O Menino e a Garça: Dubladores revelam os bastidores da versão brasileira

O Menino e a Garça: Dubladores revelam os bastidores da versão brasileira

Teste, contratação e gravação para o filme de Hayao Miyazaki se deu faltando apenas semanas para a estreia no Brasil

Guilherme Jacobs
22 de fevereiro de 2024 - 10 min leitura
Notícias

O público brasileiro fã do Studio Ghibli passou meses na expectativa do lançamento nacional de O Menino e a Garça, filme que pode marcar a despedida de Hayao Miyazaki, diretor de A Viagem de Chihiro e Meu Amigo Totoro, do cinema. Agora, a espera acabou. Com distribuição da Sato Company, a animação estreou nas salas ao redor do país trazendo, claro, uma versão dublada em português.

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Foi um trabalho rápido e importante para os dubladores. Sempre cuidadoso com seus projetos, o Studio Ghibli teve um tratamento especial para O Menino e a Garça, que foi lançado no Japão em julho sem nenhuma divulgação além de um único pôster. Aqui, não havia chance de assistir ao filme muito cedo, ou de passar muito com os personagens para encontrar suas vozes. A distribuição brasileira pela Sato foi anunciada em 19 de dezembro, e no começo de fevereiro começaram as primeiras exibições no Brasil.

Para Arthur Salerno e Sérgio Moreno, responsáveis respectivamente pelo Menino e pela Garça, isso significou um ritmo rápido de trabalho. Eles foram contatados pelo diretor de dublagem Rafael Pinheiro em janeiro para um teste de voz, e duas semanas depois já estavam na frente dos microfones para gravar as falas de personagens que trazem com si o peso de toda a filmografia de Hayao Miyazaki.

É curioso ver como a dupla fala sobre a experiência. Veterano do mercado, Moreno não se surpreendeu com a agilidade. “Foi um processo sigiloso, vamos dizer assim, em relação ao material,” ele contou. “Há uma confidencialidade nos materiais antes que seja, de fato lançado para o público, e na dublagem a gente já tá acostumado com isso.”

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“O processo da dublagem é sempre muito rápido. A gente não tem muito tempo e oportunidade para conhecer o material muito antes, eu recebi o convite do Rafael Pinheiro para fazer a dublagem. Ele já me deu um briefing prévio, mas muito simples e muito rápido bom,” conta o homem responsável pela Garça. Para Salerno, o prazo apertado chamou atenção. “Acho que a chamada foi em janeiro e aí acho que uma semana depois eu já tinha recebido o resultado e uma semana depois disso já estava gravando o filme,” ele relata. “Então acho que foi uma coisa bem rápida, que não acontece muito, geralmente demora bastante.”

Salerno disse que recebeu o teste com informações básicas. É um filme animado feito no Japão, está indicado a prêmios e já saiu no exterior. “Acabou que eu tive um contato maior na hora da gravação, entendi a profundidade ali,” ele revela. “Foi ali que eu vi a história, sobre o que se tratava, o personagem, a trama.”

A percepção dos dois pode ser diferente, mas o trabalho de entender os personagens foi parecido. Ambos chegaram, por direção de Pinheiro, numa voz aproximada do japonês original, e para construí-la, foi preciso prestar atenção no filme. “Quando ele [Pinheiro] deu notícia ‘você passou no teste,’ então a gente começa a viver mesmo o filme,” diz Moreno, falando sobre o próximo passo da dublagem. Ele e Pinheiro passaram por O Menino e a Garça “frame a frame” e começaram a fazer gravações enquanto assistiam, às vezes voltando para uma cena duas ou três vezes.

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Não é um exagero dizer que a Garça, uma figura meio coringa que vai de adversário para aliado de uma cena para outra e tem uma voz arranhada e marcante era o papel mais específico do filme, e foi importante para Moreno trabalhar junto com Pinheiro para acertar isso. “Aí entra o trabalho em equipe, né?” ele disse. “O trabalho do diretor é muito valioso, porque o diretor é quem pegou o filme uma semana, um mês antes de mim, ele mandou traduzir, então ele assistiu, ele reviu. Ele pensou em quem poderia fazer aquele personagem.”

Em termos de encontrar a voz da Garça, propriamente dita, Moreno admite que vem de uma escola de dublagem antiga. Com 40 anos de carreira, ele acredita fielmente em se aproximar o máximo possível do original, e foi essa sua abordagem que o guiou. “Você tem que coincidir, casar com o que está no original,” explicou. “Onde eu acho que você pode dar um toque seu é na questão da interpretação, né? Porque apesar da interpretação já estar pronta, ela sugere alguma referência. Então aqui ele está bravo aqui, ele está feliz aqui, ele é sarcástico aqui, ele é introspectivo, então você acaba trazendo na sua interpretação um pouco de você."

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Para seu colega de dublagem, Mahito apresentou outro tipo de quebra cabeça. Segundo Salerno, crianças de 10 a 12 anos, idade do protagonista, foram testadas para o papel, mas tanto pela maturidade do personagem quanto para seguir o elenco japonês, a versão brasileira de O Menino e a Garça optou por alguém mais velho. Arthur tem 20 anos, dois a mais que Soma Santoki, a voz japonesa de Mahito, e isso ajudou a construir o personagem para o dublador.

“Mahito é uma criança de 12 anos. Alguém bem jovem, só que ele não era alguém infantil. Ele tinha uma personalidade bem séria bem. Quase monótono. É uma coisa meio seca. Ele é meio seco demais,” disse Arthur. “Ele vai revelando camadas de personalidade ao longo do filme, mas ele é alguém muito sério essa coisa do militar, né? Ele anda sempre bem vestido. Sempre com postura. Então era trazer a maturidade da voz, mas não deixando isso muito pesado. Não deixar a voz muito pesada, nem muito leve. Talvez isso tenha sido a coisa mais difícil.”

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Nenhum dos dois se declara um fã dedicado de Miyazaki. Salerno rapidamente lista quatro ou cinco filmes dele que gosta, e Moreno descreve o diretor como mundialmente renomado. Essa talvez tenha tirado um pouco da pressão de trabalhar no que é frequentemente descrito como o adeus de um gênio, mas ambos fazem questão de ressaltar a responsabilidade e o comprometimento com O Menino e a Garça.

Não tinha uma relação próxima dele não,” admite Moreno. "Mas sempre ouvi falar… dessa passagem surreal que ele tem com a realidade, dessas passagens de mundos e com o cuidado que ele tem com os traços dele," concluiu, descrevendo seu respeito pelo autor.

“Eu tinha mais ou menos uma noção do que se tratava, mas não sabia que era o último filme. Achava que era mais um grande filme dele, então acho que a responsabilidade veio de pegar um papel como esse num filme como esse,” adiciona Salerno. “Esse filme já estava sendo aclamado, e aqui no Brasil estava rolando uma grande comoção para ele ser lançado. Ainda por cima nos cinemas.”

Ele faz questão de encerrar destacando a importância de ter esse filme no cinema. “Ele não é um blockbuster como os outros. É massa isso vir para o cinema, é uma coisa muito legal, mostra o reconhecimento com esses produtos com essa produtora. Eu acho que talvez a pressão foi mais essa O papel que eu estava pegando e o filme e a dimensão com a qual eu estava lidando, acho que foi a maior responsabilidade, né?”

Dar voz ao protagonista de um filme amplamente considerado como a despedida de Hayao Miyazaki? Sim, é uma baita responsabilidade. Felizmente, Salerno e Moreno estavam à altura disso.

Entrevista editada para clareza.

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