WGA vs. Estúdios: Quem 'venceu' a greve dos roteiristas?

WGA vs. Estúdios: Quem 'venceu' a greve dos roteiristas?

Analisando o novo acordo trabalhista entre roteiristas e estúdios de Hollywood, percebe-se que um dos lados saiu por cima

Guilherme Jacobs
27 de setembro de 2023 - 5 min leitura
Notícias

Após quase cinco meses, a a greve dos roteiristas de Hollywood terminou, e agora temos as informações completas de como é o novo acordo entre o sindicato dos roteiristas (WGA) e os estúdios como Disney, Netflix e Warner Bros. Discovery. São muitos detalhes, e diante deles é natural perguntar, "quem venceu?"

Uma disputa trabalhista não é exatamente uma batalha com vencedores e perdedores. Ambos lados ganham com o retorno das atividades, e dentro de um ambiente saudável essa troca de produção e recompensa será benéfica tanto para o trabalhador quanto para o empregador.

Mas é possível analisar o documento e entender qual dos lados avançou mais na negociação. E é isso que faremos aqui.

Antes de mais nada, leia a explicação de como funciona o acordo aqui.


O acordo é um meio termo, mas...


A oferta feita pelos roteiristas em maio de 2023, quando a greve começou, custaria aos estúdios um total de US$ 429 milhões por ano. A contraproposta original dada pelas corporações foi de apenas US$ 86 milhões por ano. O acordo final custará, para os estúdios, US$ 233 milhões por ano.

Olhando por esse lado, o contrato parece um meio termo. É natural, afinal. A maior parte das negociações justas terminam assim. Isso pode ser observado em alguns elementos. Veja, por exemplo, o reajuste salarial: O salário mínimo dentro do novo contrato vai crescer 5% no primeiro, 4% no segundo e 3.5% no terceiro. Originalmente, a WGA tinha pedido por um reajuste 6/5/5, e a contraoferta da AMPTP foi de 4/3/2.

Ou a sala de desenvolvimento, que se configura quando os roteiristas estão preparando uma série que ainda não recebeu a luz verde do canal. O sindicato pediu, originalmente, 6 roteiristas nessa sala, e depois de não receberem nenhuma contraproposta, conseguiram garantir 3 roteiristas.

Numericamente, e em grande parte dos compromissos, podemos identificar esse equilíbrio. Os roteiristas vão ter bônus de streaming, mas o cálculo das visualizações das produções ainda parte das empresas, e assim vai. É um balanço que parece refletir o que a WGA pregou durante toda a greve: os estúdios não estavam negociando em boa fé. Quando o fizeram, nas últimas semanas, uma resolução foi rapidamente encontrada.


Os roteiristas venceram os estúdios nas principais questões, especialmente IA


Nessa demora, o movimento dos roteiristas ganhou força. Os estúdios, pelo visto, estavam na torcida para que a demora tirasse força da greve, prejudicasse a união ou deixasse os grevistas desesperados. De lá pra cá, os tropeços constantes dos CEOs como Bob Iger e as táticas da AMPTP, associação que representa os estúdios, moveram a opinião pública a favor da categoria.

Talvez por isso, os roteiristas saíram vencendo em alguns pontos importantíssimos. O primeiro deles é o que já mencionamos: os bônus de streaming. O acordo antigo não refletia o sucesso dos serviços de streaming, e com isso o pagamento residual dos roteiristas era baixíssimo. Eles não estavam sendo recompensados pelos números que seus seriados e filmes geravam em catálogos como o da Netflix. Agora, há um bônus. Novamente, o cálculo ainda envolve os estúdios, experts em manipularem números, mas há um bônus.

A grande vitória, porém, veio na proteção contra inteligência artificial.

O acordo prevê que material gerado por IA não pode ser considerado como "material base" e não pode ser usado para remover o crédito ou direitos do roteirista. O roteirista pode escolher usar IA para seu trabalho, se o empregador permitir, mas a empresa não pode forçá-lo a usar as ferramentas como ChatGPT. A empresa também precisa informar o roteirista se algum material entregue a ele foi gerado por IA, ou inclui elementos gerados por IA.

A WGA também mantém o direito de proibir o uso de roteiros para treinar IA. Para tal, o sindicato pode acionar leis americanas.

A questão de IA certamente voltará, talvez ainda mais forte, quando o acordo trabalhista se encerrar em maio de 2026. Nesse primeiro momento, porém, os roteiristas saíram por cima. É uma vitória tremenda para a categoria, especialmente porque ao longo da greve esse debate se tornou um dos mais difíceis; os estúdios não pareciam dispostos a abrir mão de suas vontades.

Olhando para isso, parece que o jogo de cabo-de-guerra terminou com uma leve vantagem para os roteiristas, mas o território que eles conquistaram é muito significativo.

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