O Oscar foi trágico. E não só pelo tapa

O Oscar foi trágico. E não só pelo tapa

Desinteresse nos cineastas e no público mostra uma Academia cada vez mais voltada apenas para si

Thiago Romariz
29 de março de 2022 - 4 min leitura
Notícias

Esqueça o acontecimento Smith/Rock. Tapa à parte, já podemos dizer que o Oscar 2022 foi uma das piores cerimônias dos últimos anos - e não só pelo formato, mas pelos prêmios também. O grupo de indicados era melhor que o dos vencedores. No Ritmo do Coração é simpático, mas não chega perto do que Ataque dos Cães, Drive My Car, Licorice Pizza ou Duna são. Will Smith e Jessica Chastain ou eram os últimos e penúltimos em suas categorias. Isso para não falar do roteiro original para Belfast; ao menos Jane Campion levou de direção. É fato que o Oscar nunca foi conhecido por ser exemplo de bom gosto, mas ao menos ele era sobre cinema - algo que o evento de 2022 passou longe de ser.


O Oscar não sobreviverá sem a internet e os organizadores continuam a ignorar isso. Não, não vale contar os vergonhosos prêmios do público com votação no Twitter. Essa atitude só mostra quão atrasados estão os produtores do evento, repetindo fórmula que foi testada por outros eventos na década passada. No fundo, a cerimônia é um reflexo de um séquito da indústria do cinema que insiste em fazer de uma celebração uma festa da firma cada vez mais fechada, com menos tempo e espaço para os vencedores, dando mais foco nos apresentadores e hosts do que nos cineastas, cheia de (duvidosas) piadas internas e autopromoção sem o menor contexto para audiência global - não existe espaço para cinema, nem para renovação de audiência. Parece muito com a ignorância com a qual o cinemão lida com streaming - diminuindo as obras, a distribuição e até a arte dos colegas ali envolvidos. O que eles parecem não entender é que o cinema não é só sobre quem faz, mas também e principalmente sobre quem assiste.


A real é que o Oscar (e boa parte da indústria) simplesmente não ligam para o consumidor ou para a renovação de audiência - basta para eles uma sessão interna, um afago do colega, o glamour do tapete vermelho desbotado. Antes, o público queria, sonhava em fazer parte da firma, hoje parece só uma corporação gigante deslocada no tempo. Ninguém quer trabalhar nem ir pro happy hour dela. E nessa toada, o cinema de Hollywood se afasta do povo, do consumidor global e se torna não só elitista como retrógrado; literalmente o caminho oposto das plataformas de streaming. E isso não quer dizer que o cinema está morto, só quer dizer que quem o comanda vive 20 anos no passado e se nega a entender as mudanças que vêm com o tempo. Como o Phil Burbank de Cumberbatch, o melhor personagem do ano, incapaz de entender seu lugar numa casa que mudou e foi tomada de assalto por novos costumes. Esperemos só que o fim não seja o mesmo para ambos.


O Oscars 2022 aconteceu na noite do último domingo (27) e premiou No Ritmo do Coração como Melhor Filme. Duna levou seis estatuetas e outros filmes, como Ataque dos Cães, Amor, Sublime Amor e King Richard também foram premiados. Veja a lista completa de vencedores aqui, e veja onde assistir aos filmes premiados aqui.

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