Homem-Aranha vs. Deadpool & Wolverine: Quando o fanservice é bem-feito, e quando é gratuito

Homem-Aranha vs. Deadpool & Wolverine: Quando o fanservice é bem-feito, e quando é gratuito

Entenda por que forma como os filmes trata o retorno de personagens diferentes faz toda a diferença

Guilherme Jacobs
25 de julho de 2024 - 7 min leitura
Notícias

O texto abaixo contém spoilers de Deadpool & Wolverine

Se você já utilizou a frase "sou fã, quero service," então possivelmente adorou ver a quantidade de referências em Deadpool & Wolverine, que além de trazer inúmeras variantes dos personagens vividos por Ryan Reynolds e Hugh Jackman, ressuscita os heróis de filmes da antiga 20th Century Fox. Vemos a volta do Johnny Storm que Chris Evans interpretou em Quarteto Fantástico, Blade (Wesley Snipes), Elektra (Jennifer Garner) e até um que nunca viu a luz do dia: o Gambit de Channing Tatum.

Algumas dessas aparições geram risadas e são genuinamente surpreendentes. A ideia por trás delas também é nobre: celebrar a "Série C" dos super-heróis dos cinemas resgatando eles, literalmente, de um Vazio no qual foram parar, em grande parte, porque seus filmes foram ruins." Na teoria, há um ritual fúnebre para a antiga Fox, cujas produções, por mais imperfeitas que fossem, possuiam uma pureza pouco vista nas peças criadas na grande máquina Disney.

*Os Blades têm méritos, mas sejamos honestos quanto ao resto.

Na prática, porém, Deadpool & Wolverine não vai além do ato de referenciar. A surpresa, uma vez passada, pouco agrega à proposta emocional e temática do filme. Esses Vingadores da Shopee não amontoam para nada, exceto piadinhas de quinta série que Reynolds adora fazer, e em nenhum momento o filme de Shawn Levy demonstra vontade de examinar o que aqueles filmes representam, o que aqueles personagens podem oferecer, ou por que deveríamos celebrá-los. É gratuito.

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Eu não escrevo isso para desmerecer a ideia do fanservice, primeiro porque nenhuma pessoa que se considera "fã" vai negar gostar do "service," e segundo porque todo blockbuster hollywoodiano, quer produzido pela Marvel, quer não, procura agradar seu público em algum grau. Mas os easter eggs e piscadelas não precisam ser apenas gratuito. Em Deadpool & Wolverine, a aparição desses heróis serve, em grande parte, para popular o roteiro completamente vazio de um filme que resolveu continuar a gravar mesmo durante a greve dos roteiristas com distrações. Basta olhar para outro capítulo do MCU para ver como o retorno de atores antigos pode ser algo mais.

Em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, um filme que termina literalmente colocando a frase "estamos felizes por te servir", vemos uma mecânica semelhante, feita de um jeito bem melhor. Além dos vilões, Tobey Maguire e Andrew Garfield retornam como as versões anteriores de Peter Parker graças às pedaladas do multiverso, mas além de empolgarem fãs que cresceram assistindo a seus filmes, a dupla de veteranos recebe um tratamento cuidadoso e eleva a história protagonizada por Tom Holland.

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Maguire, cujos filmes tinham uma disposição à escuridão marcante, serve para mostrar para o novato a necessidade de dominar seu desejo por vingança, enquanto Garfield, cujo tempo no papel foi cortado sem cerimônia, ganha a chance de, enfim, expressar o luto pelo amor que perdeu e encontrar alguma espécie de redenção.

É algo parecido com o que Vingadores: Ultimato faz com sua viagem no tempo. Ali, enquanto o passeio pela cronologia do MCU dá ao público a chance de relembrar filmes que assistiram no preparo para essa grande concluão, o filme oferece a personagens como Thor, Homem de Ferro e Nebulosa a chance de encararem emoções nunca resolvidas. Sim, é tudo uma coleção de referências, mas há uma intenção narrativa que justifica tudo aquilo.

Até há um ou outro discurso, em Deadpool & Wolverine, sobre dar aos personagens da Fox o final que eles nunca tiveram. É até irônico, já que o filme desfaz Logan, o final que o personagem mais amado do elenco conseguiu alcançar, e também uma que soa falsa diante da motivação que anima o Wade Wilson de Reynolds. Sua jornada emocional é abastecida pelo desejo de "importar," algo que ele iguala a fazer parte dos Vingadores. Ou seja, esses personagens só importam se eles saírem da Fox e forem para o MCU.

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Se Sem Volta Para Casa reconhece importância nas experiências que os Peter Parkers de Tobey Maguire e Andrew Garfield tiveram em seus filmes, Deadpool & Wolverine faz o inverso. Ele não consegue, com exceção da homenagem que acontece durante seus créditos, enxergar valor nos filmes da Fox por si mesmos. Reynols e Levy até pregam um carinho por aqueles heróis esquecidos, mas jamais os tratam como dignos disso. O discurso não cola.

Essa é uma distinção que faz sentido quando consideramos as principais forças por trás de ambos filmes. Como já mostrou em Free Guy, Reynolds está mais do que disposto a vender sua alma para a corporação por trás de seus projetos, até por ser produtor deles e precisar assegurar coisas como financiamento e distribuição. Holland, que já se mostrou mais de uma vez relutante em voltar ao papel de Peter Parker com medo de manchá-lo, se importa primeiro com a história. Ele, inclusive, forçou uma mudança de última hora na conclusão de Sem Volta Para Casa quando percebeu problemas demais na execução.

Céticos do tal cinema de heróis podem até rejeitar essa diferença e considerarem tudo isso como tentativas baratas de arrecadar, e de fato ambos filmes são baseados no mérito herdado, confiando na familiaridade do público com o legado de outros estúdios para gerar interesse. Eu, porém, insisto: nem todo fanservice é igual. Como falei na minha crítica de Deadpool & Wolverine, há um ótimo exemplo dessa distinção nos quadrinhos da própria Marvel.

Há duas versões de Guerras Secretas nos quadrinhos. A primeira, dos anos 1980, foi feita pra vender boneco e joga os personagens em tela de qualquer jeito. A segunda, de 2015, é um épico sobre a inevitabilidade do fim. Teoricamente, a Marvel vai adaptar a segunda pro próximo Vingadores, mas filmes como Deadpool & Wolverine me fazem temer que a vibe vai ser do primeiro Guerras. Esses filmes sempre querem vender bonecos, até os "maduros" como Coringa e Batman, mas eu acredito do fundo do meu coração que eles podem fazer mais, ser mais. Eles precisam ser mais que Deadpool & Wolverine.

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