Sundance: Rye Lane é uma colorida versão millenial de Antes do Pôr-do-Sol - Crítica do Chippu

Sundance: Rye Lane é uma colorida versão millenial de Antes do Pôr-do-Sol - Crítica do Chippu

David Jonsson e Vivian Oparah exploram Londres nesse empolgante meet-cute dirigido por Raine Allen-Miller

Guilherme Jacobs
26 de janeiro de 2023 - 5 min leitura
Notícias

FESTIVAL DE SUNDANCE: Eu lhe desafio a não manter um sorriso no rosto assistindo a Rye Lane, a estreia diretorial de Raine Allen-Miller que, ironicamente, começa com um jovem chorando. As lágrimas são de Dom (David Jonsson de Industry). Ele está dentro do box de um banheiro misto, onde busca por um pouco de privacidade para colocar pra fora as dores do término com a namorada que, logo descobriremos, o traiu com seu melhor amigo.

Quebrando esse momento de solidão está Yas (Vivian Oparah), também passando por um término brutal. Ela não resiste à curiosidade de olhar por baixo da porta e identificar o tênis do rapaz, e depois de encontrá-lo, fora do toalete, decide alegrá-lo com um tour pelo sul de Londres.

Ao longo de leves e prazerosos 80 minutos, Rye Lane nos transforma na vela de Dom e Yas. Assistimos enquanto os dois passeiam de restaurantes a cinemas, reencontram ex-namorados, compartilham seus medos e acabam, inevitavelmente, criando um tipo de química que os fará repensar o quanto os antigos relacionamentos realmente são dignos de lágrimas como as da cena inicial. Reproduzindo a eletricidade dessa nova amizade, e possível futuro casal, Allen-Miller transborda de criatividade com cores, músicas e composições exteriorizando a empolgação e nervosismo familiar de um dia não planejado, de uma tarde de mistério e possibilidade, e, quem sabe, de uma noite de amor.

Frequentemente utilizando lentes de olho de peixe para distorcer as bordas da imagem, a diretora cria a sensação de um mundo virado de cabeça pra baixo, com a Londres um dia conhecida pelos dois protagonistas quase deixando de existir. Em filmes piores, ideias assim podem deixar o mundo estático, sugerindo que não há vida fora do olhar da câmera. Mas aqui, através da inserção de cultura, coadjuvantes marcantes e algumas surpresas com grandes nomes do cinema britânico, Allen-Miller não faz a cidade desaparecer, e sim ser redescoberta. Cada esquina, bairro ou rua está esperando a chegada de Dom e Yas para acender suas luzes e se apresentar. Os dois se renovam, e no processo tudo ganha novos tons.

Há uma ótima vibe, em outras palavras. Rye Lane é quase uma versão millenial de Antes do Pôr-do-Sol, e dentro desta, o realizador muitas vezes coloca seus personagens correndo de um lado ao outro da tela, trafegando horizontalmente pelo campo. Esse quê Wes Andersoniano de encenar a ação comunica a velocidade e movimentação constante de jovens cujas mentes foram atiçadas, e cujos corpos não conseguem resistir ao impulso e à curiosidade. Tem algo ali. Precisamos chegar lá logo.

O feito de direção é essencial por conta do quão básico é o roteiro de Nathan Bryon e Tom Melia. O texto da dupla é fantástico na caracterização de Dom e Yas, cujas personalidades são instantemente cativantes, mas não tanto nos dramas secundários ao relacionamento, como o nervosismo de Yas quanto à sua carreira.

Rye Lane é melhor quando insere os dois em situações inusitadas, especialmente uma inesquecível visita à casa da ex-sogra da garota, ou quando deixa Jonsson e Oparah conversarem, se olharem e partirem para a próxima atração O carisma individual de cada um só é superado pelo dinamismo de suas cenas juntos neste parque de diversão.

A alusão ao circo se faz apropriada pela natureza episódica da história, uma turnê de locais marcantes e pessoas memoráveis. Dom e Yas passeiam por um por um mosaico vivo dos figurinos estilosos de Cynthia Lawrence-John, enquanto a fotografia vibrante de Olan Collardy faz saltar aos nossos olhos o design de produção de Anna Rhodes e os sets de Jessamy Hadfield.

A direção de Allen-Miller não deixa essa expressividade se tornar uma cacofonia, acompanhando passo-a-passo não só as faíscas desses dois jovens, como também suas vidas interiores cada vez mais preenchidas um pelo outro.

3.5/5

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