Bob Iger vs. Nelson Peltz: Entenda a luta pelo futuro da Disney que acontece nesta quarta (3)
Reunião de acionistas da Disney pode ter consequências importantes para a empresa
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Nos últimos meses, uma das maiores preocupações de Bob Iger, CEO da Disney, não veio de bilheterias ou assinantes de streaming, e sim dos bastidores da empresa, onde uma luta por assentos no conselho está sendo travada. Seu rival na batalha é Nelson Peltz, investidor apoiado por Ike Perlmutter, o infame ex-CEO da Marvel (que quase demitiu Kevin Feige), e esta quarta-feira (3) é o dia da reunião que decide o vencedor.
Quando é a reunião de acionistas da Disney, e como acompanhar?
Na reunião de acionistas da Disney (que será transmitida ao vivo aqui, apenas em inglês, às 14h do dia 3), além de revisar os resultados financeiros e fazer anúncios para o futuro, a empresa irá eleger o novo conselho, com 12 membros. Tipicamente, a relação de nomes proposta pela própria empresa, e encabeçada pelo CEO, é aprovada sem grande alarde, mas em 2024, a situação é diferente.
O campo de Peltz parecia morto até duas semanas atrás, quando duas firmas que aconselham acionistas de grandes empresas deram seu selo de aprovação para sua campanha, que estima ter gasto mais de US$ 25 milhões ligando para acionistas, comprando publicidade e assim vai. Em sua campanha contra eles, a Disney gastou US$ 40 milhões.
Nesta quarta, teremos o resultado disso tudo. Os acionistas da Disney, que diferente de outras empresas incluem muitas pessoas individuais, além de firmas de investimento, vão votar e os 12 nomes com mais votos receberão vagas no conselho. Um desses pode ser Nelson Peltz.
Peltz é um investidor que trabalha justamente nas posições de diretoria e conselhos de empresas. Ele teve participações na Heinz, Wendy's e General Electric, onde forçou um CEO a sair para instituir um executivo de sua escolha no comando (este, também, foi subsequentemente demitido). Ele, porém, não tem nenhuma experiência no ramo do entretenimento.
Com o apoio de Perlmutter, Peltz e o ex-chefe de finanças da Disney, Jay Rasulo, querem assumir duas das 12 vagas do conselho. Ambos foram apontados pela Trian Fund Managemet, firma que tem US$ 3.5 bilhões em ações da Disney (aproximadamente 32 milhões de ações, das 1.83 bilhão da empresa). Perlmutter é responsável por 79% das ações da Disney dentro da Trian.
O argumento da Trian e Peltz, é que o valor das ações da Disney está baixo demais, que a empresa perdeu sua posição de liderança na bilheteria, e, muito importante, que o time de Iger falhou no importante trabalho de encontrar um sucessor (Iger apontou Bob Chapek, que foi demitido, abrindo espaço para o retorno de Iger). Eles dizem, também, que os acionistas perderam mais de US$ 200 bilhões no valor de ações, e demonstram desconfiança na capacidade do conselho apontado por Iger para recuperar isso tudo.
As ações da Disney, na verdade, estão 35% mais valiosas do que há um ano. É verdade que, observando os últimos três a cinco anos, o valor caiu, mas Iger e seu time têm conquistado força, e já estão colocando em ação muito do que Peltz e Trian propõem: foco em grandes franquias, corte de gastos, apostas nas transmissões esportivas e até explorar a venda de canais de televisão.
Peltz também tem tentado construir força com base no argumento de que a Disney está "woke" demais. Ele criticou, por exemplo, a produção de um filme com elenco negro, como Pantera Negra. Essa é uma tentativa de conquistar acionistas mais à direita.
Até algumas semanas atrás, Peltz e Rasulo, o time da Trian, pareciam ter perdido gás. Então, alguns apoios surgiram: a Institutional Shareholders Services (ISS), que recomendou Peltz (mas não Rasulo), e a Edgar-Jones Ratings Co., que apoiou os dois Por fim, a CalPERS, fundo de pensão da Califórnia que tem 6.65 milhões ações da Disney, já declarou voto a faor de Peltz e Rasulo. Vale ressaltar, porém, que apenas a CalPERS tem poder de votos entre esses.
O campo de Iger, porém, parece ter mais apoio. George Lucas, maior acionista individual da Disney, declarou apoio para Iger. Michael Eisner, ex-CEO da empresa, Laurene Powell Jobs, a maior acionista da empresa, e a família de Walt Disney, incluindo sua filha Abigail, estão do lado do atual CEO.
Iger e a Disney têm ressaltado, e muito, os resultados positivos dos últimos trimestres, a mudança de estratégia que a empresa tem aplicado com os cortes de gastos e foco em grandes filmes, e a falta de experiência de Peltz no mundo do entretenimento como seus principais argumentos contra a Trian.
Os votos podem ser declarados antes da reunião, e até então, Iger está na frente (segundo o WSJ). Só teremos certeza, porém, quando a reunião de acionistas terminar, e tivermos uma resposta.
O que acontece se Nelson Peltz ganhar?
Primeiro, será um grande voto de desconfiança dos acionistas em direção a Iger, que tem contrato até 2026. É difícil imaginar o CEO saindo da empresa antes disso, e por mais que Peltz e a Trian ganhem mais força nos próximos dois anos, os rumos estratégicos tomados por Iger nos últimos meses não são tão diferentes do que seus rivais propõem.
Peltz e a Trian, inclusive, declararam apoiar Iger como CEO e membro do conselho, e não dizem não querer forçar sua saída. É uma declaração estratégica. A maior parte dos acionistas não gostaria de outra troca de liderança agora, mas isso não impediria Peltz de enfraquecer Iger aos poucos.
Iger, por exemplo, perderá força na escolha de um sucessor. É por isso que Peltz tem falado tanto do fracasso de Chapek. Em empresas desse porte, a escolha de um novo CEO é um dos trabalhos mais importantes de um líder em saída, e Iger, aos olhos de muito, falhou nisso.
Se o novo sucessor vier com apoio de Peltz, Rasulo e Perlmutter, que tem uma rivalidade pessoal com Iger, então a Disney de 2026 em diante pode ser bem diferente.