Homem-Aranha e Multiverso: A combinação que já passou por TV, quadrinhos e cinema
Sem Volta Para Casa não será a primeira vez que o herói encontra outras versões de si. E não, Aranhaverso não foi o primeiro.
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Após meses e meses de rumores, vazamentos e relatos, o trailer de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa finalmente confirmou que o terceiro filme estrelado por Tom Holland no universo da Marvel será, de fato, uma história sobre o multiverso. Ao recrutar a ajuda do Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para fazer as pessoas esquecerem sua identidade secreta, o herói acaba abrindo um portal para outras realidades, de onde vêm o Doutor Octopus (Alfred Molina) e Duende Verde (Willem Dafoe), da trilogia de Tobey Maguire, e o Electro (Jamie Foxx) dos filmes de Andrew Garfield.
O trailer não mostra as outras variantes do amigo da vizinhança. Nem Maguire, nem Garfield, estão confirmados como parte do elenco por enquanto, e se tivermos sorte, a Marvel e Sony Pictures guardarão essa revelação para o filme, não para o próximo trailer. Mas é difícil imaginar este filme sem os dois antecessores de Holland. A apresentação dos vilões clássicos é como o levantamento perfeito para uma ponte aérea, e os outros Aranhas é a enterrada icônica. Sem eles, a jogada sai dos melhores momentos da temporada para o Shaqtin' A Fool.
Há alguns meses, um tweet meu ganhou uma certa tração quando expressei o meu desejo de deixar as aventuras cósmicas de lado e ver uma história simples do Homem-Aranha, com Peter tentando equilibrar suas duas vidas, algo visto por exemplo em Homem-Aranha 2 e até em De Volta ao Lar. Mas, se vocês me permitirem discordar de mim mesmo, o interessante de ver o cabeça de teia lidando com o multiverso é justamente o fato dessa ser uma das histórias mais comuns e recorrentes usadas pela Marvel para temperar as aventuras do seu personagem mais popular. E ela existe muito antes de Aranhaverso ganhar o Oscar.
A ideia do Aranhaverso foi popularizada pela história "Spider-Verse", escrita por Dan Slott em 2014. Esse quadrinho popularizou o termo depois usado pela animação protagonizada por Miles Morales, mas o conceito em si existe há quase 30 anos. Homem-Aranha: A Série Animada, desenho animado de 1994, apresentou a ideia como o clímax de sua quinta temporada (disponível no Disney+) quando, no arco Spider-Wars o Peter Parker principal é recrutado para combater uma versão maléfica sua que se fundiu com o Carnificina para tentar destruir o multiverso. Ao ser levado para outra Terra, o herói conhece outras versões de si.
Ali presente está Ben Reilly, o Aranha-Escarlate clássico, um Homem-Aranha de armadura que é um bilionário em seu mundo, um Homem-Aranha com os braços do Doutor Octopus, um Homem-Aranha passando por uma mutação através da qual ele virará uma Aranha-Homem, e um ator que interpreta o Homem-Aranha no mundo real.
Slott chegou a adaptar vários desses conceitos durante seu tempo escrevendo Homem-Aranha (incluindo colocar Octopus no controle da mente de Peter em Superior Homem-Aranha) e já há rumores que Aranhaverso 2 trará o Peter da série animada clássica para os cinemas como parte do seu multiverso, ao lado de Miles Morales.
O criador de Miles, aliás, é outra figura importante nesta história de Homens-Aranhas. Brian Michael Bendis foi o responsável pela história em quadrinho do herói no falecido universo Ultimate da Marvel nas HQs, onde eventualmente matou Peter e deu a Morales a chance de assumir o manto, estabelecendo, de longe, a versão alternativa mais popular de um super-herói e provavelmente o personagem criado no século 21 de maior sucesso nas revistinhas.
Bendis foi quem escreveu minha história favorita de um encontro de versões diferentes do Aranha com o crossover Homens-Aranha, quando o Peter da Terra 616 e o Miles do Ultimate se conheceram pela primeira vez. Entre os momentos lindos do conto está o encontro entre Parker com a Tia May e Gwen Stacy do universo onde ele morreu. Primeiro as duas ficam com raiva, acreditando ser uma pegadinha de mal gosto, mas depois a situação se torna emocionante, culminando num abraço de partir o coração.
Aranhaverso construiu em cima deste fundamento e, agora, Sem Volta Para Casa fará o mesmo numa escala muito maior (talvez não em termos de quantidade de variações, mas de fama) ao juntar três atores que já assumiram o papel em produções milionárias num só filme. A pergunta que fica é, por que? Por que o Homem-Aranha é tão associado ao multiverso mesmo sendo um personagem tão pé-no-chão?
A razão comercial, claro, é que ele é o personagem mais popular da Marvel e, por isso, a editora tem muito interesse em apresentar versões diferentes dele. Isso significa roupas diferentes para colocar em bonecos, oportunidades infinitas de crossovers e a chance de explorar narrativas variadas. E se Gwen Stacy fosse picada pela aranha? Vocês sabem como é.
Mas, ao mesmo tempo, parte do apelo de ver o Homem-Aranha em outras dimensões está justamente no fato dele ser um herói relativamente simples. Sim, às vezes ele luta contra a Fênix numa guerra entre Vingadores e X-Men, mas em sua essência, Peter Parker é o amigo da vizinhança, alguém como nós. Isso o transforma num quadro em branco para ideias, um esboço no qual diferentes artistas, roteiristas e fãs podem imaginar possibilidades a mil, misturá-las e atualizá-las com o andar dos anos.
O Aranha, seja Peter, Miles, Gwen, Ben ou outro, é simples da melhor maneira possível. Um parente perdido, uma picada de aranha e uma cidade nova-iorquina. É tudo que você precisa. Não há a necessidade da segunda guerra mundial, de asgardianos, de bilhões de dólares ou de testes nucleares para criá-lo, estabelecê-lo e desenvolvê-lo. Seu visual se adequa facilmente à mudanças, como roupas pretas, armaduras e mais. Este é um personagem à prova do tempo.
E assim, passando pela TV, quadrinhos e cinema, o Homem-Aranha e seu Aranhaverso permanecem relevantes, populares e cheios de potencial. Torçamos, então, para Sem Volta Para Casa fazer jus ao legado desta mistura.