Ingresso Para o Paraíso - Crítica do Chippu
Comédia romântica transportada dos anos 2000 é simples, mas diverte sem compromisso graças a Julia Roberts e George Clooney
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A experiência de viagem no tempo em Ingresso Para o Paraíso começou há meses, quando o trailer desta comédia estrelada por George Clooney e Julia Roberts entregou a história inteira do filme, suas reviravoltas (todas previsíveis, claro) e boa parte de suas piadas. É uma prática comum em obras do tipo, normalmente oriundas dos anos 2000, e uma boa maneira de deixar clara sua proposta. Você sabe exatamente que tipo de filme é este antes mesmo de começá-lo. Mas clichês viram clichês por uma razão. Eles funcionam.
E hoje? Talvez sejam bem-vindos.
Clooney e Roberts vivem David e Georgia (mas, na verdade, só interpretam a si mesmos). Divorciada há 20 anos, a dupla declara trégua para convencer a filha, Lily (Kaitlyn Dever), a desistir de um casamento com Gede (Maxime Bouttier), um fazendeiro de algas em Bali, onde a garota e sua melhor amiga Wren (Billie Lourd) foram passar as férias depois de terminarem a faculdade de direito.
Assim como sua mãe na juventude, entrar nesse compromisso custará à Lily um emprego de primeira, e considerando como a união dos pais terminou, o arrependimento parece inevitável. Claro, o rapaz é ótimo, o local é um paraíso, mas e daqui a cinco anos? Dez?
A premissa é clássica, e não surpreenderá ninguém quando Ingresso Para o Paraíso desenvolvê-la da maneira esperada. Uma possível reunião dos pais, comédia de peixe fora d’água com uma cultura diferente, desentendimentos, assim vai. O diretor Ol Parker está comprometido a oferecer o pacote completo. Pense, e provavelmente estará lá.
Consequentemente, alguns problemas tradicionais de comédias românticas se fazem presentes. O texto é superficial e óbvio, com o elenco constantemente resumindo fases inteiras de seus arcos em uma ou duas frases, assim garantindo a compreensão da audiência e supostamente desenvolvendo os personagens. A narrativa segue caminhos conhecidos, flutuando entre arquétipos e estereótipos para buscar as mesmas piadas de sempre (Roberts tem um novo namorado, mais jovem e francês, mas totalmente besta).
Alguns atores, como Bouttier e Lourd, não demonstram muito alcance ou magnetismo. Ele, especificamente, é tão fraco que fica difícil acreditar na capacidade de conquistar Dever, que mesmo longe de suas melhores atuações ainda adiciona vislumbres de vida interior e personalidade ao papel outrora esquelético.
E ainda sim, é difícil sair de Ingresso Para o Paraíso sem um sorriso na boca. A principal razão, naturalmente, é o carisma inerente de seus astros, ambos veteranos capazes de interpretar estes protagonistas de olhos fechados e mãos amarradas, mas sem qualquer pista de estarem simplesmente no automático.
Clooney e Roberts são ímãs de atenção, puxando nosso interesse para a tela quando todo o resto se mostra limitado. As cenas sem os dois parecem vir de outro filme. Simplesmente através de charme e experiência, a dupla preenche as lacunas no texto, entrega emoções ausentes nos diálogos e melhora a qualidade do humor.
Chamá-los de salvadores do filme é um eufemismo. Aqui, eles são o começo e o fim. Claro, já os vimos fazendo isso antes, inclusive na mesma obra, mas isso só deixa o feito da vez ainda mais impressionante. Depois de tanto tempo, eles ainda conseguem.
Clooney, como de costume, se entrega à comédia corporal e não teme o ridículo, mas guarda seu verdadeiro poder no rosto, Entre sorrisos quebrados e olhares precisos irresistíveis, ele conquista nossos corações, os parte e junta os pedaços num só movimento. Ninguém é melhor na hora de transmitir aceitação relutante. Ninguém parece estar tão no controle do mundo sem exibir um pingo de esforço. Ele é a imagem do relaxamento, mas nunca parece estar desligado.
Roberts, por sua vez, parece enfim saciar uma sede de anos. Como alguém matando a saudade de seu restaurante favorito, ela sabe com precisão quais os melhores pratos do cardápio, mas nunca tem pressa na hora de saborear até mesmo os aperitivos menos interessantes. Se seu parceiro de cena é o mestre cômico, ela brilha mais nos momentos sérios. Contemplativa e calorosa, ela é capaz de, com um breve inclinar da cabeça aprofundar Georgia, compensar falhas narrativas e melhorar a imagem de todos ao seu redor.
Claro, ainda há coisas além do alcance dos atores. Dirigindo quase como se quisesse sair do caminho do próprio filme, Parker não repete aqui o feito de Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo, de nos transportar para outro ambiente e capturar a beleza do local. É impossível deixar Bali feia, mas as cenas nunca parecem fazer jus ao cenário paradisíaco ou oferecer uma identidade visual distinta.
O único defeito incapaz de ser escondido ou esquecido, porém, é como seu roteiro — escrito ao lado de Daniel Pipski — evita tentar responder a única pergunta levantada no enredo. Ao término de seus breves 104 minutos, Ingresso Para o Paraíso não tem nada a dizer sobre o fim de casamentos, o esfriamento do amor ou como lutar contra isso. As preocupações de David e Georgia são silenciadas, mas não sabemos o porquê.
No fim, Ingresso Para o Paraíso escapa falhar em sua única pretensão temática justamente por se mostrar competente, ainda que modesto, em todos os outros objetivos. Se você está com saudade de comédias românticas feitas para pessoas com mais de 21 anos, se quer protagonistas cujos maiores medos não envolvem o fim do ensino médio, e se deseja ser lembrado de porque George Clooney e Julia Roberts são ícones, então suas orações foram atendidas. Completo com erros de gravação nos créditos (alguns mais engraçados do que qualquer coisa no corte final) e ajudado pelo fato de existir em uma época na qual não há mais filmes assim, Ingresso Para o Paraíso é exatamente o que precisa ser.
3/5