Cannes: 5 pérolas escondidas que vimos no Festival
Terror atmosférico, documentários musicais e Power Rangers do cigarro
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O Festival de Cannes deste ano foi marcado por grandes filmes de grandes diretores - como Armaggedon Time de James Gray, Decision to Leave de Park Chan-wook e Broker de Hirokazu Koreeda - mas entre a seleção principal e festivais paralelos, como a Quinzena dos Diretores, vários títulos menos prestigiados mas não menos interessantes estrearam na Croisette. O Chippu selecionou cinco que merecem mais destaque.
Enys Men
Este terror atmosférico de Mark Jenin foi um dos filmes mais desafiadores e experimentais de Cannes este ano (pelo menos 15 pessoas saíram da minha sessão). Com apenas algumas linhas de diálogo, Jenin nos transporta para a ilha abandonada de Enys Men, onde existe um monumento para o qual pessoas que sofreram alguma perda ou trauma vão. Um quadro pendurado na casa da única habitante (uma curiosa e atormentada Mary Woodvine) sugere a existência de uma conexão com os mortos. Ela está lá para observar flores, mas parece buscar outra conexão. Segue-se uma cativante e transportadora jornada de abstratos com sequências onde realidade e tempo são distorcidos. Esse não é pra todos, mas quem gostar será transportado.
War Pony
A estreia diretorial de Riley Keough e Gina Gammell pode até ter alguns erros de iniciantes - ao tentar levantar diversos temas, as duas acabam não olhando de maneira profunda em quase nenhum - mas as diretoras estreantes trouxeram um dos filmes mais energéticos e divertidos do Festival. Através das vidas de Bill (Jojo Baptise Whiting) e Chano (LaDainian Crazy Thunder) numa reserva indígena da Dakota do Norte, somos apresentados a diversos personagens memoráveis. War Pony faz um trabalho fantástico de nos transportar para um local com verdadeiro senso de atmosfera e comunidade. O elenco não profissional ajuda a trazer à vida as ruas, casas, problemas, vícios e costumes da região.
Smoking Causes Caughing
Quentin Dupieux não faz filmes normais. O visionário diretor por trás de Rubber: O Pneu, satiriza vícios e hobbies destrutivos em sua hilária e absurda comédia Smoking Causes Caughing. O filme retrata algumas missões e histórias da equipe meio Super Sentai/Power Rangers conhecida como TabaForce. A Força Tabaco. Usando poderes de nicotina, amônia, metanol e mercúrio, eles destroem monstros espaciais. Só melhora. Dupieux traz uma série de ideias visuais indescritivelmente criativas e engraçadas. Nem todas as piadas funcionam, e algumas passam um pouco do ponto, mas quando Dupieux acerta, é impossível não rir ou ficar de queixo caído. Ou, na maior parte do tempo, os dois.
Jerry Lee Lewis: Trouble in Mind
Talvez o filme mais idiossincrático de Cannes 2022 seja Trouble in Mind, documentário de Ethan Coen sobre o astro de rock ‘n’ roll (e depois country) Jerry Lee Lewis. Traçando sua ascensão, diversas polêmicas e durabilidade, Coen captura não só a sensação acelerada e dinâmica de sua música (muito graças à fantástica edição), como o aspecto grandioso e hilário de sua personalidade. Apesar do título, há muito pouco sobre a mente do cantor e pianista, e alguns assuntos mais delicados são mencionados mas nunca explorados, mas o filme captura o mito de Jerry Lee Lewis de maneira cativante para ambos conhecedores e iniciantes.
The Silent Twins
The Silent Twins quase seria inacreditável se não fosse uma história real. Menos uma cinebiografia e mais um conto de fadas capturando amor, tragédia, laços inquebráveis e as particularidades de duas mentes especiais (em vários sentidos), este drama sobre gêmeas June e Jennifer Gibbons explora a vida, amadurecimento e durezas de duas irmãs que não se comunicam com ninguém a não elas mesmas. Letitia Wright e Tamara Lawrence entregam atuações vulneráveis e poderosas nos papéis principais, compensando até algumas decisões estranhas da diretora Agnieszka Smoczynska.