10 Melhores Filmes do Festival de Cannes, e quando eles estreiam no Brasil
Do aguardadíssimo Killers of the Flower Moon ao brasileiro Retratos Fantasmas, os destaques de Cannes 2023
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Foi encerrada neste sábado (27) a 76ª edição do Festival de Cannes, o mais prestigiado evento do cinema internacional e um grande anunciador dos próximos filmes dignos de nossa atenção. A edição de 2023, como a do ano passado, trouxe uma boa dose de Hollywood (olá, Indiana Jones) para a Croisette, mas também foi marcada pela presença de alguns dos nomes mais badalados entre os entusiastas da sétima arte. Sejam figuras em ascensão como Alice Rohrwacher, veteranos como Wim Wenders e Victor Erice retornando após anos, e diretores cujo sucesso aqui pode apontá-los como os próximos mestres. Todos de olho em você, Jonathan Glazer.
Além disso tudo, numa classe só sua, estava Martin Scorsese. A estreia de Killers of the Flower Moon foi o momento mais elétrico do festival; da ansiedade para reservar os tickets às horas de fila na chuva, passando pelas pessoas celebrando em público por conseguirem a entrada de última hora e culminando com a palpável energia dentro das duas salas onde o filme mais aguardado do ano, a primeira obra de Scorsese com ambos Leonardo DiCaprio e Robert De Niro, foi exibido e (com algumas ressalvas) aclamado. É comum dizer que Cannes fica mais devagar após o primeiro fim de semana. Nesse caso, os dias depois de Killers of the Flower Moon pareceram ressacas.
Felizmente, houve muito mais para nos acordar. Anatomy of a Fall de Justine Triet e About Dry Grasses de Nuri Bilge Ceylan estão entre os mais impactantes dramas do ano, o carinhoso The Pot-Au-Feu aqueceu corações e Wes Anderson trouxe sua marca registrada para a França novamente com Asteroid City. Não podemos esquecer, claro, do Brasil.
Firebrand de Karim Aïnouz deixou a desejar, mas foi ótimo ver A Flor de Buriti trazer mais um prêmio para o cinema nacional. Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, sai de Cannes como um dos mais bem-avaliados títulos do festival (pra mim, foi o mais especial) e Carol Duarte foi (de longe!) a melhor parte de La Chimera, de Rohrwacher.
Ao todo, como deve ser, houve muito para festejar nesse festival. Toronto, Veneza e Telluride terão mais a dizer sobre 2023 no cinema no segundo semestre, mas com o fim de Cannes, temos uma boa ideia de quais títulos estarão na disputa por melhor do ano. Esse Top 10 inclui filmes que competiram pela Palma de Ouro e outros que apenas aproveitaram o evento para estrear. Também, se possível, diremos quando eles estreiam no Brasil.
10) Occupied City, dir. Steve McQueen
Por que: Occupied City brilha nos maiores momentos de harmonia. Quando a fusão entre visual e som, entre passado e presente, gera uma sintonia, ela é capaz de transcender o tempo. Com a ajuda indispensável da montagem de Xander Nijsten, isso acontece tanto pelo contraste de ouvir sobre os abusos com meninas holandesas enquanto vemos uma aula de balé infantil, quanto pela repetição histórica da infeliz necessidade de combater invasores — antes os nazistas, agora um vírus. Nessas instâncias, o presente se torna uma declaração de superação e vitória, um testamento da resiliência desse povo, e o passado passa a existir como um fantasma pairando sobre tudo, seja para lembrar o que foi perdido, ou para alertar sobre a consequência de não se aprender com a história. Continue lendo.
