A manipulação de Sauron (Charlie Vickers) é o tipo de coisa que se adequa mais ao ambíguo, ao abstrato. Estamos falando, afinal, de um poder que se move através de tentação, mentiras e sugestões. Esta não é uma narrativa com alguém usando poderes coloridos para hipnotizar alguém, ou coisa do tipo. O Senhor Sombrio é como o próprio Satanás bíblico, um agente operando nas entrelinhas e se aproveitando dos piores impulsos de suas vítimas. Assim, mostrar como ele fez para que Celebrimbor (Charles Edwards) forjasse os Anéis de Poder significava um desafio para a série de O Senhor dos Anéis.

Afinal de contas, o nível do texto precisava ser tal que Sauron parecesse sagaz sem que Celebrimbor, e outras figuras enganadas pelo vilão, pareçam idiotas. A decisão dos showrunners J.D. Payne e Patrick McKay de diminuir o número de episódios e não colocarem todos os núcleos em todos os capítulos auxilia nesta missão, já que limita o tempo gasto em Eregion e, portanto, diminui as oportunidades de tropeço, mas só um roteiro eficaz e afiado garantia o sucesso dessa empreitada. Neste quinto episódio, essa aposta, que já havia começado a se pagar desde que Sauron tomou a forma de Annatar, já passou a ter um saldo positivo, já que vê-lo navegar as dúvidas, imprevistos e suspeitas dos elfos figura entre as mais empolgantes encenações da série até então.

Vickers, eu diria, segue aquém do material, muito por ser pouco dinâmico como ator e pouco oferecer em termos de carisma e charme para justificar a forma como ele cativa aqueles ao seu redor. Mas preciso admitir, sua abordagem está virando uma espécie de quadro em branco na qual outros personagens podem jogar suas expectativas e isso, quer por mérito da série ou quer por um acidente feliz, compensa a falta de um tom ardiloso no intérprete. É no texto, porém, que Anéis de Poder precisa ser muito elogiada.

O quinto episódio é o primeiro desde que os Sete Anéis dos anões foram forjados a mostrar os efeitos deles em Khazad-Dûm, onde o Rei Durin (Peter Mullen) usa o artefato para encontrar caminhos não explorados na montanha, trazer a luz do sol para seu reino e assim não só resolver a crise de alimentos lá como também atrair outros senhores anões para usar os anéis, desde que estes, assim como os cidadãos de Khazad-Dûm, paguem uma alta taxa para o governo. A princípio, o efeito dos Anéis é sucesso e prosperidade como foi em Lindon, mas quando Durin começa a instituir esses impostos e muda sua personalidade, Durin IV (Owain Arthur) e Disa (Sophia Nomvete) passam a se preocupar, e com razão.

Durin IV leva isso até Celebrimbor, e esse relato, combinado com a visão de uma de suas assistentes entrando no Mundo Invisível e aterrorizada pelo que vê lá (incluindo, sem que ela saiba, a verdadeira forma de Sauron), deixam o elfo relutante em fazer os anéis para os homens. Ele, então, suspeita que Annatar pode ser responsável por isso.

Então, enquanto Elrond (Robert Aramayo) finalmente chega até Gil-galad (Benjamin Walker) para alertá-lo do que se passa em Eregion e Galadriel (Morfydd Clark) recebe a oferta de uma aliança com Adar (Sam Hazeldine), Sauron tece sua teia, e consegue fazer Celebrimbor culpar sua própria decisão de mentir para Gil-galad pelo dano causado aos anões. É, para dizer o mínimo, uma jogada de mestre, e uma que a série consegue justificar tão bem quanto o próprio senhor das sombras. As melhores séries levam a si mesmas para um beco sem saída no texto, e então escrevem até solucionarem o problema que elas mesmas levantaram. A dança de Sauron entre os elfos está sendo, até aqui, a parte mais intrigante de Anéis de Poder justamente por constantemente abordar esse vai-e-vem.

Semelhante ao que aconteceu em Lindon, em Khazad-Dûm o anel de poder de Rei Durin se prova eficaz, mas aqui os efeitos de seu uso serão sentidos mais rapidamente, já que a escavação ao fundo da montanha inevitavelmente revelará o Balrog que, como já sabemos, espera pelos anões lá. A queda desta sociedade será de partir o coração, especialmente dado o quão simpáticos atores como Arthur e Nomvete constantemente se provam, e preciso admitir que já torço pelo bem-estar de ambos personagens. O casal Durin e Disa é um prazer de assistir.

Mas falando em queda de sociedades, Númenor iniciou neste capítulo sua caminhada em direção ao fim com Ar-Pharazôn (Trystan Gravelle) tomando de vez o lugar de Míriel (Cynthia Addai-Robinson) no trono, e junto com Eärien (Ema Horvath) e seu filho, o detestável Kemen (Leon Wadham), caçando os seguidores da antiga rainha, incluindo Elendil (Lloyd Owen) e Valandil (Alex Tarrant), que termina o episódio apunhalado pelas costas. Sua morte vem numa boa cena, onde temos a satisfação de ver Valandil quebrando o braço de Kemen antes que ele o mate, e o momento anterior onde ele e outros soldados insistem em saudar Elendil como Capitão também é eficaz, mas Númenor é onde o roteiro da série cai alguns bons patamares.

Se em Sauron e nos elfos temos um texto afiado, se nos anões temos personagens divertidos, e se nos Pés-Peludos e no Estranho, ausentes nesta semana, há arcos claros em desenvolvimento, aqui temos uma tragédia anunciada que é protagonizada pelos personagens mais unidimensionais de toda a produção. Vilões caricatos e heróis ocos. Se torcemos contra o fim de Khazad-Dûm, mal podemos esperar pelo fim de cada cena de Númenor.