O texto abaixo contém spoilers do quinto episódio de Obi-Wan Kenobi.

A penúltima parte de Obi-Wan Kenobi é competente, em alguns sentidos. Há uma ideia interessante ao associar o flashback de uma luta entre o Mestre Jedi interpretado por Ewan McGregor e o jovem Anakin Skywalker (Hayden Christensen) com o confronto entre os dois ao longo do episódio. Agora Darth Vader, o aprendiz continua impaciente para derrotar seu professor e isso acaba lhe custando a vitória e permitindo que o Jedi escape salvando a maior parte dos rebeldes e refugiados, contando com a ajuda do sacrifício de Tala (Indira Varma) para fugir do cerco imperial e, enfim, garantir a segurança da Princesa Leia (Vivian Lyra Blair). A memória serve como uma moldura que, pela primeira vez nesta série, procura dizer algo a mais sobre as duas figuras mais famosas de sua narrativa, comentando sobre a dinâmica de seu relacionamento e como eles se conhecem.

É difícil, porém, não terminar o capítulo com a sensação de ter visto uma tentativa fraca, e feita muito tarde, de resgatar uma história sem muito sentido no universo Star Wars. Enquanto Obi-Wan Kenobi, o personagem, tem um propósito claro em defender os descendentes de seu antigo padawan, a série que leva seu nome não encontrou, ainda, uma razão para existir. Não há tensão dramática, personagens interessantes são desperdiçados e nada de novo é dito sobre seu protagonista ou vilão. Por isso, até mesmo numa hora relativamente cativante de televisão, com o enredo propulsionado para a frente com ligações temáticas (básicas, mas estão lá) com o passado dessa saga, parece se dissolver no instante em que os créditos começam a rolar.

Depois de chegarem à base secreta do Caminho em Jabiim, Obi-Wan e Leia rapidamente percebem que estão sendo rastreados e seguidos por Vader e Reva (Moses Ingram), agora a Grande Inquisidora. O grosso do capítulo mostra Leia tentando abrir as comportas das naves e Obi-Wan e Tala segurando os avanços Imperiais. Vader recebe a oportunidade de cansar aos poucos seus adversários mas, como o jovem Anakin impaciente em vencer seu Mestre no treino, cede à pressa de garantir o resultado e decide partir para o ataque direto. Primeiro, ele envia Reva, e comete seu aparente primeiro erro. Enfim descobrimos mais do passado da personagem. Como especulado, era uma aprendiz Jedi que testemunhou o massacre da Ordem 66 e viu o próprio Skywalker matando outras crianças. Agora, ela busca se tornar poderosa o suficiente e encontrar uma abertura para se vingar e assassinar o responsável pelo seu maior trauma, e quando Obi-Wan percebe isso decide tentar virá-la contra o Lorde Sith na esperança de ganhar mais tempo para fugir do planeta.

Este segundo vilão, aliás, é mais um dos grandes desperdícios da minissérie. Os Inquisidores, como um todo, são utilizados tão bem aqui quanto os Cavaleiros de Ren na trilogia mais recente. Incompetentes ou até ausentes, eles nunca ganham um ar de ameaça ou se tornam interessantes o suficiente para justificar sua inclusão. A aparente morte do Grande Inquisidor foi só uma distração (claro, ele aparece vivíssimo em Star Wars Rebels) e as revelações sobre Reva vêm tarde demais para enriquecer seu papel. Uma ótima atriz, Ingram não havia recebido material rico para usar em sua atuação até aqui. A insistência da Disney de manter identidades e passados de personagens como segredos em suas séries tem um alto custo, como é visto aqui - ao sacrificar desenvolvimento em nome de mistérios, os roteiristas apostam que especular aumentará o interesse, quando na verdade ele seca o ar do balão. O tempo de tornar Reva intrigante já acabou.

Claro, ela ainda está viva, mas qual é o drama restante? Obi-Wan sente que ela irá atrás de Luke agora. A Inquisidora ouve a mensagem do pai adotivo de Leia revelando a localização do garoto em Tatooine. O que devemos sentir com isso? Que Luke Skywalker, responsável por derrotar o Império, está em risco? Sabemos o fim dessa história. A escolha de atrelar boa parte dessa história a Leia já havia sido fraca por sabermos o futuro da garota, mas colocar a vida de Luke como gancho para o finale? É uma decisão fraca, sem potencial dramático.

Ainda há um capítulo de Obi-Wan Kenobi a caminho, mas depois dessas semanas, a série já parece ter esgotado suas reservas narrativas, que já não eram muitas desde o começo. Nada foi agregado a nosso conhecimento de quem é Obi-Wan, de quais são seus interesses e medos, os coadjuvantes pouco serviram, e os riscos nunca se tornaram palpáveis pois sempre estiveram ligados aos gêmeos Luke e Leia. De novo, o quinto episódio teve seus momentos, uma estrutura melhor do que os anteriores, mas a essa altura, isso não é suficiente.