Ao tentar ser TikTok e Netflix, Marvel enfrenta primeira grande crise

Ao tentar ser TikTok e Netflix, Marvel enfrenta primeira grande crise

Necessidade de atender demanda de streaming e avalanche de conteúdo deteriorou a marca que era sinônimo de qualidade e sucesso nos últimos 10 anos

Thiago Romariz
1 de novembro de 2023 - 3 min leitura
Notícias

A matéria de capa da Variety em novembro coloca os holofotes na crise do estúdio de maior sucesso recente em Hollywood, o Marvel Studios. Em uma vasta reportagem, o site conta como o caso Jonathan Majors tira o sono dos executivos, como os problemas com efeitos visuais minaram a gestão interna e até como os Vingadores originais foram cogitados para voltar e "salvar" o atual momento da empresa. O texto serve como um bom resumo de tudo que acontece na Disney e no entretenimento americano desde o fim da pandemia, mas esconde em dados e declarações de bastidores um dos principais fatores para a crise no cinema e Hollywood no geral: a necessidade incessante de criar conteúdo e atender demandas fora do escopo que dominam.

Desde a pandemia, principalmente, estúdios como Disney e Warner viram o streaming como a principal fonte de receita em um mundo que fechou cinemas, parques e até lojas que vendiam seus merchandisings. Com um concorrente a léguas de distância como a Netflix, estas empresas se viram numa sinuca de bico com os investidores e decidiram investir bilhões para criar um sistema que entregasse conteúdo e tecnologia de ponta em questão de meses. Era isso ou a única opção de conteúdo sob demanda seria a Netflix - e naquela época, em que vacina era uma dúvida e a pandemia parecia longe de acabar, não parecia existir alternativa.



É um fato que boa parte dos serviços já existiam, mas no período de 2020 a 2022 foi quando eles investiram de forma intensa, especialmente a Marvel, que lançou séries como Wandavision, Loki, Ms Marvel, Falcão e Soldado Invernal, Groot, Gavião Arqueiro, Cavaleiro da Lua e muitas outras. Ao mesmo tempo, uma nova leva de filmes também foi anunciada, incluindo sequências de nomes aclamados como Capitão América e Vingadores, além de novidades relevantes como Quarteto Fantástico - quase todos eles com datas hoje diferentes do dia em que foram revelados. A atitude da Marvel, em comparação com outras eras, é compreensível se olharmos só para o cinema. Nunca foi raro o estúdio ter três ou quatro projetos por ano, contando com suas parcerias com a Sony. A novidade estava mesmo no streaming, que do dia para noite colocava um punhado de personagens, histórias derivadas e animações no escopo de uma casa que só sabia fazer projetos para a telona.

A decisão, conforme dissemos, tem muito a ver com a pandemia e a gestão de Bob Chapek, que decidiu dobrar as apostas no digital - e foi além da Marvel, anunciando séries de Star Wars, da Pixar, de Star Wars e até de Willow, um esquecido projeto da Lucasfilm. Se num primeiro momento o mercado enxergou com bons olhos, não durou mais que um ano para que todos vissem o quão complexo é o mercado de tecnologia - pois streaming é, antes de conteúdo, um jogo de gigantes de tecnologia. Não por acaso, Amazon e Netflix seguem melhores do que a maioria nesta seara. A Disney, famosa pela cultura e constante evolução de seu conteúdo e experiência, se viu numa situação em que investiu em algo que não só não sabia fazer (tecnologia), como algo que prejudicou sua maior virtude, o controle de qualidade.

Nomeado como um dos mais exigentes produtores de Hollywood, Kevin Feige, o presidente do Marvel Studios, não conseguiu colocar as mãos ou mesmo qualquer gestão em alguns projetos de streaming. A administração da produção e pós-produção, prejudicada pela pandemia em projetos que seriam comuns para o estúdio, se encontrava descontrolada dentro de iniciativas que eram novas para a empresa - vide as questões de refilmagem de Ironheart, os efeitos de She-Hulk e as mudanças no roteiro de Invasão Secreta. A avalanche de decisões tomadas do meio pro fim da pandemia parecia estar, em 2022, chegando num ápice de destruição que atingiu boa parte dos projetos criados, culminando na saída de Bob Chapek e na volta de Bob Iger, ex-presidente que voltou com status de salvador.



Um ano após a volta, o executivo lida ainda com os mesmos problemas de anos atrás, tentando remediar os gastos exorbitantes e a falta de foco da equipe criativa. E são nestes dois pontos que se pode analisar a atual crise da Marvel, que tentou produzir na velocidade de um feed de TikTok e com a eficiência tecnológica da Netflix, sem nunca saber como fazê-lo no streaming. No cinema, apesar da crise, boa parte dos filmes ainda fazem mais de US$ 700 milhões, estão na lista das maiores bilheterias pós-pandemia e o estúdio tem uma média de US$ 600 milhões desde 2021 por filme. O que acontece é que, com tantos projetos simultâneos e problemas internos, é impossível seguir com a qualidade de outrora.

O ápice destes problemas veio com a baixa bilheteria de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania e deve continuar com o desempenho abaixo do esperado de As Marvels. Existe sim uma fadiga do gênero de heróis, mas mais do que isso, existe uma fadiga pelo consumo excessivo de conteúdo de qualquer tipo. Não dá para existir dezenas de Tik Toks, dezenas de Netflix e milhares de séries e filmes ao mesmo tempo, e esperar que todos eles tenham sucesso ou eficiência longeva. O dia só tem 24 horas e não há marca ou qualidade que resista a uma exposição ininterrupta como ocorreu com a Marvel nos últimos anos. Histórias se criam com tempo e cuidado. Conteúdo, por vezes, usam do tempo para explodir e viralizar. Filmes e séries não deveriam ser virais, pois não são conteúdo, ou pelo menos não deveriam ser tratados como tal, como já dizia um sábio, felizmente, ainda vivo.

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