Opinião: O Universo DC precisa morrer para que James Gunn tenha sucesso

Opinião: O Universo DC precisa morrer para que James Gunn tenha sucesso

Gunn e Safran estudam encerrar o Snyderverso. Por que essa é a decisão correta para a DC

Guilherme Jacobs
8 de dezembro de 2022 - 7 min leitura
Notícias

Primeiro, um fato. Ainda não sabemos os detalhes do plano de James Gunn e Peter Safran para sua versão do Universo DC que começará em 2024. Não temos absoluta certeza. Mas quando o repórter mais bem informado do mundo de entretenimento e super heróis publica uma matéria revelando que a dupla de CEOs do DC Studios está estudando encerrar o "Snyderverso," inclusive descartando Mulher-Maravilha 3, Homem de Aço 2, Adão Negro 2 e outras possíveis continuações, isso significa que essa opção, no mínimo, é bem possível.

Há algumas ideias aparentemente drásticas neste caminho, talvez a maior delas a de remover Jason Momoa do papel de Aquaman e iniciar filmes do Lobo com o ator, mas se olharmos com calma, onde está o absurdo? Apesar de adorado por muitos fãs, o Superman de Henry Cavill só teve um filme próprio pra se estabelecer, e decepcionou na bilheteria ao lado do Batman de Ben Affleck. Mulher-Maravilha 1984 veio e foi sem fazer muito barulho, e o histórico recente de Patty Jenkins não sugere produções sem problemas. E Adão Negro? Bom, quando você precisa vazar informações para um site numa tentativa de convencer o público sobre a boa bilheteria de seu blockbuster de US$ 330 milhões... isso não é um bom sinal.

Mas, acima de tudo, se Gunn e Safran decidirem dar um reboot no Universo DC, seja este um recomeço completo ou ainda mantendo algumas coisas (Margot Robbie como Arlequina, Pacificador, Besouro Azul), quem pode culpá-los? O chamado Snyderverso na verdade é um Frankenstein composto por partes da visão inicial de Zack Snyder, das interferências de Geoff Johns e Walter Hamada, das ideias de diretores como Jenkins e James Wan, e, recentemente, dos planos de Dwayne Johnson. Há inúmeros relatos de brigas internas, de atores sendo presos, de mudanças de última hora. O que não há, é coerência e clareza.

O Snyderverso é uma oportunidade perdida. A começar pela interpretação do cineasta que o fundou, um homem cuja preferência está em construir imagens dignas de capturas de tela e não em entender o cerne desses personagens, esta encarnação dos heróis da DC Comics nunca obteve consistência com crítica, fãs ou bilheteria. Claro, para muitos a oportunidade se perdeu quando foi negada a Snyder a chance de contar sua história completa, mas olhando o histórico dele nas poucas oportunidades que teve, é difícil ser otimista com sua capacidade de conduzir a Liga da Justiça. Isso não quer dizer que as subsequentes tentativas de Johns e Hamada foram melhores, mas os ingredientes já estavam próximos da validade.

Snyder merece créditos. Em grande parte, ele acertou no casting. Momoa e Gadot foram aprovados quase universalmente, Affleck e Cavill têm seus fãs, mas, hoje, o DCEU tem bagagem demais. Decisões narrativas (Clark Kent, para todos efeitos, está morto, Batman já é velho, Darkseid foi vencido), encarnações de personagens rejeitadas (Lex Luthor de Jesse Eisenberg, Coringa de Jared Leto) e polêmicas nos bastidores (num nome: Ezra Miller) significam para Gunn e Safran, caso queiram continuar tudo isso, uma tarefa impossível, especialmente em termos criativos.

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Safran está ali para lidar justamente com egos destinadas a se ferirem com uma decisão deste nível, mas Gunn é o verdadeiro arquiteto do novo DCU, e ele brilha com liberdade. Até hoje, o diretor brincou em campos limitados. Seja nos planetas longe dos Vingadores com os Guardiões das Galáxias ou nas missões sujas dignas do Esquadrão Suicida, seu sucesso neste meio vem pela forma como ele constrói pequenos cantinhos destes grandes mundos à sua imagem. Agora, ele tem a oportunidade de moldar a pedra angular deste edifício. Como lhe negar isso? Os bons elencos são anulados pelo faturamento baixo, os raros acertos escondidos pela estética cansativa, e a multidão de vozes se contradizendo, cada uma tentando garantir seu plano, só atrapalha.

Eu amo a Arlequina de Margot Robbie. Eu toparia mais do Cavill como Superman. Eu me divirto com o Aquaman de Momoa. Mas se eles precisam ser sacrificados para permitir aos filmes live-action da DC atingirem o nível de narrativa desfrutado por fãs dos quadrinhos e animações há décadas, eu faria a troca instantaneamente. Imagine então o CEO da Warner Bros. DIscovery, David Zaslav, um dos executivos mais gananciosos e conservadores de Hollywood. Para ele, pouco importa a visão criativa de Snyder, Hamada ou Johns, e se Gunn convencê-lo de que o melhor caminho (leia-se, o mais rentável), ele não pensará duas vezes (e o mesmo é válido para o DCU de Gunn no futuro).

O Universo DC é riquíssimo. Se a Marvel se baseia na realidade, a competição é a casa dos deuses, das lendas, dos verdadeiros heróis. Eles são incorruptíveis. Em sua seminal saga de Vingadores e Guerras Secretas, Jonathan Hickman literalmente copiou a Liga da Justiça para mostrar aos leitores o quão corrompidos estavam Homem de Ferro, Doutor Estranho, Sr. Fantástico e companhia. Este multiverso de 52 terras é repleto de figuras memoráveis. Dos pântanos da Louisiana aos céus de Nova Gênesis, este mundo merece mais. Sempre mereceu.

James Gunn ainda tem muito a provar, mas não é justo forçá-lo a encarar esse desafio com uma herança da qual ele não tem culpa. Leitores da DC já passaram por muitos reboots, uns bons e outros nem tanto. Talvez, agora, a audiência também precise de um.

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