Sundance 2023: Os 5 Melhores Filmes do Festival de Cinema
Amor à primeira vista, documentários impressionantes e retratos da vida na cidade: os melhores filmes que vimos em Sundance
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FESTIVAL DE SUNDANCE: Após dois anos inteiramente virtual, o Festival de Sundance, evento que marca o começo do ano do cinema, terminou no último domingo (29). Com diversos filmes e documentários produzidos de forma independente (muitos buscando distribuição, e alguns adquirindo durante o evento), ele é um núcleo para novas vozes. Foi de lá que saíram fenômenos como Cães de Aluguel, Whiplash e Minari.
A edição deste ano não alcançou os auges de filmes como esses, mas abaixo, listamos cinco longas-metragens que tem tudo para continuar fazendo parte do debate cinéfilo pelos próximos 12 meses e, quem sabe, como aconteceu com No Ritmo do Coração, até o próximo Oscar.
5) A LITTLE PRAYER (dir. Angus MacLachlan)
O grande feito de A Little Prayer é colocar seu protagonista, BIll constantemente diante de novos desafios éticos. Mais velha guarda, ele se sente empurrado a intervir na situação quando percebe a gravidade da situação — seu Bill não só está num relacionamento extraconjugal, como também é violento com mulheres — mas reprimido pelo conservadorismo de não poder interferir na vida de outros adultos, ainda que eles vivam em sua casa. David Strathairn atua com vulnerabilidade durante todo esse tempo, expressando o quão dividido Bill está por essas duas forças ao ponto de tornar ambos caminhos inteiramente críveis.
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4) RYE LANE (dir. Raine Allen-Miller)
Eu lhe desafio a não manter um sorriso no rosto assistindo a Rye Lane, a estreia diretorial de Raine Allen-Miller que, ironicamente, começa com um jovem chorando. As lágrimas são de Dom (David Jonsson de Industry). Ele está dentro do box de um banheiro misto, onde busca por um pouco de privacidade para colocar pra fora as dores do término com a namorada que, logo descobriremos, o traiu com seu melhor amigo. Quebrando esse momento de solidão está Yas (Vivian Oparah), também passando por um término brutal. Ela não resiste à curiosidade de olhar por baixo da porta e identificar o tênis do rapaz, e depois de encontrá-lo, fora do toalete, decide alegrá-lo com um tour pelo sul de Londres. Ao longo de leves e prazerosos 80 minutos, Rye Lane nos transforma na vela de Dom e Yas. Assistimos enquanto os dois passeiam de restaurantes a cinemas, reencontram ex-namorados, compartilham seus medos e acabam, inevitavelmente, criando um tipo de química que os fará repensar o quanto os antigos relacionamentos realmente são dignos de lágrimas como as da cena inicial.
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3) AGAINST THE TIDE (dir. Sarvnik Kaur)
A primeira cena de Against the Tide, o envolvente documentário da cineasta indiana Sarvnik Kaur, mostra o nascimento do filho de Rakesh. A última, um ano depois, nos mostra o nascimento do filho de Ganesh. Ao longo dos doze meses entre o natal desses bebês, o filme nos conta a história dos dois homens, ambos Koli — povo pescador de Mumbai — e ambos lutando para conseguir sobreviver em meio a crises ambientais e econômicas. Quando os conhecemos, Rakesh e Ganesh são colegas de profissão e melhores amigos, mas esse relacionamento, assim como seu pão diário, está prestes a passar por várias provações.
Filmado e muitas vezes editado como ficção, Against the Tide testa os formatos tradicionais de documentários para nos introduzir a um mundo profundamente real da maneira mais cinematográfica possível, enquadrando as pessoas (personagens?) dessa narrativa com closes, campos-contracampos, iluminação e composições que estariam em casa na adaptação dessa obra com atores famosos. O efeito, algumas vezes, levantará perguntas. O quão natural alguém consegue ser em algo tão encenado? O quanto os documentaristas deixaram as conversas fluírem sem interferir? O quanto eles foram guiados? Essas perguntas, enquanto inevitáveis, são asfixiadas pelo impacto das escolhas de Kaur e do diretor de fotografia Ashok Meena, que sabiamente deixam Against the Tide se desenrolar puramente através dos pescadores — não há narração, entrevistas ou texto em tela. É difícil culpá-los. As vidas de Rakesh e Ganesh parecem feitas para o cinema. Não deveriam elas, então, serem apresentadas com a linguagem do cinema?
