Por que Hollywood está mais dependente de remakes e franquias do que nunca?

Por que Hollywood está mais dependente de remakes e franquias do que nunca?

Com mais e mais remakes sendo anunciados, a máxima de que "Hollywood está sem ideias" parece cada vez mais verdadeira

Guilherme Jacobs
4 de abril de 2023 - 9 min leitura
Notícias

A era de "IP", ou propriedade intelectual, em Hollywood, não está perto de acabar. Na verdade, se olharmos as notícias recentes, os grandes estúdios norte-americanos parecem estar cada vez voltados para franquias reconhecíveis (e em alguns casos, nem tanto) na hora de decidir o que produzir. Isso não é novidade, claro. Vivemos com o Universo Cinematográfico da Marvel desde 2008, este ano contará com o lançamento do décimo filme de Homem-Aranha no milênio, e já perdemos as contas de quantos Batman há no cinema.

Como os últimos dias mostraram, contudo, a dependência hollywoodiana em franquias e títulos conhecidos está indo muito além de super-heróis. Só na última segunda-feira (3), dois remakes inesperados foram anunciados pelos dois maiores estúdios da indústria. A Disney vai refazer Moana: Um Mar de Aventuras, uma animação lançada há menos de sete anos, como um filme live-action, e a Warner Bros. está buscando um acordo com J.K. Rowling para adaptar toda a saga Harry Potter novamente, dessa vez como série com uma temporada para cada livro.

Não para por aí. A Universal vai reviver seu hit animado Como Treinar o Seu Dragão como live-action, há mais e mais e mais e mais adaptações de videogames, e até clássicos do cinema antes considerados intocáveis como Sem Destino e, pasmem, Um Corpo Que Cai, vão ser refeitos.

É muito fácil sentar aqui e criticar a decadência criativa em Hollywood. Na verdade, deixe-me fazê-lo por um ou dois parágrafos. Hollywood está sem ideias. Quando foi a última vez que vimos um novo mundo, pensado primeiramente para o cinema, sendo lançado com uma grande produção por trás? Quando foi a última vez que algo assim deu certo? Avatar saiu em 2009, mas você pode imaginar um "novo Avatar" (não uma continuação, isso teremos aos montes) saindo em 2023? Uma história totalmente nova, uma criação original, se tornando algo tão valioso para a Disney como Star Wars? Foi por isso que eu celebrei a vitória de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo no Oscar, ainda que discordasse do prêmio. Originalidade precisa ser recompensada.

Sim, estamos celebrando os feitos de John Wick, uma franquia original de cinema lançada em 2014, mas também estamos fazendo isso com o quarto filme, e testemunhando a transformação dessa saga numa verdadeira IP com derivados e derivados a caminho. Não me entenda errado, eu amo John Wick. Estarei lá na estreia para ver Ballerina. Mas e se, ao invés de protagonizar um spinoff, Ana de Armas recebesse seu próprio blockbuster original?

Novamente, isso não é nada novo. Falamos sobre isso há anos e anos. O problema, porém, parece ter se intensificado nos últimos três anos. Há uma óbvia razão para isso. Na verdade, há mais de uma. A crise proveniente da pandemia do COVID-19 deixou executivos preocupados, e o aparentemente teto para serviços de streaming antes considerados sem limites deixou todos ainda mais acovardados. Refazer suas animações como live-action não é uma prática inédita para a Disney, mas até então, a animação mais recente a receber esse tratamento tinha sido Lilo & Stitch, de 2002. Agora, isso está acontecendo com um filme de 2016!

Tudo piorou. Em quanto tempo veremos o anúncio de um remake de Encanto? Ou de algo da Pixar? Esses sintomas revelam a situação cada vez mais desesperada dessas empresas. Ambas Disney e Warner estão lidando com pressões de acionistas, resultados decepcionantes, prejuízos e incertezas quanto a seus produtos. A resposta de ambas tem sido dobrar suas apostas.

