Crise na Disney? Antes um herói triunfante, Bob Iger retorna como vilão necessário

Crise na Disney? Antes um herói triunfante, Bob Iger retorna como vilão necessário

Anunciando cortes de empregos e retorno às grandes franquias do cinema, CEO precisa organizar bagunça que ajudou a criar

Guilherme Jacobs
9 de fevereiro de 2023 - 8 min leitura
Notícias

Quando Bob Iger deixou o cargo de CEO da Disney em fevereiro de 2020, o mundo era outro. A pandemia da COVID-19 estava em sua infância, o sucesso inicial do Disney+ era encorajador, e o executivo acabara de presidir o lançamento de sete filmes com mais de US$ 1 bilhão na bilheteria em 2019: Aladdin, Toy Story 4, Star Wars: A Ascensão Skywalker, Capitã Marvel, Frozen II, O Rei Leão e, com US$ 2.8 bilhões, Vingadores: Ultimato. Isso são dois live-actions da Walt Disney Studios, um Star Wars da Lucasfilm, uma animação cada de Pixar e Disney Animation, e dois blockbusters da Marvel.

Agora, após voltar à posição em novembro de 2022, substituindo seu herdeiro escolhido à dedo Bob Chapek, Iger encontrou uma empresa, e um mercado, profundamente diferente. Além da queda de preço de ações, o futuro do streaming que ele ajudou a transformar no alvo de quase toda corporação de mídia está mais incerto do que nunca, ambas casas de animação passam por problemas, há dúvidas quanto ao interesse contínuo nos diversos projetos da Marvel, e Star Wars parece não pertencer mais ao cinema.

Iger deixou a Disney como seu CEO de maior sucesso. O executivo chegou a sondar a ideia de disputar a presidência dos Estados Unidos e encerrou seu tempo lá de maneira equivalente a Michael Jordan ganhando seu sexto título no Bulls com o arremesso final. Mas assim como Jordan voltou pro Wizards, Iger voltou para a Disney. O retorno do homem de negócios, contudo, não veio com o esperado clima de herói triunfante, pronto para salvar o dia mais uma vez, e sim com o ar de um vilão necessário. Em seu primeiro relatório trimestral, ele anunciou uma queda de assinantes no Disney+, prejuízo operacional alto e o corte de 7 mil empregos como parte de um esforço para economizar US$ 5.5 bilhões em gastos (sendo US$ 3 bilhões cortados do conteúdo).

A queda de 2.4 milhões de assinantes do Disney+ tem um culpado óbvio. O serviço cresceu em territórios como EUA e Canadá, mas perdeu 3.4 milhões de usuários na Índia, onde deixou de exibir críquete, o esporte mais popular de um país com 1.4 bilhão de habitantes. Iger, porém, não usou isso bode expiatório e prometeu "mudanças sísmicas" para o futuro. Ele vê a tempestade a caminho e entende o quão fútil é negar sua existência.

O primeiro passo foi uma estratégia familiar. Iger voltou a apostar no que deu certo em 2019 e anunciou continuações de três franquias: Zootopia: Toy Story e Frozen, três de suas marcas bilionárias. A mais surpreendente dessas é a da Pixar, um estúdio que em 2016 disse não planejar mais continuações e agora, além de Divertida Mente 2, está voltando para o mundo de Woody e Buzz após dois filmes em clima de despedida. Pouco importa se Pete Docter e os outros membros da casa preferiam investir mais em novas histórias. O momento pede franquias.

A frase favorita de Iger em seu relatório trimestral foi "marcas e franquias inigualáveis." Ele a usou quando fez a promessa de transformações relevantes na empresa, e quando anunciou o trio de animações acima. Esse movimento de foco em IPs vai continuar se repetindo, e como a presença de Toy Story — uma saga aparentemente finalizada — mostra, ele está disposto a tomar decisões possivelmente indesejáveis no olhar dos líderes criativos de seus estúdios. Talvez Kathleen Kennedy esteja satisfeita com o sucesso de Star Wars através de séries como The Mandalorian e Andor. Talvez Kevin Feige esteja feliz alocando boa parte dos recursos da Marvel nas produções do Disney+. Talvez James Cameron não queira expandir Avatar além dos filmes já anunciados. Todos receberão ligações do presidente.

Para Feige e Cameron, cujo sucesso recente oferece uma armadura forte, os conflitos podem ser mais simples. Mas Kennedy? As dificuldades para lançar um novo longa-metragem de Star Wars terão que ser resolvidas. E rápido. Iger quer reproduzir os feitos de 2019, com cada braço criativo da Disney mandando um (ou mais) hit por ano. Isso inclui todo mundo. Não à toa, Iger está unindo Marvel, Star Wars, Disney+ e afins debaixo de seus tenentes fiéis.

Claro, Feige, Kennedy, Docter e cia. continuam com muito poder. Na apresentação financeira, Iger deixou isso claro: “A partir de agora, nossos líderes criativos vão definir que conteúdos fazemos, como eles são distribuídos e como será feito o marketing deles." Só não se enganem, a Disney ficará muito feliz se esses conteúdos forem as grandes marcas.

Há uma razão clara para isso. Se durante a pandemia o streaming parecia cada vez mais inevitável — o Thanos do entretenimento — a bilheteria retornou em busca de se vingar, e tem em sua posse todas as joias. Seja por causa dos lucros de Top Gun: Maverick e do próprio Avatar: O Caminho da Água, dos números preocupantes da Netflix — que, por sua vez, está adotando medidas extremas — ou até das turbulências na Warner Bros. Discovery, o mercado de cinema oferece, pelo menos à curto prazo, mais garantias do que o streaming.

O Disney+ não vai acabar. Streaming ainda será um meio de consumo gigantesco, e uma corporação com a Disney não pode não ter seu app. Mas a ideia de que o serviço teria, por exemplo, blockbusters próprios que não saíam antes em milhares de telas pelo mundo é algo do passado. Não só isso, mas como David Zaslav na Warner, Iger vai explorar a descentralização e considerará vender os direitos de exibição de suas produções originais para competidores. Os trimestres negativos enfrentados por ambas Disney e Netflix no último ano sugerem que o potencial do streaming tem um topo. Que há um limite para o número de assinantes. Que, talvez, a quantidade de opções tenha cortado as pernas de cada participante nessa dança, e reunir todos os recursos debaixo de um teto só pode não ser a melhor ideia. Se há algo que acionistas não gostam é saber que seus rendimentos não são infinitos.

Não há como esconder a fatia enorme de responsabilidade de Iger nos investimentos desenfreados em nome de streaming nos últimos anos. Ele mesmo liderou as tentativas da Disney de construir seu "Netflix killer." Mas Wall Street tem memória curta, então a nova gestão de Iger no comando da Disney não se iniciou com os investidores demandando sua cabeça. Talvez por conta de seu sucesso absoluto até 2020, ele está, por hora, nas boas graças do mercado e ainda é visto com bons olhos. Tal paciência é temporária.

Mas Jordan não deu um título pro Wizards. Os fãs do time, porém, ficaram felizes de ter um astro daquele nível jogando em sua quadra e se divertiram com o espetáculo. Iger não receberá essa piedade. Aqui, é vencer ou morrer, e suas falas ontem sugerem que ele está muito ciente disso.

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