ENTREVISTA: Nada de Novo no Front busca comunicar a

ENTREVISTA: Nada de Novo no Front busca comunicar a

Em entrevista ao Chippu, Berger e o produtor Malte Grunert falam sobre o processo de adaptar o icônico romance anti-guerra

Guilherme Jacobs
10 de março de 2023 - 8 min leitura
Notícias

Domingo, quando Nada de Novo no Front disputar algumas categorias do Oscar 2023 (e, provavelmente, ganhar uma), o filme de guerra histórico estará, ironicamente, repetindo a história. A obra lançada em 1929 por Erich Maria Remarque, hoje considerada talvez o grande manifesto anti-guerra da literatura foi adaptada para o cinema em 1930 — como Sem Novidade no Front, dirigido por Lewis Milestone — e venceu Melhor Filme e Melhor Direção no Oscar, além de receber indicações em roteiro e fotografia.

O longa-metragem de 2022, dirigido por Edward Berger, pode não levar todas essas estatuetas (até por não estar indicado em direção), mas se provou um competidor mais ferrenho do que se esperava pelos especialistas da temporada de premiações. Se o favoritaço Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo não levar Melhor Filme, por exemplo, o longa-metragem alemão deve ser a causa.

Descrevê-lo assim — "longa-metragem alemão" revela o porque Berger e o produtor Malte Grunert resolveram encarar o desafio de adaptar, novamente, o livro. Independente do quão totêmica seja a versão de 1930 (e ela até hoje influencia filmes de guerra), ela não foi feita por um alemão, e o livro de Remarque é, do autor aos personagens, jovens que aos poucos descobrem a verdadeira natureza da guerra e perdem o espírito nacionalista que os levou até ela, uma história sobre a Alemanha, sobre seus erros, e sobre seu legado.

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"Havia um roteiro de Lesley Paterson e Ian Stokell que eles tentaram, inicialmente, produzir como um filme em inglês por mais de uma década, inclusive junto com o produtor Daniel Dreifuss, que ainda está creditado no filme, mas eles nunca conseguiram. Então quando eu e Edward recebemos a oportunidade, ficou imediatamente claro que só poderia acontecer em alemão," explicou Grunert, em entrevista ao Chippu. "O livro nunca havia sido adaptado no idioma original. Certamente, para mim, era uma das principais razões para fazer o filme."

Grunert reconhece o tamanho do filme de Milestone, que ele descreve como uma "obra-prima" feita por um de seus 10 diretores favoritos, mas a "dar uma voz alemã à uma perspectiva muito alemã da guerra, que está inundada da história alemã com o senso de culpa e vergonha e arrependimento, é muito diferente da perspectiva americana ou britânica em ambas guerras."

"Pra mim, foi a oportunidade de falar," adicionou Berger. "Nós fizemos o filme por duas razões. Foi a oportunidade de falar sobre o nosso passado, e dizer 'a Alemanha trouxe isso para o mundo e o mundo vive com as consequências todo dia' e como Malte disse temos um sentimento de vergonha, culpa e responsabilidade em relação à história, e eu pensei que eu amaria usar isso, algo que carrego todo dia, que está em meu DNA, que herdamos dos nossos ancestrais... eu adoraria colocar isso num filme e compartilhar com o mundo."

Berger disse ter tido o primeiro contato com o longa de Milestone quando tinha 17 ou 18 anos, e até hoje lembra da imagem final de um soldado e a borboleta. Depois de rever o clássico na escola, ele passou décadas sem revisitá-lo, até que, durante sua passagem no roteiro de Paterson e Stokell, ele decidiu apertar play.

Foi um erro.

"Demorou umas duas ou três semanas para eu superá-lo. Crises e crises. Eu pensava, 'por que estou fazendo isso?,'" ele disse. "Eu precisei me distanciar para superar a crise de confiança."

A resposta veio, como Grunert disse, na perspectiva única. "É uma nova adaptação. É nossa. Vai ser diferente do original, vai ser diferente do livro. Ele puxa elementos do livro, mas é nossa interpretação subjetiva, assim como a próxima adaptação do próximo cineasta," relembrou Berger.

Crises superadas, chegou a hora de fazer o filme. Basta assistir à primeira cena de batalha de Nada de Novo no Front para perceber o tamanho colossal da produção. Seja nos extras, nos figurinos, na fotografia ou na maneira como a primeira guerra mundial é recriada como fonte de caos, sangue e lama, Nada de Novo no Front alia grandiosidade com fidelidade para causar o impacto. Naturalmente, isso significa muito trabalho.

"Em algo como isso, de uma escala maior, algo no qual nossos recursos financeiros eram limitados — gravamos o filme em 51, ou 52 dias — é preciso de muito planejamento de Edward e nosso diretor de fotografia James Friend," explicou o produtor. "Eles listaram os campos, especialmente nas batalhas de sequências, para que pudéssemos realmente formar um plano, e nosso set teria exatamente a distância necessária para cada cena. Nós andávamos em cada locação para ver o timing de cada diálogo, e aumentávamos de 50 em 50 metros."

Neste processo, Grunert disse se ver como um "agregador."

"Eu não sei fazer um filme. Eu não sei construir trincheiras. E eu precisei descobrir o que mais eu não sei, e ser muito transparente e comunicar bem sobre o que eu não sei para encontrar as pessoas que sabem, para então ouvir essas pessoas. Eu acho que isso é uma verdade para a vida em geral," ele adicionou.

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Os desafios da direção de Berger, por outro lado, eram para o lado criativo. François Truffaut, lembrarão os cinéfilos, uma vez disse que todo filme sobre guerra termina sendo pró-guerra. O cineasta alemão buscou lutar contra essa noção, criando algo que te colocasse no meio do confronto bélico para que você se desesperasse e detestasse não a experiência do filme, mas sim de sua ambientação, entendendo como os erros daquilo se estendiam para além do campo de batalha e até os escritórios de burocratas.

Mencionei para o diretor como, após assistir a Nada de Novo no Front (e gostar), uma amiga minha disse ter ficado profundamente furiosa. O filme lhe despertou, acima de tudo, ira. Berger pareceu satisfeito: "Eu acho que, idealmente, tentamos fazer um filme que te dá o sentimento de uma experiência muito subjetiva e uma experiência muito física, e que te faz afundar na cadeira. Então, por cinco minutos, talvez por um minuto, ou se tivermos sorte, por uma noite, você leva esse sentimento com você e fala sobre ele.

Prêmios vieram, inclusive o de melhor filme no BAFTA, mas segundo Berger, esse é o objetivo máximo: "Essa é a contribuição que temos que fazer, mesmo que te deixe furioso com a idiotice e estupidez da guerra, e sua futilidade.

"Eu acho que isso é tudo que podemos pedir."

Nada de Novo no Front está disponível na Netflix

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