da Sony, Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (Homem-Aranha está para Marvel como Batman está para DC), nenhum filme do MCU desde Vingadores: Ultimato ultrapassou a tão frequentemente conquistada marca de US$ 1 bilhão, e o último, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, ficou muito abaixo do esperado pelo estúdio. Confesso que não acho injusto dizer que Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, mesmo com mais de US$ 800 milhões arrecadados, não chegou nos dígitos bilionários que Kevin Feige desejava, mas não vou travar esta luta.
Na verdade, parece que um filme (que não envolve Batman ou Homem-Aranha) nesses últimos 12 meses veio e fez o esperado: Guardiões da Galáxia Vol. 3, dirigido e concebido por, claro, James Gunn. Aqueles que ainda não largam o DCEU apontam para a escolha de Gunn, alguém cuja arte parece diametricamente oposta à de Snyder, para liderar o novo DC Studios como a causa dessa queda. Os fãs não estão indo em revolta a Gunn, eles dizem.
É um argumento, francamente, idiota. Gunn foi um dos únicos a lançar um filme de herói que não decepcionou na bilheteria recentemente, e não esteve criativamente envolvido com nenhum desses flops da DC. Eles saíram durante sua gestão, mas foram concebidos uma ou duas administrações atrás. Na verdade, a maior parte deles, visualmente, está de acordo com os fundamentos fincados por Snyder há uma década. Mas esse debate perde de vista o que parece ser a principal causa disso tudo.
Não são apenas filmes da DC que estão fracassando. Filmes de heróis, como um todo, simplesmente não atraem mais os mesmos públicos.
Não foram só os seguidores dedicados que ajudaram o MCU ou Nolan a atingir os céus. A audiência casual, que nem sabe que a DC passará por um reboot em 2025 e nem lembra dos nomes de Gunn e Snyder, foi a principal causa. Alguns se preocupam se o reboot "tira a importância" de algo como o próximo Aquaman, como se a primeira aventura solo de Jason Momoa tivesse feito US$ 1 bilhão com base em quem sabe do reboot. Essas pessoas não estão mais lotando as salas do mesmo jeito. Se coerência de universo fosse a saída pra DC, Coringa não teria feito o que fez.
Homem-Aranha e Batman quase sempre vão dar certo (ver: The Batman, Através do Aranhaverso) por conta do status que esses personagens possuem, mas este meio está cambaleando. Virou rotina gritar "crise na Marvel!" ou "crise na DC!", então não quero, aqui, parecer desesperado porque o céu está caindo, mas algo mudou. O público enjoou, a qualidade caiu, saturou. Seja o que for, aconteceu. Provavelmente uma mistura dos três.
Nesse sentido, a grande sorte da DC é que, depois de Aquaman 2: O Reino Perdido, o único longa-metragem baseado em suas histórias agendado para sair até julho de 2025 é Coringa 2, e seu bom desempenho já parece garantido. James Gunn terá pelo menos um ano e meio para deixar as feridas que a marca DC vem sofrendo cicatrizarem e tentar começar tudo do zero com Superman: Legacy.
Mas como eu disse, e se esse reboot chegar tarde demais? Até lá, a Marvel vai continuar lançando filmes, a Sony fará live-actions de Kraven e Madame Teia, e talvez o cansaço com adaptações de HQs só piore. Daqui a dois anos, poderemos avaliar o que ele conseguiu, ou não. Hoje, a culpa não é dele, nem de Zack Snyder. A culpa, talvez, seja nossa. Queremos outras coisas. Bonecas, encanadores de videogame, físicos nucleares, alienígenas azuis. Só não queremos heróis.*
*Mas se for Batman ou Homem-Aranha, tudo bem.