O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder: Adar - Crítica com Spoilers

O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder: Adar - Crítica com Spoilers

Apresentando os orcs, terceiro episódio constrói drama na movimentação de personagens

Guilherme Jacobs
9 de setembro de 2022 - 9 min leitura
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No terceiro episódio de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, mapas são a chave. Eles revelam destinos, planos, pistas e nos fazem passear por toda a Terra-Média, e até mesmo além dela, para o reino da ilha de Númenor. Como esperado, é para lá que Galadriel (Morfydd Clark) e Halbrand (Charlie Vickers) são levados após serem resgatados em alto mar pelo capitão Elendill (Lloyd Owen), pai de Eärien (Ema Horvath) e um jovem marinheiro chamado Isildur (Maxim Baldry), um jovem com sonhos maiores. Um mapa também é o objetivo de Nori (Markella Kavanagh), determinada a ajudar o Estranho (Daniel Weyman) antes da migração dos Pés-Peludos, uma arriscada para seu pai depois do acidente no episódio passado.


E não devia ser assim? A obra de J.R.R. Tolkien é tão rica em mitologia quanto é em narrativa. Parte do prazer de conhecer O Senhor dos Anéis, e parte da riqueza deste mundo, está na fisicalidade e representação do mesmo através de símbolos, mapas e história. Quando alguém como Isildur aparece aqui, o tratamento oferecido é mais como um fato histórico do que fanservice. Ele é, afinal, uma figura importante nos anais da Terra-Média. Não há piscadela para fãs com conhecimento de seu futuro, há apenas um personagem com relacionamentos e dramas próprios, nada conectados (por enquanto) às grandes questões de Os Anéis de Poder. O enriquecimento e construção deste mundo seguem fabulosos, tanto na hora de estabelecer seus ambientes, distâncias e acontecimentos, quanto na hora de desdobrar os personagens dentro dele.


Mas voltando para os mapas, seu uso aqui — tanto pelos personagens na hora de encontrar seus destinos quanto pela própria série para nos situar geograficamente — reforça um elemento importante da criação de Tolkien. Seja nos filmes ou nesta série, o crescimento e as mudanças estão regularmente atrelados ao movimento. Dos humanos deixando suas vilas no fim do capítulo anterior à migração dos Pés-Peludos, invasão dos orcs (mais sobre isso num minuto…) e a jornada de Galadriel e Halbrand de volta à Terra-Média, estamos sempre numa espécie de travessia. Personagens como Arondir (Ismael Cruz Cordova) e a própria Galadriel estão presos e desejam sair em busca de um objetivo, seja ele metafórico ou não. Para alcançá-lo, é preciso se locomover. Um princípio central em O Hobbit ou na trilogia principal, a jornada física como representação de um arco pessoal dificilmente pode ser considerada uma proposta inédita, mas tampouco deve ser dispensada quando estamos tratando deste universo. Como nos capítulos anteriores, a questão não é reinventar O Senhor dos Anéis, mas encontrar dentro deste novas tensões dramáticas.


A série, até aqui, tem descoberto essas respostas na boa construção de personagens. Como previamente mencionado, o núcleo de Númenor — tal qual o de Khazad-dûm no episódio passado — apresenta personagens com dilemas, medos e desejos no máximo tangencialmente ligados às tramas mais consequentes, adicionando e aprofundando novas dimensões às suas personalidades, e simultaneamente fogem de um sistema binário de personagens. Os humanos da ilha, teoricamente, seriam os mais receptivos aos elfos. Na guerra contra Morgoth, eles se aliaram à luz, diferente dos homens no continente maior, e por isso receberam a ilha como um presente dos Valar. Essa, pelo menos, é a história contada por Galadriel a Halbrand. Mas quando eles se veem diante da rainha regente Míriel (Cynthia Addai-Robinson) e seus súditos, a visão da elfa é desafiada e o que é visto como presente pela sua raça é interpretado pelos habitantes como algo de alto custo. Eles derramaram sangue pelo lugar. Tanto é que Halbrand é mal visto pelos cidadãos de Númenor. Talvez com razão. Vickers é o destaque de atuação do episódio, charmoso e irônico na hora de garantir alguns dias de segurança e sombrio ao revelar o passado manchado de sua família.


Ainda em Númenor, Elendill revela ter pelo menos algum apreço pelos elfos, e não segue seus conterrâneos no ódio a Galadriel. Muito bem interpretado por Owen, cuja presença física só não é mais imediatamente marcante do que sua voz, ele é o responsável por levar Galadriel à resposta sobre o símbolo de Sauron, cujo significado parece ser o de um “X” num mapa do tesouro. Ele aponta um local e um plano. Algo deve ser construído nas terras do sul. Lá, o mal poderá existir e florescer. Eu preciso admitir, Mordor estava totalmente longe da minha mente nos primeiros dois episódios. Simplesmente assumi que o reino existia. Nunca questionei por que Galadriel e os elfos não procuraram por Sauron lá. Agora, está claro que seu surgimento será um dos grandes eventos de Os Anéis de Poder. Teoriza-se sobre a criação do lugar através de erupções vulcânicas, e teremos uma resposta em breve.


Uma coisa é certa. Isso explica a presença dos orcs nas vilas patrulhadas por Arondir e seus companheiros. Capturados pelos monstros — aqui com muito mais tempo de tela e visualmente impressionantes graças à boa mistura de efeitos práticos e digitais — os orcs instantaneamente oferecem uma qualidade infernal às suas cenas, e rapidamente se anunciam como uma ameaça letal. Arondir ainda é o menos interessante dos protagonistas, mas ele deve ganhar mais relevância nas semanas seguintes, já que ao invés de ser morto, ele é levado pelos inimigos ao encontro do elfo corrompido Adar, cujo nome é o título deste episódio. Interpretado por Joseph Mawle, sua aparição, por enquanto, foi rápida e borrada, mas praticamente garante o levantamento de perguntas ainda mais complexas. Como um elfo pode cair? O que isso significa para Arondir, alguém com uma predisposição a enxergar as coisas de maneira distinta do resto de sua raça? Lembre-se: ele não só vê os humanos com um olhar mais positivo, como está apaixonado por uma. Adar oferecerá a Os Anéis de Poder um rosto contra quem poderemos torcer enquanto uma figura como Sauron não se torna uma presença regular.


O senhor das trevas, contudo, não é o único nome conhecido na mente dos fãs. O terceiro episódio não oferece nenhuma pista sobre a identidade do Estranho, mas sua decisão de ajudar a família Brandyfoot — punidos por Sadoc (Lenny Henry) depois que a tribo descobre sobre a amizade de Nori com o forasteiro misterioso — na migração. Se Gandalf era amigo dos Hobbits, então não é um absurdo imaginar que Olórin, o nome original do mago, seria aliado dos Pés-Peludos, os antecessores de Frodo e Bilbo. Ainda é cedo demais para ter certeza, mas agora, ele também está em movimento em busca das estrelas. Para onde iremos a seguir?

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