Guerra Civil Explicado: Por que os EUA estão em guerra no filme?

Guerra Civil Explicado: Por que os EUA estão em guerra no filme?

Entenda o que causou a nova guerra civil americana no filme da A24 com Wagner Moura

Alexandre Almeida
15 de abril de 2024 - 9 min leitura
Notícias

O cinema de Hollywood nos acostumou a ver a guerra e o conflito longe do solo norte-americano. Iraque, Afeganistão, Europa na Segunda Guerra Mundial e o Vietnã formam um quadrado mágico do gênero por lá. Quando os tiros e bombas explodem nas terras do Tio Sam, ainda assim é em uma narrativa de bem contra o mal. Quase sempre, esses filmes mostram a Guerra de Secessão ou Guerra Civil Americana, que dividiu o norte e o sul do país e teve o fim do regime escravagista do país como o centro do conflito.

Não Alex Garland. Em Guerra Civil, seu novo filme com a A24, o diretor imagina como seria um conflito desse porte caso acontecesse hoje em dia e baseado em comportamentos de diversos líderes mundiais da atualidade. Guerra Civil é um filme de estrada em que quatro jornalistas (Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny e Stephen McKinley Henderson) saem de Nova York para Washington D.C. na tentativa de ter um registro final do presidente antes que as forças contrárias ao regime dele o alcancem.

O diretor não poupa a “Terra da Liberdade” de seu próprio aparato bélico e muito menos de questões geopolíticas ligadas aos conflitos que ela participa e/ou financia. Desvalorização da moeda, inflação de preços de combustíveis, campos de refugiados e atentados terroristas são dramatizados. Em um dado momento, os jornalistas oferecem 300 dólares para comprar gasolina e o dono do posto diz que aquilo compra no máximo um sanduíche. Quando informado que serão 300 dólares canadenses, ele muda de ideia. Atualmente, a moeda americana é quase 30% mais valorizada frente ao dinheiro do Canadá e o valor do filme representa um caos, hoje, inimaginável em Wall Street.

Talvez, a questão mais complicada de se entender em Guerra Civil seja por que isso está acontecendo, e quem é quem nesse conflito. Garland não perde muito tempo de tela para explicar o assunto. Isso ajuda no sentimento de dúvida entre quem está certo ou quem está errado no combate e possibilita que a narrativa seja contada de forma mais direta.

Com ajuda da própria A24, que divulgou um mapa dos EUA com as divisões do filme, vamos aproveitar para tentar explicar um pouco do conflito, quem é aliado ao presidente interpretado por Nick Offerman e quem está contra ele.

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Por que os EUA estão em Guerra Civil no filme?

O presidente americano de Guerra Civil mal aparece no filme. Nem o nome dele é citado. Quase tudo que sabemos sobre ele é contado do ponto de vista dos jornalistas que cobrem a guerra para agências independentes de notícias. Descobrimos que ele assumiu um terceiro mandato, mudando a constituição americana, que em 1952 teve a 22ª Emenda ratificada, impondo o limite de dois exercícios de governo. A última vez que um presidente ficou mais de duas vezes no comando, Franklin D. Roosevelt usou, vejam só, a Segunda Guerra Mundial como desculpa.

Além disso, o personagem de Nick Offerman acabou com o FBI, a Polícia Federal dos EUA, e atacou os próprios cidadãos utilizando drones. Garland joga mais uma vez no solo norte-americano algo mais frequentemente visto fora de lá. Na guerra entre Ucrânia e Rússia, por exemplo, empresas americanas de armamento queriam vender drones aos ucranianos por apenas US$ 1.

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Essa postura fascista do presidente dos EUA em Guerra Civil é muito bem representada logo no início do filme. Ele treina um discurso de vitória, mesmo que as imagens mostradas provem que o país ainda viva um caos. Sammy (Henderson), em determinado momento do filme, compara o presidente a Benito Mussolini, Muammar Gaddafi e Nicolae Ceausescu, ditadores na Itália, Líbia e Romênia, respectivamente.

Garland deixa claro ali que a intenção não é dizer que o Presidente seja uma pessoa X ou Y da história americana, mas sim que o extremismo também tem ou terá vez nos EUA. Também não sabemos se alguma dessas decisões do presidente foi, em particular, o que desencadeou a guerra.

Provavelmente foi uma combinação dos três, e quem sabe o que mais. Sabemos apenas que o presidente fez o que fez, e que isso rachou o país. Parte da sociedade vai lutar contra e parte vai abraçar o regime. E é aí que entra o a divisão de território que vai marcar a trajetória do filme.


As Forças Ocidentais que ajudam os jornalistas

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As mais citada por Joel (Wagner Moura) e Lee (Kirsten Dunst), as Western Forces ou WF, como nas pichações do filme, são formadas pelo Texas e Califórnia, estados de grande representatividade política e econômica dos EUA. Para se ter uma noção Califórnia e Texas são os estados com mais delegados nos colégios eleitorais, com 54 e 40, respectivamente, e sempre representam vitórias impactantes nos pleitos. No filme, é possível ver uma bandeira americana com apenas duas estrelas, que representam as “repúblicas” formadas pelos estados. Alex Garland deixou claro que colocou Texas e Califórnia juntos por causa da grande diferença que eles representam na vida real e a união dos dois contra um inimigo em comum evitaria qualquer tema de conflito específico envolvendo-os. Além, é claro, uma narrativa de “inimigos” se juntando por um bem maior.


NPA ou Novo Exército Popular

Uma das maiores faixas de terra do mapa, essa aliança, que adota práticas maoistas, ocupa a maior parte dos estados do Norte e Noroeste dos EUA. Entretanto, como os locais não entram na rota dos protagonistas, o território é apenas citado ao longo da história. Também é sugerido que, ao final, eles estariam se aproximando da capital, mas pela falta de informação, não sabemos como aliados ou como uma nova frente de batalha.


Aliança da Flórida (FA)

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Historicamente derrotado na Guerra de Secessão e território dos Confederados, o sul dos EUA é ocupado pela Aliança da Flórida. É para lá que Joel e Lee concordam em levar Sammy (Stephen Henderson) e Jessie (Cailee Spaeny): Charlottesville. A cidade que ficou marcada, na vida real, após supremacistas brancos arremessarem um carro em manifestantes contrários, em 2017. Aqui, ela é uma frente de guerra contra os Legalistas que apoiam o presidente no filme. Mesmo assim, o sul do país tem divisões internas. Isso fica claro na melhor cena do filme, quando o soldado interpretado por Jesse Plemons acaba poupando a vida de Joel depois de ele afirma ser da Flórida. Mesmo não considerando o estado como a “América Real”, ele pula a vez de Joel para perguntar aos outros jornalista de onde eles são, e não reage bem a ouvir que um deles nasceu fora dos EUA.


Estados Leais ao Governo

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A maior parte dos 50 estados do território norte-americano permaneceram leais ao presidente, mesmo quando ele foi contra a constituição e assumiu um terceiro mandato, dissolveu o FBI e usou drones nos próprios cidadãos. O perigo causado pelos Legalistas é o grande motivo para a viagem dos jornalistas ser considerada como uma missão suicida suicida; como em todo regime fascista, o jornalismo e a verdade – representadas nas fotos de Lee e Jessie – são considerados inimigos.

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