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2) YOU HURT MY FEELINGS (dir. Nicole Holofcener)
O novo filme de Nicole Holofcener, diretora de À Procura do Amor e roteirista de O Último Duelo, entre tantos outros. Seja pelo charme exalado por cada membro do elenco encabeçado por Julia Louis-Dreyfus e Tobias Menzies, pela maturidade do texto de Holofcener em relação aos temas centrais, por causa graça exibida pela diretora exibe para lidar com os obstáculos encarados pelos personagens sem nunca trair suas construções, ou simplesmente pelo quão legal morar e trabalhar em Nova York parece ser aqui.
Louis-Dreyfus interpreta Beth, uma escritora cuja autobiografia alcançou sucesso e lhe deu a oportunidade de tentar publicar seu segundo livro, agora uma ficção. Quando sua agente se mostra desinteressada na história, ela começa a sentir dúvidas sobre o trabalho, e essas são intensificadas quando ouve, por acaso, seu marido Don (Menzies) confessando ter achado o material fraco. Diante da esposa, Don, um terapeuta profissional, nunca havia dito nada negativo sobre a obra, e essa pequena mentira joga um pouco de terra no casamento outrora perfeito dos dois. Enquanto isso, eles precisam lidar com o retorno do filho, Eliot (Owen Teague) para casa depois de um término.
A história de You Hurt My Feelings é basicamente isso, com a adição de Michaela Watkins como a irmã de Beth, Sarah, uma designer de interior; do sempre agradável Arian Moyaed no papel de seu marido, o ator frustrado Mark; e como mãe das irmãs, da genuinamente hilária Jeannie Berlin. A magia do filme, porém, não está em reviravoltas ou encontros definidores. Na verdade, quando o roteiro de Holofcener abre exceções para choques ou surpresas, é quando as coisas saem levemente dos trilhos. O prazer desse longa-metragem encontra-se em como a diretora estabelece figuras tão imediatamente convidativas com personalidades variadas, mas igualmente cativantes por todo canto, sem nunca desviar-se disso quando o drama precisa acontecer.
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1) A THOUSAND AND ONE (dir. A.V. Rockwell)
Nos primeiros minutos de A Thousand and One, o belo e tremendamente verdadeiro filme de A.V. Rockwell no Festival de Sundance (onde venceu o grande prêmio), você pensa que já sabe tudo. Inez de La Paz (Teyana Taylor) acabou de sair da prisão após um ano, e enquanto tenta colocar seu negócio como cabeleireira para funcionar, ela toma a desesperada e ousada decisão de “sequestrar” seu filho de seis anos de um lar adotivo, como aquele onde ela mesma cresceu. O jovem Terry (Aaron Kingsley Adetola) estará melhor em suas mãos, não nas da cidade.
Nesta reconstrução da virada do século, Nova York é uma presença inescapável. Inez e Terry precisam aprender, em tempo real, a navegar uma cidade tão cheia de atrativos quanto de armadilhas onde famílias pobres, e frequentemente negras, são expulsas de suas casas por homens com um sorriso no rosto e uma faca escondida nas costas. Rockwell bebe de sua própria experiência na cidade que não dorme para informar os dilemas e sonhos dos três protagonistas, e A Thousand and One parte nosso coração exatamente ao mostrar quais destes eles não vão conseguir superar ou realizar.
Assim, o filme ganha o caráter de um épico. Aliando as mudanças dos personagens com as mudanças por eles enfrentadas, A Thousand and One traz à vida cenários tão detalhados pelas interações entre seus vários habitantes quanto pelo design de produção preciso de Sharon Lomofsky, através do qual entramos numa cápsula do tempo datada por videogames, roupas e música. Contrastando e complementando esse processo, a fotografia efêmera de Eric Yue não nos deixa esquecer da finalidade de todas essas coisas, enquanto a trilha sonora frenética de Gary Gunn mistura jazz e R&B para realçar a necessidade de improviso e ritmo na luta cotidiana.