Duna pode salvar o Oscar, mas a Academia precisa reconhecê-lo

Duna pode salvar o Oscar, mas a Academia precisa reconhecê-lo

Longa de Denis Villeneuve une aprovação da crítica, indústria e público. Ele merece indicações.

Guilherme Jacobs
27 de outubro de 2021 - 6 min leitura
Notícias

Não parece, mas estamos na chamada "temporada do Oscar." Os festivais de Toronto, Veneza e Telluride, normalmente responsáveis por apontar prováveis indicados ao prêmio, já aconteceram e os favoritos estão claros. Mas apesar de filmes de grande apelo e elogios como King Richard: Criando Campeãs e The Power of the Dog, ou de super estrelas do cinema como Will Smith e Kristen Stewart estarem firmes e fortes na briga pela estatueta, a sensação é de que ninguém anda pensando no evento. Mas, como acontece regularmente, há um filme capaz de mudar (pelo menos um pouco) essa história: Duna.


Ficou claro ontem, com a celebração praticamente unânime das pessoas envolvidas no mundo do cinema ao saber da confirmação oficial de Duna: Parte Dois. Este filme, apesar de não ter recebido aprovação total de reviews e público, tem força o suficiente para unir todos os interesses da Academia. Vez por outra, aparece um título com ótimas avaliações da crítica, celebrado por outros cineastas e atores e com forte presença na cultura pop. O tipo de filme que faria pessoas assistirem ao Oscar em caráter de torcida. Duna é um deles.


Talvez o melhor exemplo destes seja O Cavaleiro das Trevas, em 2008. Quando a obra de Christopher Nolan não recebeu sua esperada indicação no Oscar do ano seguinte, a frustração foi geral. O sentimento era de birra, de insistência da Academia em não reconhecer filmes de heróis ou de gênero. No ano seguinte, a categoria de Melhor Filme aumentou seu número de indicados. Muito pouco, muito tarde.


A Academia não se dá bem com filmes de gênero. Avatar, Pantera Negra e Corra! são exceções à regra, agulhas em meio ao palheiro de dramas históricos, celebrações do cinema ou adaptações de romances já aclamados. Heróis, terror. ação e ficção-científica ficam de lado. Mas Duna é a rara oportunidade de empurrar na direção oposta, de reconhecer o ápice de um desses gêneros como tão digno de atenção quanto mais uma obra sobre os anos dourados de Hollywood feita por um cineasta de renome (nada contra, afinal Mank e Era Uma Vez em Hollywood são excelentes, mas variedade é importante).


Duna é o melhor filme de ficção-científica já feito. O próprio diretor Denis Villeneuve já passou pela saga de Blade Runner, talvez o favorito de muitos. Mas há uma sensação de singularidade em Duna. Quando foi a última vez que vimos um filme deste gênero feito com seriedade, com este patamar de elenco (sem falar na popularidade de Timothée Chalamet e Zendaya com os jovens), com essa ambição e escala, e produzido de maneira tão épica, tratando sua narrativa com seriedade e sem uma abordagem diluída para agradar todas as tribos e idades? Interestelar? O corretamente indicado ao Oscar, Distrito 9? Todos esses são bons exemplos, mas não tiveram a aprovação tripla de público, crítica e indústria no nível de Duna, pelo menos não no mesmo volume.


As pessoas foram ver Duna, tanto no cinema quanto no HBO Max. A notícia de sua continuação foi celebrada como uma vitória para o cinema mais ambicioso, um grito a favor de blockbusters ousados, reflexivos e cujos protagonistas não usam máscaras ou capas. A Parte Dois já é um dos títulos mais aguardados de um ano com o próximo Star Wars e próximo longa de Christopher Nolan. Não há nada mais como Duna.


Se a Academia ignorá-lo, ela vai, novamente, se mostrar desinteressada em sair do óbvio e reconhecer estes eventos raros e celebrados do cinema. Duna certamente será indicado, e provavelmente ganhará, disputas de Melhor Fotografia, Design de Produção, Maquiagem e talvez até Trilha Sonora, com Hans Zimmer. Mas isso é pouco. Villeneuve, aqui um general de guerra comandando um exército ambicioso pelo deserto, merece o reconhecimento. O filme também deveria ser indicado na principal categoria da noite.


Você pode até discordar. No momento, Duna está fora do meu Top 5 do ano, então não entendam este artigo como uma defesa ferrenha do filme. Uma vitória em Melhor Filme, por exemplo, é um exagero. Mas não há como fugir da politicagem, do lobby e das narrativas no Oscar. A Academia raramente se preocupa em indicar e premiar os melhores filmes. Ela está preocupada com a óptica da coisa, como seu evento é visto e, acima de tudo, por quantas pessoas ele é visto.


Em Duna, a maior premiação do mundo do cinema tem a oportunidade de atrair mais audiência sem perder credibilidade. Agora é hora de perder o temor de indicar filmes de gênero, de observá-los como inferiores. O medo é o assassino do Oscar.

duna
oscar
oscars
premiados
denis-villeneuve

Você pode gostar

titleOscar

Fernanda Torres comenta sobre polêmicas do Oscar

Atriz comentou sobre a cultura de ódio da internet

Igor Pontes e Matheus Ramos
11 de fevereiro de 2025 - 3 min leitura
titleFilmes e Cinema

"Quero ser sua amiga", diz Jessica Chastain para Fernanda Torres

Vencedora do Oscar rasgou elogios para Fernanda Torres em entrevista

Igor Pontes e Matheus Ramos
10 de fevereiro de 2025 - 3 min leitura
titleOscar

Oscar está considerando pedir para que filmes revelem uso de IA

O Brutalista e Emilia Pérez se envolveram em uso controverso de IA

Igor Pontes e Matheus Ramos
7 de fevereiro de 2025 - 2 min leitura
titleFilmes e Cinema

Ainda Estou Aqui | Guillermo del Toro fará sessão de Central do Brasil em LA

Diretor estará acompanhado de Walter Salles

Alexandre Almeida e Matheus Ramos
6 de fevereiro de 2025 - 1 min leitura