O Mundo Depois de Nós Explicado: O que causa o apocalipse?

O Mundo Depois de Nós Explicado: O que causa o apocalipse?

Saiba o que significam os acontecimentos do novo suspense da Netflix

Guilherme Jacobs
8 de dezembro de 2023 - 8 min leitura
Notícias

Se você assistiu a O Mundo Depois de Nós na Netflix e se sentiu tão confuso quanto os personagens (interpretados por atores como Julia Roberts, Mahershala Ali, Ethan Hawke e Myha'la), não se preocupe. Essa é a intenção. Não só a própria Netflix resistiu divulgar muito o filme, e lançou trailers e pôsteres que focam quase inteiramente nos acontecimentos dos primeiros 30 minutos da história, como a própria narrativa é desenhada para te manter apreensivo e pensando.

O Mundo Depois de Nós é adaptado do livro homônimo de Rumaan Alam, que foi lançado em 2020, durante o auge da pandemia do COVID-19, e parecia ser profético. Tratando de um misterioso apocalipse, a obra tem paralelos bizarros com a atualidade, e isso continua no filme. Mas o que causa os eventos da história?

O texto depois da foto abaixo contém spoilers do filme O Mundo Depois de Nós, assim como do livro. Se quiser ler sobre o filme sem spoilers, clique aqui para nossa crítica, que não entrega as surpresas.

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O que está acontecendo? Entenda o O Mundo Depois de Nós

No filme, as famílias de Amanda (Roberts) e G.H. (Ali) passam por uma série de eventos estranhos. Primeiro, Amanda e sua família veem um navio cargueiro partir em linha reta para a praia, depois celulares e televisão perdem o sinal, um apagão deixa Nova York no escuro e por aí vai. A primeira pista é que tudo faz parte de um ataque cibernético. Quem está por trás?

No livro, a natureza exata dos acontecimentos é deixada mais aberta do que no filme. A intenção de Alam era que o leitor preenchesse esses buracos com sua imaginação, meio que inserindo ali o que ele achava que fazia mais sentido. A proposta do autor era muito mais mostrar como as divisões da nossa sociedade nos deixam mais vulneráveis a algo assim do que explicar, tintim por tintim, o que estava rolando.

No filme, a proposta é parecida. Nunca vemos a mente por trás dos eventos, e nenhum grupo assume responsabilidade, mas o diretor Sam Esmail planta pistas o suficiente para entendermos. G.H. é a chave: ele trabalha no mundo de finanças e seu principal cliente é da área de defesa militar. Ele conta duas histórias que parecem se encaixar com o tal apocalipse. Na primeira, G.H. explica para Amanda que esse cliente misterioso, outrora um piadista, pediu para que todo o seu dinheiro fosse movido para contas fora dos EUA, com pressa, logo antes de tudo isso começar.

Na outra, ele conta para o personagem de Hawke sobre a maneira mais eficiente, financeiramente, de desestabilizar uma nação, um plano de ação que ele estudou e que assustava muito seu cliente. São três passos.

  • 1) Você isola a nação em questão, bloqueando suas estradas e desabilitando a comunicação.
  • 2) Depois, é hora de gerar confusão, plantando informações incorretas sobre os responsáveis pelo ataque e criando distrações assustadoras.
  • 3) Se tudo isso der certo, o último passo acontece sozinho, e os próprios cidadãos se voltam um contra o outro, elevando esses conflitos até uma guerra civil que derruba o governo.


Isso tudo é visto no filme. Os ataques cibernéticos derrubam a internet, satélites e linhas telefônicas, além de hackear computadores de carros com piloto automático como Teslas para bloquearem avenidas e de navios para encalhá-los. Depois, drones divulgando panfletos de "grupos terroristas" em diversos idiomas confundem os americanos, assim como notificações estranhas nos celulares. Por fim, conflitos armados começam pelos EUA.

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Quem, ou o que, causa o apocalipse em O Mundo Depois de Nós?

Primeiro, chamar de apocalipse é um exagero. Não sabemos se os acontecimentos em questão também rolaram fora dos Estados Unidos no mundo do filme. Pode ser "apenas" um ataque direcionado ao país com o intuito de desabá-lo de vez. Isso nunca é explicado.

Também nunca é revelado quem, ou o que, está por trás. Uma pista parece surgir quando um personagem menciona que toda a delegação russa em Washington foi embora dos EUA alguns dias antes, mas isso pode ser apenas um ato de autopreservação. Se há alguma nação, organização ou outra coisa (Inteligência artificial? Aliens?) por trás, nem o livro nem o filme nos dizem.

A razão disso é clara: a intenção da história é virar o espelho em nossa direção. G.H. diz que esse plano de ataque só funcionaria numa nação dividida social e politicamente, algo representado pelos preconceitos de Amanda. É difícil apontar para um país grande no Século 21 que não se encaixe nessas circunstâncias. O filme traz mais detalhes que o livro, mas a proposta principal é a de nos deixar assustados pelo fato de que esse desastre não precisa de robôs ou armas nucleares: basta que não confiemos mais uns nos outros.

É uma ideia válida, que deixa o filme mais interessante do que um drama distópico tradicional. De fato, Esmail comunica seus temas de forma pedante às vezes, com discursos e interações resumindo muito claramente as ideias de ruptura social que permeiam o filme.

Ainda assim, graças ao calibre dos atores (Roberts e Ali em especial), o peso da ideia ainda é bem comunicado, e é difícil não se sentir assombrado com os claros paralelos da história com nosso cotidiano. Nós estamos numa situação que pode, facilmente, ser transformada na história do filme. E essa é sua missão. Mais do que revelar quem ou o que está causando o fim dos Estados Unidos, Esmail quer pontuar os sintomas que permitiram isso para começo de conversa.


Explicando o final de O Mundo Depois de Nós

A última cena do filme mostra a filha de Amanda, que passa o filme todo frustrada porque a queda da internet lhe impediu de ver o último episódio de Friends, encontrando o bunker de um vizinho de G.H. onde parece haver comida e recursos suficientes para viver por anos. Mais do que isso: há o suficiente para se divertir, já que a coleção de filmes e séries em DVD e Blu-Ray é enorme.

A cena também nos mostra o computador do bunker reportando a emergência que está acontecendo e revelando que ataques armados à Casa Branca já começaram, no que sem dúvidas vai lembrar as audiências dos eventos de 6 de janeiro de 2021 em Washington, nos EUA.

Mas o momento parece querer oferecer uma dose de leveza no que é, na maior parte, um filme tenso e profético. Além disso, essa é uma chance do diretor Sam Esmail inserir um leve comentário em defesa da mídia física (e na Netflix, ainda mais!): no fim do mundo, talvez essa seja a única forma de você assistir ao que ama.

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