Chamar a inclusão de elementos que lembram outros clássicos do Studio Ghibli em O Menino e a Garça de "referências" é, francamente, injusto. Fizemos isso no título dessa lista pela facilidade de compreensão, mas o que Hayao Miyazaki faz em seu último e maravilhoso longa-metragem é algo muito mais rico do que um simples fanservice.

O Menino e a Garça, possivelmente a despedida de Miyazaki do cinema, é um filme sobre lidar com o passado, e o que construímos com nossa vida (entenda os significados aqui). Por isso, não é de estranhar que o cineasta busque em seu histórico elementos conhecidos para então usá-los na hora de pincelar essa nova telas.

Há, claro, inúmeras imagens que trarão a mente cenas de outros filmes (veja aqui), e temas como a consciência ecológica e a criação de arte que são recorrentes na filmografia do diretor, mas a lista abaixo busca enumerar ecos. Coisas que refletem ideias e visuais que Miyazaki parece estar trazendo de volta mais uma vez para perpetuar essa proposta; O Menino e a Garça é um passeio pela sua carreira, e um ponto final num discurso que ele faz há anos.

1. Totoro e a Magia no Campo

Miyazaki sempre foi fascinado pelos campos verdejantes, árvores imponentes e céu azul do interior do Japão. Em O Menino e a Garça, Mahito e seu pai se mudam para longe de Tóquio, e lá ele descobre um ambiente mágico acessado através de pequenas aberturas, por onde é preciso se arrastar, e que guardam segredos do outro lado. É praticamente a mesma dinâmica das irmãs em Meu Amigo Totoro.

2. Chihiro e Mundo Mágico Escondido

Mas se em Totoro temos algumas poucas criaturas mágicas interagindo com o "mundo real," O Menino e a Garça coloca Mahito num mundo mágico mágico e escondido como o de A Viagem de Chihiro. Lá, além de cenas replicadas (vide os papéis), há também a ideia de uma hierarquia, com trabalhadores e líderes, e a ideia de que isso não está funcionando muito bem.

3. Princesa Mononoke e Criaturinhas

É um exagero dizer que os Warawara de O Menino e a Garça são uma referência apenas aos Kodamas de Princesa Mononoke, ou a qualquer outro grupo de criaturinhas visto em filmes como os já citados Totoro e Chihiro, ou mesmo Ponyo. Essa é uma das várias coisas que permeiam toda a filmografia de Hayao Miyazaki, e não poderia ser diferente aqui.

4. O Castelo Animado e Vovós

Hayao Miyazaki sempre destacou avós, avôs e idosos em seus filmes. De guias espirituais e a conselheiros sábios, os mais velhos frequentemente são posicionados com destaque em títulos como O Castelo Animado, Nausicaä do Vale do Vento e tantos outros. Agora um membro da terceira idade, o diretor faz questão de mostrar respeito e reverências por quem já está com os anos avançados.

5. O Túmulo dos Vagalumes e a Guerra

Geralmente apontado como o melhor filme do Studio Ghibli não dirigido por Hayao Miyazai, O Túmulo dos Vagamules é a obra-prima de seu amigo, mentor e co-fundador do estúdio: Isao Takahata. O espectro da guerra paira sobre vários filmes de Miyazaki (Porco Rosso, Vidas ao Vento) e está presente de algumas maneiras em O Menino e a Garça (poderíamos traçar um paralelo entre o pai de Mahito e o protagonista de Vidas ao Vento), mas nenhuma delas é tão forte como a ligação deste filme com O Túmulo dos Vagalumes. Da abertura durante o bombardeio de Tóquio ao uniforme de Mahito, Miyazaki faz questão de homenagear o homem cuja morte o afetou tanto.

Texto publicado originalmente em 22 de fevereiro de 2024