Joaquin Phoenix é, em pelo menos um sentido, incomparável. Nenhum ator em atividade (afinal Daniel Day-Lewis está aposentado) mantém, hoje, um status igual ao seu quando se trata de qualidade de atuação. Se ele é, ou não, o melhor do momento, podemos debater. O que está claro é que a presença de Phoenix passou a ser associada com uma ótima performance já há algum tempo, e transcende bolhas de cinéfilos para alcançar um público até mais casual.

Phoenix não é a maior estrela do cinema do Século 21, e nem o maior vencedor de Oscars, mas ele é alguém cujo rosto estampa diversos grandes trabalhos de todos os tipos. Ele pode ser o vilão beberrão de um blockbuster e interpretar um homem triste num filme da A24, o astro do maior filme com classificação indicativa para maiores e uma das vozes de Irmão Urso, e assim vai. Sua versatilidade é ímpar, e notável.

O que nem sempre é notado é quão poucos filmes ele faz. 2023 foi um ponto fora da curva, com dois títulos: Beau tem Medo e Napoleão. Antes disso, temos zero em 2022, um em 2021, zero em 2020, um em 2019. É incomum, hoje em dia, ver alguém de seu patamar trabalhar tão pouco. O cuidado tem sido recompensado. Nem todo filme é um sucesso de bilheteria (Beau tem Medo, por exemplo), ou é aclamado por todos (o próprio Coringa), mas cada um perpetua sua presença como alguém que se entrega de corpo e alma a seus papéis, se transformando física e psicologicamente.

Napoleão: Como o Cinema Conquistou o Conquistador

Também é curioso notar quantas dessas atuações são autodepreciativas. Em Napoleão, mais uma delas, ele nem precisa se esforçar muito, tanto que o resultado não é tão interessante quanto em outras versões desse tipo de personagem. Vamos citar algumas delas baixo, e nas melhores, mais do que incorporar tristeza e loucura, Phoenix o faz sempre mantendo humanidade à vista. Não há ator trágico melhor que ele agora.

10. Gladiador (2000)

A atuação que fez Phoenix deslanchar para o mundo, como o safado e infantil filho de César no Gladiador de Ridley Scott, mostra dois de seus grandes dotes: a já mencionada autodepreciarão, onde o ator se joga sem medo nas vergonhas e falhas de seu personagem, o humor ácido com o qual ele abastece tantos papéis, nos fazendo rir dele, e não dele. Ambos foram aperfeiçoados em filmes seguintes, mas tudo começa aqui.

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9. Era Uma Vez em Nova York (2013)

Apesar de não alcançar o mesmo patamar, seja de atuação ou como filme, que sua outra colaboração com James Gray (#4 aqui), Era Uma Vez em Nova York é um passo importante para Phoenix na sua interpretação de... bom, homens de mau-caráter. O truque aqui é como ele consegue manter a quantidade certa de charme e entretenimento para convencer a personagem de Marion Cotillard, e a nós, antes de abrir o jogo.

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8. Sempre em Frente (2021)

Talvez o mais íntimo, interior e até good vibes de seus trabalhos nessa lista. Este pequeno filme lançado pela A24 o coloca para atuar com um ator mirim (o mega competente Woody Norman), e mostra que o ator não é só excelente em interpretar personagens exagerados ou caricatos. Este é um lembrete do que Phoenix consegue fazer sendo uma pessoa comum, e o resultado é lindo, triste e comovente.

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7. Beau tem Medo (2023)

E aqui, temos o oposto da anterior. Há varias atuações exageradas, cômicas e humilhantes nessa lista, como as de #6 e #2, mas nenhuma supera o coração sombrio do filme de Ari Aster, onde Phoenix rasga todas as suas camadas protetivas para rirmos do homem mais inseguro e imaturo que passou pelo currículo do ator. É impressionante, porém, como ele nos oferece um centro para o que é uma comédia de pesadelo surtada. Estamos, independente do tamanho de seus testículos, sempre com ele.

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6. Vício Inerente (2014)

O mais esquecido trabalho de Paul Thomas Anderson é uma adaptação quase impossível, trazendo o texto efêmero e idiossincrático de Thomas Pynchon para o cinema em grande parte por causa de Phoenix, que é um adorável idiota como Doc, no que é possivelmente sua atuação mais engraçada. Descobrimos Vício Inerente junto com ele, até identificarmos o coração de uma história que se resume a homem machucado ajudando outro homem a não se machucar.

Conhecido por suas extrapolações, Phoenix faz um trabalho diferente neste sofisticado e potente suspense de crime dirigido por Lynne Ramsey. Num filme cuja proposta abrangente (vingança) é contraposta com uma abordagem específica e desafiadora, elacolocou Phoenix na corda bamba de equilibrar uma profunda ira entre a quietude de alguém que precisa escondê-la e a explosão de quem, eventualmente, precisa expressá-la.

Veja onde assistir a Você Nunca Esteve Realmente Aqui aqui

4. Os Donos da Noite (2007)

Uma obra-prima que precisa sempre ser redescoberta, Os Donos da Noite pinta um dos mais completos personagens da carreira de Joaquin Phoenix para tratar de família, vocação e Nova York. Para o tal, ele precisa passar por uma das mais poderosas transformações emocionais de toda essa lista, partindo de um gângster que tanto se assemelha aos imperadores que ele viveu para um vingador justo, sem nunca esquecer seus fracassos.

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3. Ela (2013)

O único filme deste Top 10 que, em termos da atuação de Phoenix, está em conversa com o romance retrofuturista de Spike Jonze, é Sempre em Frente, mas até essa comparação falha. Ela também é intimista, mas aqui, o trabalho de Phoenix precisa ser mais melodramático sem cair no piegas, e o desafio fica ainda maior quando sua principal parceira de cena é apenas a voz (linda, sejamos honestos) de Scarlett Johansson.

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2. Coringa (2019)

O filme que finalmente deu o Oscar para Phoenix é uma vara atraindo relâmpagos de polêmicas, discussões e controvérsias. Para fãs, essa é uma obra-prima. Para outros, Todd Phillips fez cópia de trabalhos melhores. Sem dúvida há erros e acertos, mas o que permanece é a qualidade do ator em comunicar a tragédia cômica, excêntrica do Coringa. Talvez o maior milagre seja ele não ter sido engolido por um vilão cuja versão mais famosa, e também vencedora de Oscar, é considerada inigualável.

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1. O Mestre (2012)

A melhor atuação de Phoenix vem no filme mais bem atuado deste século, onde ele precisa ir pau a pau com o trabalho da vida de Philip Seymour Hoffman. Como ferro afiando ferro, a dupla apresenta um retrato perturbador, engraçado e afiado sobre manipulação e homens quebrados. Aqui, ele combina suas qualidades — a comédia e a tragédia, a loucura e a tristeza, a humanidade e a fisicalidade — e eleva cada uma à potência máxima. É necessário, se não seu colega de tela iria o engolir.

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