David Zaslav, presidente da Warner Bros. Discovery, apontou a DC Comics e Harry Potter como suas prioridades desde que a nova empresa foi iniciada, e em seu retorno à Disney, Bob Iger colocou todas as fichas em marcas conhecidas. Seu primeiro anúncio relacionado a produções foram continuações de Toy Story, Frozen e Zootopia.

O comportamento é compreensível e até esperado. Surpresa seria ver Hollywood usando esse momento de insegurança para investir em coisas novas. A questão é... o quanto isso vai funcionar? Será que a resposta para a crescente apatia e saturação de filmes de super-heróis são mais super-heróis? Quanto tempo até esse cansaço do público se aplicar, também, a live-action de animações? The Last of Us é um sucesso, mas isso não significa que toda série de um jogo de PlayStation também será. John Wick é um sucesso, mas o que acontecerá quando visitarmos esse mundo sem Keanu Reeves? Quando Bourne tentou lançar um filme sem Matt Damon, as expectativas não foram alcançadas (eu sempre defenderei O Legado Bourne, mas sei que sou minoria), e Damon rapidamente voltou.

À essa altura, a transformação de filmes em marcas, a dependência de ter qualquer coisa reconhecível no título de filmes (emojis, bonecas, marcas de tênis ou de salgadinhos, RPGs de mesa, outros filmes), tem tantos exemplos de fracassos quanto de vitórias. E esse ciclo vicioso é, também, responsável pelo estado atual da indústria. Ao oferecer apenas franquias, Hollywood está insistindo num comportamento que já vinha dando resultados irregulares antes. Sim, o MCU é uma vitória como nenhuma outra. Quantos outros universos compartilhados deram certo? O hilário Dark Universe de monstros da Universal nem saiu do papel. O DCEU só é bem-visto por fãs de Zack Snyder. Não preciso falar das tentativas da Sony de criar derivados do Homem-Aranha sem o Homem-Aranha, certo? Cadê o filme do Sexteto Sinistro? Nesse sentido, o universo que mais deu certo fora da Marvel foi o de Invocação do Mal/Annabelle.

Um dia, alguém precisou criar Star Wars e Avatar e Toy Story e John Wick. É inocência acreditar que Hollywood um dia voltará a priorizar a originalidade versus franquias, mas o mergulho de cabeça em qualquer franquia está se provando um erro gravíssimo em termos criativos, além de oferecer poucas certezas quando se fala de dólares. A resposta para a crise atual não é tirar leite de pedra, espremendo os frutos até não sobrar mais nada, mas sim encontrar novos frutos.

De fato, nem todos os spinoffs de John Wick darão certos, assim como nem todos os de Star Wars deram. Mas John Wick oferece uma prova de que o público ainda tem gosto para mundos inéditos. É verdade que outros blockbusters originais podem dar errado, fracassando na bilheteria e aparentemente dando crédito ao medo dos estúdios. O que eu quero dizer, porém, é que colocar "Shazam" ou "Homem-Formiga" no pôster e associar a produção a marcas aparentemente infalíveis também não garante o sucesso. Na verdade, esse método traz custos mais altos e riscos mais perigosos.

Originalidade é necessária. Ela não precisa ser tão cara quanto Avatar. Ela existe em coisas pequenas como o primeiro John Wick ou nos vários exemplos de filmes de terror baratos superando as expectativas na bilheteria (só ano passado: Noites Brutais, Skinamarink, Sorria, todos originais). Originalidade dá ao público um gosto novo, algo nunca antes visto, e em vários casos dá aos estúdios suas tão sonhadas propriedades intelectuais para transformar em séries, continuações e reboots.

Essas práticas nunca vão sumir em Hollywood. Mas sem a originalidade, sem a busca por encontrar o próximo Matrix, o próximo Avatar, o próximo Harry Potter, elas se tornarão mais danosas. Nem só de remakes vive o homem.

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