Elenco: N/A
Quando estreia no Brasil: Sem data
Por que: Com ecos de Persona mas sob a luz de alguém zoando exatamente o tipo de filme de Todd Haynes, May December se leva a sério sem nunca ignorar uma oportunidade de entreter seu público com seu lado mais ridículo. Haynes usa diversos espelhos para refletir (ha!) a dinâmica sendo gerada entre ambas Gracie e Elizabeth, mulheres cuja velocidade para julgar uma a outra só não é excedida pela rapidez com a qual desviam o olhar quando são forçadas a confrontar a si mesmas. A câmera de Christopher Blauvelt é repetidamente posicionada como o próprio espelho, e coloca a atriz e sua personagem lado a lado em comparações, mas também é direcionada aos reflexos de reflexos elevados pelo genuinamente fantástico blocking de Haynes. Continue lendo.
Elenco: Juliane Moore, Natalie Portman e Charles Melton
Quando estreia no Brasil: Segundo semestre de 2023, ou começo de 2024
Por que: Anderson adora combinar e contrastar a exatidão de sua abordagem como diretor — indo da direção de arte caprichosa até os sets minimamente detalhados, passando pelo blocking cauteloso e chegando até as inserções lúdicas — com o caos interior de seus personagens. As atuações aparentemente distantes de pessoas como Schwartzmann, Johansson, Schreiber, Hanks (e em sua única, mas memorável aparição: Margot Robbie) na verdade tornam poderosos os vislumbres de emoção que escapam de seus rostos como feixes de luz pelas brechas de uma porta. Na aplicação desse método em Asteroid City, um simples “adeus” pode partir o coração. Continue lendo.
Elenco: Jason Schwartzmann, Scarlett Johnasson, Tom Hanks, Tilda Swinton, Edward Norton, Tilda Swinton e Jake Ryan.
Quando estreia no Brasil: 10 de agosto nos cinemas
7) About Dry Grasses, dir. Nuri Bilge Ceylan
Por que: A palavra tridimensional vem à mente. Seja para descrever as atuações, os personagens por elas definidos e o texto que dá corpo à obra. About Dry Grasses é o retrato de uma sociedade repleta de detalhes e idiossincrasias; um globo de (muita) neve que observamos de perto por tempo o suficiente para encontrar cada faceta, considerá-la e interpretá-la. A grande beleza melancólica do filme, porém, se revela quando damos um passo para trás e, como Samet do topo da colina, vemos o todo. Continue lendo.
Elenco: Deniz Celiloglu, Musab Ekici, Merve Dizdar e Eca Bagci.
Quando estreia no Brasil: Sem data
Por que: Filmado, como Wenders revelou no Festival de Cannes, inteiramente com câmera na mão — graças ao tripé-humano e lendário diretor de fotografia Franz Lustig, capaz encontrar poesia em todo canto da metrópole japonesa — Perfect Days se propõe a espelhar a atitude de seu personagem principal. Assim como temos vislumbres de quem Sr. Hirayama era antes de o conhecermos, de quem é sua família e de porque ele escolheu esse caminho, o filme é polvilhado com gotinhas do excepcional através das composições graciosas do diretor mais bem-sucedido em dramatizar, entre outras coisas, viagens de carro (veja: Paris, Texas). A comuta de Hirayama, ao som de “Feeling Good” ou “Perfect Day” (não podia faltar), e pelos olhos de Wenders, é de prender a respiração. Continue lendo.
Elenco: Koji Yakusho, Arisa Nakano, Tokio Emoto, Sayuti Ishikawa e Tomokazu Miura.
Quando estreia no Brasil: Sem data
5) The Pot-Au-Feu, dir. Trần Anh Hùng
Por que: Menos focado em sua história — uma comovente, mas leve, narrativa sobre Dodin, após 20 anos empregando e amando Eugénie, tentando convencê-la a finalmente se casar enquanto os dois enfrentam uma infeliz doença — e mais na missão de comunicar cozinhar e comer como atos de amor e sacrifício, Ahn Hùng dirige a câmera como se buscasse reproduzir nosso olhar. Para onde estaríamos olhando agora? Quando abaixaríamos a vista para olhar dentro de uma panela? Quando buscaríamos o rosto de Eugénie ou Violette para ver sua reação ao degustar uma sobremesa? As respostas para essas perguntas vem através do passeio encenado pelo diretor, que com a ajuda do chef Pierre Gagnaire, responsável por preparar as comidas, coloca diante de nós a mais pornográfica exibição culinária imaginável. Continue lendo.
