Crítica: 'Pasárgada' aposta na reflexão para abordar temas delicadíssimos

Crítica: 'Pasárgada' aposta na reflexão para abordar temas delicadíssimos

Estreia de Dira Paes na direção é uma das maiores experiências imersivas de 2024

Pedro Sobreiro
26 de setembro de 2024 - 4 min leitura
Notícias

Dira Paes é um dos grandes nomes do cinema nacional. Independentemente do papel, a atriz consegue extrair nuances dramáticas e cômicas desde a adolescência, sempre surpreendendo o público com seus trabalhos. E agora, ela estrela um projeto muito ousado que certamente marca um novo passo em sua carreira. Em Pasárgada, Dira atua, escreve e dirige um filme pela primeira vez.

O longa surgiu de uma experiência vivida pela própria artista durante a pandemia, quando se isolou em uma fazenda em Macaé, no Estado do Rio de Janeiro, para se conectar com a natureza. Diante da Mata Atlântica, veio a ideia de fazer um filme que misturasse sua visão artística com a conscientização ambiental.

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A trama acompanha Irene, uma ornitóloga que vai para a Mata Atlântica com uma missão profissional. No entanto, em sua jornada pela floresta, em que é acompanhada apenas pelo mateiro Manuel (Humberto Carrão), ela começa a refletir sobre seu trabalho, como as pessoas de sua família a enxergam por conta dele e, acima de tudo, como ela se enxerga perante o mundo. Apostando em longas pausas, o filme é bastante contemplativo. Quem já teve o mínimo contato com algum pedaço da Mata Atlântica sabe como é impossível não se impressionar com o cenário úmido natural, marcado por fauna e flora únicos.

Em meio a essa trama de descoberta e reencontro com sua essência, existe um suspense muito complexo sobre o tráfico internacional de pássaros. E aí que entram os maiores choques do longa. Seja por situações que acontecem em tela ou pelo dados reais sobre esse crime, que são citados na trama, é realmente muito impactante. E no momento que o Brasil vive, ter um filme disposto a abordar esse tema tão sensível é fundamental. O tráfico de aves é um problema mundial, porque vai desde aquele velhinho da praça que capturou um Sanhaço na rua até os bilionários da América do Norte ou do Oriente Médio que querem aves exóticas por status.

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Mas o que mais chama atenção é realmente o trabalho técnico de Dira. Para criar esse cenário de solidão e reflexão, ela aposta no primeiro plano para os personagens e em planos abertos para as paisagens. Nesse contraste do macro com o micro, ela ainda encontra uma saída muito criativa para ousar na forma de mostrar a Mata Atlântica. Há passagens conduzidas por drones, como se o público embarcasse na visão dos próprios pássaros que a Irene foi observar por lá.

Sem contar a imersão absurda nesse cenário, proporcionada por um trabalho sonoro espetacular. Você ouve e sente as águas das cachoeiras correndo, as folhas da mata batendo com o vento, os pássaros voando, mesmo que não estejam em cena. É uma experiência sensorial realmente digna das melhores salas de cinema. Não por acaso foi vencedora do prêmio de Melhor Desenho de Som no Festival de Gramado 2024.

Há um momento ou outro em que talvez a condução mais lenta tenha se estendido um pouco mais, mas nada que comprometa a experiência que preza pela imersão do público nessa mata e nessa história de enorme impacto emocional. É uma estreia e tanto da Diretora Dira Paes.

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