Aquaman 2 mata o DCEU por afogamento

Aquaman 2 mata o DCEU por afogamento

O novo filme de James Wan com Jason Momoa encerra este universo DC por baixo

Guilherme Jacobs
20 de dezembro de 2023 - 7 min leitura
Notícias

Não há nada sobre o fim do DCEU, o agora antigo universo cinematográfico de Batman, Superman e Mulher-Maravilha, em Aquaman 2: O Reino Perdido. Último filme da continuidade iniciada há uma década por Zack Snyder, o longa estrelado por Jason Momoa é uma aventura isolada que jamais olha para além dos mares de Atlântida, e tampouco para a ideia de que dez anos de personagens estão chegando ao fim. Francamente, ele nem precisa.

O período de um ano e pouco desde Adão Negro é o pior dessa marca — e olhe que não há falta competição — e o Reino Perdido coroa essa sequência negativa com mais um filme claramente bagunçado no processo de pós-produção, amarrado por visuais irregulares e um roteiro que apesar de suas várias cenas nas profundezas não consegue, e nem tenta, ir além da superficiliadade. Aquaman 2 não precisa nos dizer que o DCEU vai acabar. Basta assistir a estes filmes para ver que o oxigênio está acabando.

Aquaman 2: Saiba o que acontece na cena pós-créditos

Mais uma vez dirigido por James Wan, que fez do primeiro Aquaman uma divertida, mas esquecível aventura pelo globo, brilhando quando sua criatividade para monstros transformou os mares numa espécie de Star Wars submerso, O Reino Perdido mostra Arthur (Momoa) lidando com diversas responsabilidades e adversários; além da dificuldade de governar uma nação cujo Conselho o detesta, ele e Mera (Amber Heard, plenamente presente no filme, apesar do que dizem por aí) tiveram um filho, e para piorar tudo isso o herói precisa se reconciliar com seu irmão, e vilão do longa passado, Orm (Patrick Wilson) se quiser ter alguma chance de derrotar o vingativo Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), agora dono de um tridente amaldiçoado e um exército privado de capangas (portugueses, aparentemente) sem personalidade, com exceção do cientista Shin (Randall Park), disposto a ajudá-lo para realizar o sonho de ver a cidade lendária.

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Se o último parágrafo parece uma bagunça, não culpe apenas minhas limitações de escrita. Assim como seu protagonista, Aquaman 2: O Reino Perdido tem muita dificuldade em equilibrar a quantidade de temas e linhas do roteiro de David Leslie Johnson-McGoldrick (baseado numa história de Wan e Momoa). O herói eventualmente chega lá, auxiliado por acontecimentos telegrafados e discursos motivacionais, mas o filme não tem a mesma sorte.

Pelo menos parte dessa jornada é povoada pela imaginação de Wan, especialmente nos primeiros 30 minutos quando acompanhamos as explorações submarinas do Arraia Negra em oceanos sombrios em busca de tecnologia atlanteana. Ele emerge com a versão DC do Um Anel, acompanhado da voz de um rei das trevas fazendo cosplay de Sauron. Experiente do terror, Wan dá um ar lovecraftiano para a descoberta do titular Reino Perdido, mas mais que Tolkien e Lovecraft, sua principal referência continua sendo Star Wars (julgando pelo visual, especialmente a trilogia prequel).

Atlântida tem uma grande variedade de criaturas, construções e cores. É, de fato, um tsunami de computação gráfica que eventualmente se torna cansativa, mas Wan parece saber que na falta do fotorrealismo de um Avatar, vale mais abraçar a estética da ficção-científica mais imaginativa possível e colocar polvos para tocar bateria, tubarões com metralhadoras laser e cavalos marinhos como cavalos.

Passada essa introdução empolgante, que culmina com o ataque de Arraia Negra a Atlântida, as águas de Aquaman 2 ficam turvas e Wan não consegue fugir da necessidade de contar essa história, e nem das limitações de artistas de efeitos digitais maltratados pelos estúdios de Hollywood com uma combinação de demandas impossíveis e tempo limitado. Antes de chegar na conclusão, que além de uma luta de tridentes muito bem coreografada entre Aquaman e Arraia não tem nenhum atrativo visual, Aquaman 2 se afunda numa onda de motivações pouco desenvolvidas, personagens unidimensionais, diálogos expositivos e relacionamentos mal explorados.



Sem fazer mais do que seu feijão com arroz, Momoa diverte quando ganha um parceiro cômico improvável em Wilson, de longe o destaque do filme e o único que parece feliz de estar nele, mas a relação de Arthur e Orm segue a estrutura mais previsível possível. Ainda assim, ela oferece a única coisa minimamente parecida com uma progressão emocional na continuação, que diferente de seu antecessor não aproveita em nada os talentos de nomes como Temuera Morrison, Nicole Kidman e Dolph Lundgren, esquecidos em personagens coadjuvantes. Nos outros núcleos — Arthur como pai, como marido, como rei — Aquaman 2 parte direto dos problemas (ele não consegue!) para a solução (ele consegue!) mais rápido do que David Zaslav tentando cancelar outro filme finalizado da Warner Bros.

Essa bagunça se torna ainda mais agravante dado o que parece ser o verdadeiro interesse de Wan e Momoa. O ator, em especial, é um membro ativo da comunidade alertando sobre o perigo das mudanças climáticas, combustíveis fósseis e descuido do meio-ambiente. Em Aquaman 2, o poder sombrio do tridente e o derretimento das geleiras são inseparáveis, e por mais que a metáfora seja óbvia, essa é uma perspectiva válida e relevante para inserir num blockbuster de US$ 200 milhões.

Mas seja porque a natureza pela qual Aquaman luta não passa de uma massa de CGI medíocre, ou seja porque o roteiro está ocupado demais apresentando mais uma trama que será resolvida antes de ser desenvolvida, O Reino Perdido não mergulha nisso, ou em nenhum outro. Aquaman 2 está contente em colocar o dedinho para sentir a temperatura da água e depois dizer que se molhou.

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