Elenco: Juliette Binoche, Benoit Magimel, Galatéa Bellugi e Bennie Cagneau-Ravoire.
Quando estreia no Brasil: Sem data
Por que: Atravessando o limite da certeza para encontrar tensão e intriga no campo da especulação e possibilidades, Anatomy of a Fall faz paralelos dentro de paralelos para confundir seu espectador sem nunca deixar de apresentar sua história com clareza. A começar pela obra da fictícia escritora, passando pelo julgamento da mesma e pela existência do filme dramatizando tudo isso, Triet nos leva mais e mais afundo no seu jogo de espelho. Ficção, conjectura e autenticidade se misturam em várias camadas, a começar por seus atores. Sandra Hüller no papel de Sandra, Samuel Theis no de Samuel. Continue lendo.
Elenco: Sandra Hüller, Samuel Theis e Milo Machado Graner
Quando estreia no Brasil: Sem data
3) Retratos Fantasmas, dir. Kleber Mendonça Filho
Por que: Entendendo cinema como exercício de memória — um registro do tempo passado e dos vultos agora esquecidos — Retratos Fantasmas começa com um segmento no apartamento da mãe de Kleber, onde o cineasta morou e filmou diversos projetos, para nos introduzir à ideia de uma conexão visceral entre a arte cinematográfica e a crônica de um ambiente. Como ele mudou? O que surgiu nele? Quem passou por ali? Como eram seus arredores? Poético e reflexivo em sua narração, o diretor de Bacurau e Aquarius traça paralelos entre modificações estruturais e pessoais, usando o cinema como ponte entre essas duas vias. Assim, Retratos Fantasmas logo se apresenta como o filme mais pessoal do diretor. Continue lendo.
Elenco: N/A
Quando estreia no Brasil: Agosto de 2023
2) The Zone of Interest, dir. Jonathan Glazer
Por que: Quando não deixa aparente a fumaça de um trem trazendo novos prisioneiros ou das chaminés após uma queima, nossos ouvidos são o caminho pelo qual The Zone of Interest atribui às pinturas compostas por Glazer com tanta elaboração o ar de desolação, como numa montagem das lindas flores cultivadas pela mulher. Gritos de dor permeiam as plantas e as banham no vermelho-sangue dos crimes contra a humanidade realizados a apenas alguns metros de distância. Seja pelas faixas desconcertantes de Levi ou no trabalho sonoro impecável de Johnnie Burn, o som é uma das principais formas de Glazer contrastar a trivial narrativa dos Höss com a inevitável repulsa de saber seu papel na guerra. A muralha não é capaz de abafar o choro. Continue lendo.
Elenco: Christian Friedel, Sandra Hüller
Quando estreia no Brasil: Sem data
Por que: O genuinamente poderoso drama de Killers of the Flower Moon surge, em grande parte, da tensão de descobrir de qual lado Ernest estará quando os créditos rolarem. Interpretado sem orgulho algum por Leonardo DiCaprio, cujas expressões faciais parecem enfatizar as linhas do envelhecimento e cujas falas nunca soaram tão (propositalmente) inseguras quanto aqui, Ernest professa abertamente amar o dinheiro e amar a Mollie (Lily Gladstone), ao ponto de que quando avisada por suas irmãs do interesse monetário do homem, a mulher garante ter certeza disso. Entre gagueiras e uma beleza atrapalhada (da qual Scorsese tira grandes risadas), DiCaprio constrói Ernest de tal forma que, junto com Mollie, temos ciência de sua paixão pelo dólar, mas também acreditamos em sua dedicação à esposa. Continue lendo.
Elenco: Leonardo DiCaprio, Lily Gladstone, Robert De Niro, Brendan Fraser e Jesse Plemons
Quando estreia no Brasil: 19 de outubro nos cinemas