Loki encerra segunda temporada com uma das melhores horas do MCU pós-Ultimato
O deus da trapaça finalmente encontrou seu propósito glorioso
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O texto abaixo contém spoilers para o último episódio de Loki, "Glorioso Propósito"
Semana passada, falei que Loki havia fechado o arco emocional do personagem de Tom Hiddleston com um episódio centrado em seu conflito interno. O que, então, resta para o finale? De certa forma, minhas expectativas estavam baixas. Talvez muita coisa acontecesse, mas o quanto do protagonista ainda havia para explorar? Para minha grata surpresa, Eric Martin, Michael Waldron e o time por trás da série não só tinham a resposta para essa pergunta, como também souberam transformá-la numa das melhores horas do MCU desde Vingadores: Ultimato.
Se "Ciência/Ficção" forçou Loki a enfim admitir o que ele quer, o último episódio busca explorar o quanto ele está disposto a sacrificar por isso; logo após admitir que não queria ficar sozinho, o deus da trapaça recebeu a oportunidade de cumprir seu antigo desejo — assumir um trono. Para o Loki de antigamente, revivido nos flashbacks recapitulando a história do vilão que dão início ao episódio, essa seria uma oportunidade de ouro. Para este Loki, que enfim encontrou em Mobius (Owen Wilson), Sylvie (Sophia DiMartino), OB (Ke Huy Quan) e nos outros membros da AVT a solução para o problema de sua solidão, cumprir esse "Glorioso Propósito" significa abrir mão disso tudo para o bem deles.
Tendo dominado o deslize temporal, Loki passa meses, décadas e enfim séculos tentando solucionar o problema do Tear Temporal, voltando para diferentes cenas das duas temporadas da série em busca de dominar todo o conhecimento necessário para salvar a AVT. São eternidades aprendendo física e engenharia com OB, teoria do tempo e mecânicas quânticas com Victor Timely (Jonathan Majors), e ensaiando aquele crítico momento no qual o Tear explode para, enfim, conseguir mudar os acontecimentos.
Então vem a triste verdade. Aumentar a capacidade do Tear significa ainda mais ramificações da linha do tempo. Você pode multiplicar os números à vontade, infinito sempre será superior ao seu total. Desesperado, Loki volta para o final da primeira temporada, e tenta, através de centenas de repetições da mesma luta e diálogo, impedir Sylvie de matar Aquele Que Permanece para que nada disso aconteça.
Eventualmente, o vilão percebe isso, e pausa o tempo para conversar com Loki. Entramos numa das melhores conversas da temporada, onde descobrimos que esse era o verdadeiro plano da variante de Kang, o Conquistador. Ele não vai simplesmente se entregar, e ao colocar Loki na posição de escolher entre matar Sylvie (o único jeito de pará-la) ou acabar com toda a existência, o fundador da AVT parece ter calculado uma vitória absoluta. A cena entre os dois possui uma energia eletrizante, mas diferente de seu encontro na temporada passada, quando Aquele Que Permanece parecia ter todas as cartas e Loki, assim como nós, apenas reagia à descoberta da guerra entre os Kangs e do fim do multiverso. Dessa vez, Loki veio mais preparado.
Nenhum momento pontua isso quanto quando descobrimos que além de dominar o deslize, Loki também aprendeu a parar o tempo. É uma prévia do que o episódio fará em sua conclusão. Ele está, de fato, virando o sucessor que Aquele Que Permanece gostaria que ele fosse, e mesmo saindo desse reencontro sem a resposta do que fazer para salvar o multiverso sem matar Sylvie, Loki está determinado a continuar tentando.
São voltas e voltas, mas por mais que cenas como essa, ou um outro encontro com Sylvie, sirvam para dar a Hiddleston a oportunidade de exibir o conflito emocional do personagem, o clímax (e a decisão final) precisavam vir com Mobius. Hiddleston e Wilson são espetaculares nessa série, e aliados ao bom texto de Martin, os dois formam uma das melhores duplas de todo o universo Marvel.
Volto a dizer: muito mais importante do que as consequências desse episódio para a Saga do Multiverso é o bom trabalho do relacionamento desses dois grandes amigos. Vemos isso claramente quando Loki retorna para seu primeiro encontro com Mobius, descobre eventos do passado do colega e sai de lá determinado. Ele sempre disse ter o fardo de um propósito glorioso. Bom, é hora de carregá-lo.
Ele o faz na arrepiante sequência onde Loki domina e transforma o Tear. É um momento empolgante o suficiente para superar deficiências no CGI, e cuja carga fantasiosa só não é maior do que o simbolismo desse personagem, alguém cujo sonho sempre foi virar rei, caminhando em direção ao posto e deixando para trás aquilo que ele realmente queria: seus amigos. O retorno ao visual clássico de Loki, com roupas verdes e grandes chifres, diz tudo. Ele está voltando à divindade isolada e solitária.
Um dos méritos de Loki, a série, é entender seu personagem como um ser mitológico, e vê-lo literalmente segurando as linhas do tempo, formando uma espécie de nova Yggdrasil onde ele é o centro de tudo, é o tipo de acontecimento épico digno das lendas nórdicas. Potencializando isso tudo, porém, está a contradição de nossa felicidade pelo sucesso de sua jornada e tristeza de seu destino. Ver Loki observando a nova e melhorada AVT, junto com o retorno de Mobius à sua casa nos deixa igual a ele: sorrindo, mas com os olhos cheios de lágrimas.